Sem clima: o domingo em que a direita tomou o poder em Sinop por 4 anos
13 min readEm menos de 24 horas entre a véspera e o domingo de eleição, quatro cenas em diferentes pontos de Sinop (MT), a 500 km da capital Cuiabá, ajudam a explicar o resultado da corrida eleitoral e a interdependência de forças na “capital do Nortão” de Mato Grosso, mais vetusto polo do agronegócio na rota da BR-163.
Na véspera do pleito, Marcos Vinicius Borges, um jovem legista sentenciado por estelionato e tráfico de influência, famoso nas redes sociais por sua vida de ostentação, percorre as ruas da cidade num veículo conversível de luxo estimado em R$ 450 milénio, escoltado por 14 membros de um motoclube, pedindo votos para sua própria candidatura a vereador pelo PSDB.
Na tarde quente do domingo de eleição, um armador de vigas na construção social da cidade faz, em sua folga, uma porção de concreto sob um sol escaldante diante de sua moradia, numa favela que nem nome possui, próxima ao Jardim Araguaia. Ele vai erguer um batente para proteger os bens de sua família antes de as chuvas começarem, pois sua moradia fica em um ligeiro desnível por onde a chuva verte com força no período pluviátil. À Escritório Pública, ele sorriu ao descrever que não iria votar – “Eu tô ocupado”, disse.
Próximo ao aeroporto da cidade, dois idosos e um varão na moradia dos 30 anos usam dois baldes de chuva, galhos umedecidos e um rastelo de metal para combater, de improviso e sem base, um incêndio criminoso no loteamento rústico São Lucas – repleto de chácaras e casas de madeira, vizinho a uma rancho com 4,2 milénio hectares voltados ao plantio de milho e soja. O incêndio só foi controlado graças à chegada providencial de uma chuva por 20 minutos no lugar, evitando o alastramento das chamas.
Enquanto isso, a menos de 100 metros dali, com a apuração praticamente encerrada, pouco mais de 50 militantes do PT consolam a mulher mais muito votada na disputa por uma vaga na Câmara Municipal. Mesmo com seu bom desempenho nas urnas, Graciele Marques dos Santos, a única vereadora de esquerda em Sinop, não se reelegeu.
A vaga deixada pela vereadora do PT se soma a outras sete que terão novos titulares a partir de 1º de janeiro de 2025. A Câmara será inteiramente composta por políticos de direita e acolherá o “legista ostentação” do PSDB, que pedia votos na véspera da eleição a bordo de um coche esportivo de luxo.
O resultado das urnas no último domingo (6) representou a posição de pouco mais de dois terços da população da cidade. Tal uma vez que o armador de vigas que trabalhava em melhorias para sua moradia, mais de 37 milénio eleitores – 31,5% do totalidade – não foram votar.
Um dos dilemas para Sinop é a prevenção e o combate aos incêndios criminosos. A cidade tem uma série de terrenos baldios e lavouras em seu perímetro urbano, uma vez que o loteamento rústico São Lucas, que são alvos constantes de queimadas ilegais uma vez que a observada pela Pública no domingo de eleição.
“Cá tem gente que parece que não se importa com o outro, que taca lume por malvadeza mesmo, porque todo mundo sabe do risco disso pras famílias daqui – minha mãe mora cá do lado, por isso vim correndo logo que vi a fumaça subindo”, disse à reportagem um dos homens que combatia o lume no loteamento, que se apresentou somente uma vez que Felipe.
Por que isso importa?
- A Escritório Pública está percorrendo a BR-163, entre os estados de Mato Grosso e Pará, e o município de Sinop é um dos locais dessa rota onde nossa equipe investiga uma vez que o tema das mudanças climáticas e meio envolvente vem sendo discutido nas eleições municipais. A região é extremamente marcada por lume, conflitos e desmatamento, com cidades que registram grande adesão ao bolsonarismo.
Mulher mais votada, vereadora não se reelege pelo estigma contra a esquerda
Única mulher na atual legislatura, a vereadora Graciele Marques dos Santos, a Professora Graciele (PT), está entre os oito vereadores que não se reelegeram. Pedagoga e representante dos profissionais da ensino na Câmara, ela ficou conhecida na cidade uma vez que uma defensora de pautas ambientais, feministas, LGBTQIA+ e da cultura familiar em meio ao fenômeno do bolsonarismo na política sinopense.
Não à toa, Graciele sofreu uma série de ataques e intimidações nos últimos quatro anos. “Divulgaram uma fake news que eu ia protocolar um projeto para impedir o bloqueio da BR[163], e a Câmara foi tomada, houve um monte de ofensas, havia mensagens em grupos de WhatsApp, e os manifestantes vieram, xingaram, tentaram impedir minha fala, atacaram minha assessoria e o portanto presidente [da Câmara, Elbio Volkweis] não fazia zero… nesse dia, que a gente mais precisava, não tinha um policial”, disse à Pública.
“Na eleição atual, teve gente envolvida com toda a crise pós-eleições em 2022 cá que tentou capitalizar seu papel, tentando se optar e atuando nas candidaturas de extrema direita… contamos umas dez candidaturas, incluindo a do ex-presidente da Câmara [Elbio Volkweis, reeleito em 2024], que teve envolvimento com muitas ações na era”, afirmou também.
Mesmo com o viés conservador do eleitorado de Sinop, Graciele conseguiu uma das maiores votações entre todos os candidatos a vereador, com 1.882 votos, tornando-se também a mulher mais muito votada para a Câmara Municipal em 2024.
Mas os outros dez candidatos da placa não alcançaram o coeficiente eleitoral mínimo para fazer valer seus votos. “É muito triste, sim, mas temos de comemorar o trabalho da nossa campanha, que conseguiu um resultado histórico – que nos mantém na luta, porque não podemos parar”, disse a vereadora à Pública.
Para Graciele, sua votação expressiva renova o ímpeto de manter-se ativa, defendendo pautas progressistas, mas o contexto ampliado de Sinop segue desempenado ao bolsonarismo. “Tudo que ele [Jair Bolsonaro] representa ‘colou’ muito muito cá: negacionismo em relação à vacina, o trato horroroso com a prensa, com as mulheres, com pessoas negras, tudo isso ecoa muito cá, na vida prática de muitas pessoas”, afirmou.
“As lideranças do agro cá têm muito dessas práticas, inclusive com denúncias de trabalho análogo à escravidão, uso de veneno [agrotóxico] dentro da cidade. Vemos um desrespeito sistemático ao ser humano, à vida e aos direitos humanos no exposição e na prática de grandes fazendeiros”, disse a vereadora.
Jurisperito se elege vereador à base de ostentação e polêmicas
Se a esquerda perdeu sua única representante na Câmara de Sinop, a direita avançou e dominou a “renovação” na Mansão. Entre os oito novos vereadores eleitos em 2024, aparece o legista Marcos Vinicius Borges, o Dr. Marcos Vinicius (PSDB) – mais espargido uma vez que “legista ostentação”, que desfilava em um coche de luxo pedindo votos sob a escolta de um motoclube na véspera da eleição. Ele se elegeu com menos votos que Graciele dos Santos: 1.261 votos, pois sua placa majoritária alcançou o coeficiente eleitoral.
A ficha de Marcos Vinicius Borges é enxurro de polêmicas, incluindo uma tentativa de assassinato sofrida dentro do seu escritório em Sinop. Ele já foi sentenciado por estelionato contra clientes, caso no qual alega inocência; teve sua licença da OAB suspensa por um mês, graças à sua ostentação nas redes, e defendeu um varão envolvido numa chacina de sete pessoas – incluindo uma pequena de 12 anos – em um bar de Sinop, um delito motivado por uma partida de sinuca, retirando-se da resguardo do indiciado pouco antes do julgamento do caso.
Na campanha para vereador, Vinicius Borges usou lemas típicos da direita, uma vez que a cruzada “anticorrupção”, e focou no eleitorado jovem da cidade, uma vez que observado in loco pela Pública. Ele percorreu bares frequentados pela juventude universitária de classe média e subida, fazendo panfletagem nos locais atulhados de jovens.
“Eu não uso um centavo de verba público na minha campanha! Vou trabalhar contra a devassidão, já denunciei os ‘esquemas’ na saúde do município – tá tudo na rede”, disse o candidato à Pública, durante uma de suas panfletagens em Sinop.
A prestação de contas de Borges ao TSE, porém, mostra que ele usou verba do fundo eleitoral em sua módica campanha. Ao todo, o candidato arrecadou R$ 3,2 milénio para concorrer a uma vaga na Câmara, incluindo recursos do diretório municipal do PSDB. Indagado pela reportagem sobre quais seriam os “esquemas na saúde” de Sinop, Borges não se aprofundou – “Tá tudo lá no meu ‘insta’, me segue lá!”, disse.
Porquê um típico influenciador do dedo, ele se aproveitou das redes, integrando a placa derrotada para a prefeitura de Sinop de Mirtes Eni Leitzke Grotta, a Mirtes da Transterra (Novo), de quem marido e filha foram denunciados por participação da tentativa de golpe no dia 8 de janeiro em Brasília (DF).
Um dos principais apoiadores da candidata é o ruralista Antônio Galvan, ex-diretor da Aprosoja na mira do STF por envolvimento em atos antidemocráticos durante o governo Bolsonaro.
A Pública perguntou a Mirtes e Galvan, que estavam lado a lado durante uma carreata na véspera da eleição, sobre quais eram os planos ambientais da placa, considerando-se o progresso da devastação ligada ao agronegócio na região. Tanto ela quanto Galvan disseram somente que era “um dia de comemorar a candidatura”.
Já outros apoiadores de Mirtes aderiram ao sinal do M, tanto pelo nome da candidata quanto por referência ao candidato derrotado em São Paulo Pablo Marçal (PRTB), outro que usou e abusou das redes sociais para invadir votos.
Por trás da riqueza do agro, uma ocupação sem nome
Longe da ostentação e da renome de riqueza de Sinop, existe uma pequena ocupação urbana ao lado do Jardim Araguaia, nas margens da sede municipal, que passou discreta pelo período eleitoral, esquecida pelos candidatos da cidade.
Sem nome, a favela de três ruas de solo derrotado é o lar de famílias de trabalhadores subalternos no negócio lugar, que não ganham o suficiente para alugar imóveis mais muito estruturados em outros bairros de Sinop.
“Assim, nosso problema cá é a terreno, né? Tudo é muito custoso cá, não tem exigência de trabalhar só para remunerar um aluguel de R$ 1,5 milénio. É a nossa selecção, tentar invadir um pedacinho de terreno”, disse à Pública o armador de vigas Jaílson Severino dos Santos.
Baiano de Feira de Santana, ele é mais um dos migrantes que se mudaram para Sinop em procura de melhores oportunidades de serviço. Porquê em outros municípios na rota da BR-163, a cidade atrai migrantes nordestinos devido à renome de lugar rico, com diversas empresas do agronegócio e também da construção social.
“Do que eu posso expressar, não veio nenhum candidato pedir voto pra gente cá, não. A gente sabe que nessa era sempre eles andam pela cidade prometendo as coisas, mas cá ninguém veio me pedir voto… cá a gente fortalece uns aos outros, sabe?”, afirmou Santos.
Ele disse ainda que não votaria porque estava “ocupado”, trabalhando em sua folga por melhorias em sua moradia. “Eu sempre justifico, melhor aproveitar o dia fazendo as minhas coisas cá, logo começam as chuvas… já perdi tudo cá outras vezes, a chuva invade mesmo, não é fácil. Mas a gente recomeça, não tem outro jeito. O bom cá da comunidade é que a gente é unificado, do asfalto pra lá não dão muita atenção pra gente… eu até entendo o lado deles, nós estamos free, de perdão, mas é o que a gente pode ter agora”, disse.
Na rua que divide a ocupação do bairro Jardim Araguaia, Antônio Francisco, maranhense que vive em Sinop há sete anos, tinha uma visão levemente dissemelhante daquela de Santos.
“A gente foi votar, sim, votei num vereador que esteve cá, mais por consideração mesmo, porque ele veio, não porque a gente imagina que vai fazer alguma coisa pela gente. Pra prefeito, nós votamos no que já tava… só pra gente não votar em branco mesmo”, disse, em referência ao candidato reeleito com 50,7 milénio votos, pouco mais de 68% dos votos válidos naquele dia – o megaempresário e quinteiro Roberto Dorner (PL).
Francisco trabalha há quatro anos no ramo da construção social em Sinop e vive sob a expectativa de regularização fundiária da ocupação, inclusive por ter feito melhorias em sua moradia no lugar. “Muitos moram cá não é porque quer, é porque não têm outra opção. Já morei de aluguel, mas, com quatro crianças, medicação, a comida da família, fica pesado”, disse ao lado de sua esposa, Cleide.
“Já teve oportunidade de oferecerem coisa melhor pra gente, mas teve problema, não informaram recta nossa opção, sabe? Mas a gente sabe o que pode ocorrer – que nem as outras ocupações mais ali pra cima, que o pessoal tirou um tempo detrás. Morar cá é que nem comprar um bilhete da Mega-Sena: se lucrar, tá bom, mas se não lucrar a gente já sabe do risco”, afirmou ainda Francisco.
Sinop, terreno grilada?
Porém, um caso em curso no Tribunal Regional Federalista da 1ª Região (TRF1) sugere que a superfície controlada pelo atual Grupo Sinop à margem da BR-163 seria, na verdade, “fruto de fraude”. O caso veio à tona na região por meio do veículo lugar GC Notícias, em 2018, que teria tido entrada a um relatório elaborado pela Polícia Federalista, ainda nos anos 2000, para checar a proveniência de áreas na tira da BR-163 disputadas pelo grupo com o órgão predecessor do atual Departamento Pátrio de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Ensejo em 1998, a ação segue em curso até hoje, com movimentações recentes. Em fevereiro de 2023, o juiz federalista da 1ª Vara Federalista Cível e Agrária em Sinop, Ciro José de Andrade Arapiraca, resumiu o caso uma vez que um “incidente de falsidade de título dominial”, da secção do Grupo Sinop, que foi “asilado em primeira instância e confirmado em instâncias superiores”.
Porém, o Grupo Sinop conseguiu uma vitória recente no caso, por meio de uma liminar que cancelou a “nulidade da matrícula 1717”, o registro que deu origem à cidade e que mantém secção do controle territorial do município com a empresa. A informação consta na decisão mais recente da ação em curso na Vara Federalista de Sinop, assinada pelo mesmo juiz federalista Ciro José de Andrade Arapiraca em 25 de julho de 2024.
A Pública entrou em contato com o Grupo Sinop, para saber sua posição diante da suspeita de <span class="glossaryLink" aria-describedby="tt" data-cmtooltip="
” data-gt-translate-attributes=”[{"attribute":"data-cmtooltip", "format":"html"}]” tabindex=”0″ role=”link”>grilagem a partir do caso em curso na Justiça Federalista, mas não teve retorno até o fechamento. Caso haja, o texto será atualizado.