AQUELES BAIRROS
2 min readFoi uma semana, aquela em que Lisboa, a romântica Lisboa descobriu “aqueles bairros“. E fê-lo através de alguma menos preparada notícia social que também não conhecia tais regiões. Não conhecia, e continuará a não saber. Vivem numa redoma, no seu mundinho, limitado, restringido, e uma vez que de repente os periferia da maravilhosa cidade onde moram, começaram a deflagrar, ficaram cheios de susto que o rastilho levasse “aquele horror credo“ para a sua porta. O susto é o mesmo que terá sentido o impreparado – é a minha crença – agente policial que disparou sobre o quidam em Cova da Moura. É um facto. Um agente da Polícia de Segurança Pública disparou mortalmente sobre um cidadão. E uma alegado. O cidadão terá desobedecido a uma ordem de paragem pela brigada policial, abalroado umas viaturas, e depois imobilizado, reagiu com violência na posse de uma arma branca. Estaria o quidam armado? Fossem quais as razões, as suspeições e as condições, aquele agente sem nome não poderia ter disparado mortalmente. Os lamentáveis e condenáveis registos de violência que se seguiram naquela secção do país, foram muito ignitados pelas dúvidas que o corporativismo permitiu que se instalassem e a pressa em justificar a normalidade do incidente com base na atitude do quidam. O que tem ocorrido com frequência em partes do país marcadas pela exclusão social, deficientes condições de vida, associadas à tomada de comportamentos desviantes, é o registo de mortes uma vez que esta, em bairros uma vez que levante, de gente uma vez que aquela.
Nem é preciso retirar a fita detrás, para que percebamos uma vez que o preconceito está quase sempre na origem destas tragédias. É também por isso que as acções de gente revoltada e injustiçada descambam em violência, promovem focos de muita instabilidade social, e provocam outras vítimas. Inocentes. O que se seguiu no país, perdão, naquela secção do país, foi que políticos de formação muito deficiente e de ensino quase inexistente, desataram a proferir barbaridades, sendo secundados por comentadores sem siso, capazes da emissão de certezas absolutas, de convicções profundas sobre o que de facto ocorreu naquela madrugada, num bairro periférico da cidade de Lisboa. O que vai continuar a ocorrer em zonas uma vez que a Cova da Moura, Zambujal e Portela de Carnaxide, é um outro país a crescer, um imenso “pasto ” para a desumanização, desigualdade, injustiça e exclusão. Porque é dessa forma que politica e polícia continuarão a olhar para aqueles bairros.
Manancial: https://noticiasdacovilha.pt/aqueles-bairros/