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Património industrial em forma de arte - Mundo News
23 de Novembro, 2024

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Património industrial em forma de arte

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O New Hand Lab tem a decorrer as Teias Criativas, conjunto de residências artísticas que desafiam os criadores a apresentarem peças inspiradas nos lanifícios, mas que...

Ao som da chuva da Ribeira da Carpinteira, que corre lá fora, e que outrora alimentava a tinturaria e o remate da Fábrica Estrela, entre urdideiras, teares mecânicos, bobinadeiras, a catalã Sonia Benítez, de 42 anos, faz uma viagem ao pretérito para gerar uma peça que preserve a memória no horizonte e desenvolva novas técnicas no presente, no New Hand Lab, Covilhã.

A tecelã, rodeada de múltiplos materiais recolhidos na cidade, na Serra da Estrela e na antiga fábrica, agora um laboratório de artes, está dobrada sobre um tecido com mais de quatro metros de comprimento e 1,60 metros de largura feito no tear mecânico ao lado e vai, com toques ao de ligeiro, agulha firme na mão e o foco na tarefa, introduzindo novas abordagens e elementos à peça a que se dedicou durante o mês.

Sonia Benítez é uma das autoras selecionadas para participar nas Teias Criativas, residências artísticas para designers que vão discurso nascente e no próximo ano no New Hand Lab relacionadas com o património industrial e que pretendem fazer a ponte entre o tradicional e o contemporâneo.

Na antiga Fábrica Estrela, há 11 anos convertida num espaço de guarida de artistas residentes, sítio de visitas turísticas, morada de eventos, uma vez que espetáculos de música, ballet, teatro ou cinema, vai recebendo convidados que queiram gerar e agora promove, com o esteio da Direção Universal das Artes, as Teias Criativas, conjunto de seis residências, explicou o responsável, Francisco Afonso.

Segundo o proprietário do New Hand Lab, classificado uma vez que monumento de interesse público, à chamada concorreram 75 artistas internacionais e foram escolhidos seis nas áreas do tufting, tecelagem, manualidades com pelo, vestuário e multimédia, que à vez, durante um mês, vão gerar uma obra, fazer uma oficina com a comunidade e participar numa conversa sobre o trabalho desenvolvido.

Cá, entre maquinaria agora quase em silêncio, novelos de pelo em prateleiras, solo em cimento da antiga fábrica com cardação, fiação, tecelagem, acabamentos e tinturaria, os canos à mostra das nascentes da chuva que alimentavam o remate, fios elétricos industriais, bobines e paredes de azulejos brancos com as marcas do tempo, o pretérito não repousa. Foi resgatado para uma novidade vida.

Os criadores foram desafiados a utilizarem os materiais que encontrarem pela antiga fábrica e a incorporarem no seu trabalho esses pedaços de uma Covilhã que os anos transformaram. Símbolos de uma identidade.

Iluminada pelas dezenas de janelas gigantes aos quadrados, onde em tempos circularam 410 trabalhadores, Sonia Benítez elogia a forma uma vez que, numa cidade onde a surpreenderam as muitas fábricas abandonadas e em ruínas, se deu uma utilização artística a um espaço que deixou de ser de produção de muitos metros de tecido.

Habituada a trabalhar num tear manual, a botar a sua geração numa teoria de sustentabilidade e a utilizar materiais da natureza, uma vez que ráfia, esparto, madeira ou objetos da serra, a teoria de reutilização agradou-lhe.

“Fiquei muito surpreendida por dentro da fábrica continuar a subsistir muito material e esse reaproveitamento está dentro da minha risca de trabalho”, disse ao NC a artista espanhola.

Segundo a autora, a peça que criou, de dimensões a que não está habituada, é uma conformidade entre o pretérito da Serra da Estrela, a transumância, a indústria têxtil da Covilhã e uma vez que pode subsistir no horizonte.

A peça utiliza os tons naturais da terreno e das ovelhas, os verdes da serra e uma risca vermelha, que destaca o movimento sazonal dos rebanhos, mas que “também pode simbolizar o caminho de qualquer existência”. Na mesa ao lado estão os objetos do estudo. Vegetalidade recolhidas, polaroids da cidade e da serra, a listagem das técnicas utilizadas, das texturas, dos materiais e o simbolismo de cada parcela da peça.

Francisco Afonso, que cresceu dentro destas paredes e passou por todas as etapas dentro da fábrica, até parar a laboração, em 2002, foi o mentor da residência de tecelagem e acentua que a teoria das Teias Criativas foi desafiar os criadores a apresentarem alguma coisa novo e único, mas que eles também estimulassem com o seu processo criativo.

“É um duelo muito grande.  Estamos quase a desafiar os limites da máquina, a testar até onde ela pode ir com a originalidade e, assim, podermos também expor que estes teares mecânicos, embora sejam antigos, também estão aptos a desenvolver outras peças”, realçou o responsável pelo New Hand Lab, a propósito da peça de tecelagem.

Modificar conceitos, contornar os padrões habituais, encontrar outras técnicas é o objetivo do projeto, sugerindo aos criadores que utilizem os materiais que encontrem pela fábrica, espaços de onde emanava o som que marcava o ritmo da cidade outrora.

A Francisco Afonso perturba-o o silêncio e o vazio de tanto espaço devoluto, satisfeito por na unidade fabril da família, onde cresceu, ter “movimento todos os dias e ela está viva”, agora com outras funções.

“Há muitos monstros abandonados na cidade. Um propósito nosso é o grito que queremos dar, de expor que nós não somos um monstro desprezado. Levante monstro está a ter vida e estamos a deixar a nossa legado, que assenta no horizonte”, sublinhou o responsável.

Francisco Afonso realça que as Teias Criativas, com um orçamento de 65 milénio euros, financiado pela Direção Universal das Artes, têm todas o tema dos lanifícios, para “lhe dar uma visão dissemelhante”.

“A fábrica parou a laboração, mas continua a ser produtiva. Estamos a dar-lhe uma utilidade e é essa utilidade que queremos transmitir, queremos que se propague e seja um fio condutor para que outras possam romper”, frisa o proprietário e dinamizador, que destaca o princípio de o New Hand Lab estar acessível à comunidade e não fechado sobre si próprio.

A discurso está a residência com a designer Cybelle Mendes e estão planeadas outras de cerâmica com crochet/tricot, com Silos, e uma de reinterpretação de uma peça têxtil, com o intuito de gerar uma obra do dedo, através de media artes.

Os trabalhos vão estar expostos na Trienal Internacional de Design da Covilhã, que começa em 21 de março, e vai depois circunvalar por uma rede de parceiros, que inclui instituições no estrangeiro, até voltarem à Covilhã, para integrarem a coleção do New Hand Lab.

Natividade: https://noticiasdacovilha.pt/patrimonio-industrial-em-forma-de-arte/

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