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Uma história pouco conhecida de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, na Argentina - Mundo News
5 de Maio, 2025

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Uma história pouco conhecida de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, na Argentina

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Ação em favelas e mudança de posturas, morte também reacendeu debate sobre a atuação de Bergoglio...

Buenos Aires — A morte do Papa Francisco encerra um papado marcado por declarações firmes sobre a geopolítica mundial, protecção de minorias nem sempre bem-vindas pela Igreja, inclusão da mudança climática na agenda do Vaticano, denúncia da “globalização da indiferença” frente à crise migratória, simplicidade, aproximação com os jovens e frequentes condenações à guerra. Também traz à tona questões centrais: a participação política e social de Jorge Mario Bergoglio na Argentina, incluindo acusações de cumplicidade com a última ditadura militar, e contradições entre posturas anteriores e sua atuação uma vez que Papa, em temas uma vez que matrimónio igualitário, comunidade de divorciados e descentralização do poder eclesiástico.

Em Buenos Aires, Bergoglio esteve próximo a movimentos sociais e de direitos humanos, manteve a Igreja junto às periferias, realizou projetos sociais e teve atuação política oscilante: ora próximo ao peronismo, ora contra o maior partido prateado. Durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015), suas críticas à pobreza, autoritarismo e depravação eram vistas pela Mansão Rosada uma vez que ataques. O parelha presidencial catalogou o cardeal pároco uma vez que “director da oposição” e tentou isolá-lo.

Por que isso importa

  • Polarização com o kirchnerismo, suposta conivência com a ditadura militar, ação social em favelas e mudança de posturas do pároco Bergoglio para o Papa Francisco. Morte reacende debate sobre a atuação política e social do Papa

Para entender esse papel ativo, é necessário retroceder no tempo: compreender sua origem, o peso da Igreja Católica na sociedade argentina do século 20, a influência da Teologia da Libertação [abordagem teológica cristã que surgiu na década de 1960 na América Latina, com foco na defesa dos pobres e oprimidos] e a relação do clero com os militares. No resto da América Latina, o catolicismo também expressava preocupação com a pobreza, com figuras uma vez que do prelado católico, pároco emérito de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara.

“Bergoglio é fruto típico da Igreja argentina, fruto de imigrantes italianos de classe média baixa”, explicou à Filial Pública Veronica Jimenez Beliveau, doutora em Sociologia e Ciências Políticas. “A Igreja no país não era superior uma vez que a italiana; ser sacerdote era uma forma de subida social, embora sua vocação fosse genuína.” Segundo ela, o catolicismo prateado era integral, abrangendo toda a vida social, o que impediu o surgimento de partidos confessionais, cuja ideologia principal é baseada em uma religião. A partir da dez de 1930, o clero aproximou-se dos militares, relação que se intensificou nas ditaduras.

O catolicismo prateado também teve papel crucial em movimentos populares. “A preocupação social sempre esteve presente na Igreja, não nasceu com Francisco, e gerou tensões com o peronismo”, ressalta Beliveau.

O ex-presidente Juan Domingo Perón citava encíclicas em discursos. “Seu partido combinava populismo, conservadorismo e valores católicos, mas a democratização ulterior tentou sustar a Igreja militarizada. Essa influência só declinou nos anos 1980 e 1990, com a pluralização dos espaços religiosos”, acrescenta.

Bergoglio representa um catolicismo mais cultural do que ritualístico, em que pertencimento supera a rigidez dogmática. Sua formação jesuíta o moldou a um Papa xabregano de princípios, refletidos até em seu funeral.

Outro traço foi a rombo inter-religiosa. Camarada de um líder judeu, com quem se conectou durante protestos por melhores condições aos idosos, Bergoglio manteve correspondência e amizade em sigilo. O neto, Luis Liberman, recorda: “Ele nos ensinava a escutar uma vez que caminho para o consenso. Perdemos um líder global que nos abraçava na esperança.”

Pablo Semán, antropólogo e sociólogo da Universidade Vernáculo de San Martín (UNSAM), analisa que o papado de Francisco prosseguiu a tradição de aproximação popular já demonstrada por João Paulo II, mas inovou ao captar de forma profunda o cotidiano das periferias. Em Buenos Aires, ele atuava em favelas, contava com ajudantes trans e celebrava missas em áreas marginalizadas — prática generalidade, mas que ele pessoalmente reforçava mesmo em posições de chefia.

Segundo Semán, sua capacidade pessoal de interpretar a veras popular e imprimir modernidade à Igreja é uma marca da liderança de Francisco, que poucos têm. Sua ingressão tardia no sacerdócio teria contribuído para essa visão.

A trajetória de Bergoglio a Francisco foi marcada por continuidades — resguardo dos pobres, sátira à depravação e simplicidade — e contradições. Ampliou a agenda papal, com destaque para a encíclica Laudato si’ (2015), que denuncia a devastação ambiental e seus efeitos sociais. Defendeu migrantes e refugiados, uma vez que simbolizou na visitante a Lampedusa, em 2013.

Nas contradições, destaca-se sua postura sobre o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo. Em 2010, durante o debate prateado, Bergoglio foi um dos maiores opositores da lei de matrimónio igualitário, que considerava uma tentativa de “destruir o projecto de Deus”. Propunha direitos civis para casais homoafetivos, mas não o matrimônio. A ex-presidente Cristina Kirchner comparou a postura da Igreja à Questão. Já uma vez que Papa, afirmou: “Quem sou eu para julgar?”, defendendo o protecção de homossexuais e o recta à união social, sem mudar a fundamento solene, que rejeita as relações entre pessoas do mesmo sexo uma vez que projecto divino.

Sobre divorciados recasados, com a exortação apostólica Amoris Laetitia (2016), permitiu que sacerdotes discernissem caso a caso sobre a licença da comunidade, defendendo o comitiva pastoral, sem mudar a fundamento.

As reformas de Francisco foram vistas uma vez que progressistas demais pelos conservadores e tímidas pelos progressistas. Enquanto Bergoglio era mais confrontativo na política e conservador em costumes, Francisco apostou no diálogo e na construção de pontes, projetando uma Igreja mais ocasião e inclusiva.

Depois sua eleição, recebeu Cristina Kirchner diversas vezes no Vaticano. Até o presidente Javier Milei, que o chamara de “representante do demônio”, buscou reconciliação. Especialistas apontam que sua decisão de não retornar à Argentina se deve à vontade de evitar polarizações e reabrir feridas ligadas à ditadura.

Ditadura Argentina

O Museu Sitio de Memoria (ESMA), na Argentina, mantém vivas as histórias das vítimas da ditadura

O debate sobre a suposta conivência de Bergoglio com o regime militar (1976 – 1983) surgiu em 1999, impulsionado pelo jornalista Horacio Verbitsky, depois reunido no livro O Silêncio. Segundo Verbitsky, Bergoglio teria deixado desprotegidos dois missionários jesuítas, Orlando Yorio e Franz Jalics, sequestrados em 1976 e libertados seis meses depois.

Em 2005, o jurisconsulto de direitos humanos Marcelo Parrilli apresentou uma denúncia contra o logo pároco, que foi arquivada por falta de provas. A delação dizia que Bergoglio teria denunciado os missionários por desobedecerem ordens de se retirar de áreas populares. Investigações posteriores, e o próprio prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel, indicaram que Bergoglio teria agido nos bastidores para libertá-los.

Em 2010, no caso da ESMA, o maior núcleo furtivo de detenção, tortura e extermínio da ditadura militar argentina, Bergoglio testemunhou e confirmou ter se reunido com os ditadores Jorge Videla (1976-1981) e Emilio Massera (1976-1981) para interceder pelos sacerdotes. Quando seu nome começou a ser cogitado para Papa, Cristina Kirchner o acusou em 2010, durante a investigação de violação de direitos humanos na ESMA, de cumplicidade. Bergoglio sustentou que trabalhar com pobres era motivo de perseguição na estação.

Depois a libertação, o ditador Massera foi homenageado pela Universidade do Salvador, da qual Bergoglio era domínio, indumento que levanta suspeitas, mas também contextualiza as negociações políticas da estação. Jalics, falecido em 2021, posteriormente reconciliou-se com Bergoglio, dizendo não crer que ele o tivesse delatado. Yorio, morto em 2000, manteve acusações de descuramento.

“Em resumo, Bergoglio mandou que eles se retirassem das áreas de risco, eles se negaram e foram sequestrados. Depois, ele negociou a libertação”, explica Semán. “Se poderia ter feito mais, não sabemos. É um debate que permanece em ingénuo e merece reverência.”

Sergio Rubin, biógrafo autorizado do Papa Francisco, declarou que toda a Igreja Católica falhou ao não enfrentar a ditadura argentina, sendo injusto mostrar unicamente Bergoglio. Rubin relata que Bergoglio tentou proteger argentinos perseguidos, escondendo-os em propriedades da Igreja e compartilhando documentos pessoais para ajudá-los a fugir.

Em 2012, um ano antes de se tornar Papa Francisco, bispos argentinos sob a liderança de Bergoglio pediram desculpas por não protegerem os fieis no período de exceção, mas culparam também militares e seus “inimigos” pelos abusos.

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