Assassinos de onças-pintadas: população de animais em floresta de SP cai 77% em uma década
6 min readAs onças-pintadas do Contínuo de Paranapiacaba, uma das áreas de Mata Atlântica mais preservadas do estado de São Paulo, podem vanescer se zero for feito para virar a situação. A população da espécie na região diminuiu 77% em uma dezena, segundo estimativas de pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) obtidas com exclusividade pela Filial Pública. A caça é apontada porquê a principal razão para a redução populacional.
O Contínuo de Paranapiacaba tem mais de 7 milénio quilômetros quadrados de extensão protegida e está situado no Vale do Ribeira e Tá Paranapanema, no sul do estado. É formado por um mosaico de quatro parques estaduais, duas áreas de proteção ambiental, uma estação ecológica e algumas grandes florestas particulares. Desde 2006, o projeto do ICMBio “Onças-Pintadas do Contínuo de Paranapiacaba: Identificação Individual, Estimativa Populacional e Apropriação pela Sociedade” monitora de perto a presença e o comportamento dos felinos na região.
A onça-pintada é considerada um predador de topo da ergástulo fomentar e desempenha um papel fundamental para o estabilidade ecológico da Mata Atlântica, pois regula a quantidade de presas e sua presença no ecossistema é um indicador de boa qualidade ambiental. Entretanto, a espécie está classificada porquê criticamente em risco de extinção no bioma.
Por que isso importa
- Pesquisa exclusiva mostra que quantidade de onças caiu 77% em dez anos.
- Caça ilícito é apontada porquê principal fator para explicar o sumiço dos animais.
A primeira estimativa populacional das onças-pintadas no Contínuo de Paranapiacaba foi realizada para o pausa entre 2009 e 2011. Naquele período, os pesquisadores calcularam que havia uma média de 0,66 bicho a cada 100 quilômetros quadrados. Ou seja, é porquê se existisse pouco mais de “meia” onça em uma porção de mata do tamanho da cidade de Vitória (ES).
“Já era, naquela era, uma das menores densidades populacionais mensuráveis na Mata Atlântica, porque tem momentos em que a densidade populacional fica tão baixa que não é provável medir pelos métodos que usamos atualmente”, afirma Beatriz Beisiegel, bióloga e coordenadora do projeto.
A instalação de armadilhas fotográficas é a principal forma de prezar a população de onças-pintadas. Porém, devido ao comportamento da espécie – os machos costumam ser mais “ousados”, aparecendo diversas vezes diante das câmeras, enquanto as fêmeas são geralmente mais difíceis de serem localizadas –, não é provável estabelecer o número exato de animais. Por isso, usa-se o noção de densidade populacional.
Recentemente, os pesquisadores fizeram uma novidade estimativa da população da espécie, abarcando o período de 2020 a 2023. Os resultados ainda serão publicados em revista científica e foram obtidos com exclusividade pela Pública. O oferecido é estarrecedor: há, em média, 0,14 onça-pintada por 100 quilômetros quadrados. O número é aproximado, porque a própria baixa densidade populacional da espécie torna difícil obter estimativas muito precisas.
É porquê se, para encontrar uma onça “inteira”, fosse preciso percorrer 700 quilômetros quadrados de Mata Atlântica, ou uma extensão equivalente à cidade de Salvador. A verificação ajuda a ilustrar a raridade da espécie, mas, na verdade, as onças circulam repetidas vezes em uma mesma porção da mata. Por outro lado, a densidade populacional da espécie em uma extensão do Pantanal é de muro de sete animais por 100 quilômetros quadrados, 50 vezes maior do que no Contínuo de Paranapiacaba.
Pesquisadora denuncia falta de pedestal para investigar o homicídio de onças
No início de 2024, Beisiegel notou que o masculino de onça-pintada RonRon, que tinha entre 5 e 7 anos de idade e estava no auge de sua vida reprodutiva, não aparecia nas imagens das armadilhas fotográficas desde outubro de 2023. O sumiço causou estranheza, pois o bicho raramente passava mais de dez dias sem ser flagrado por uma das câmeras e não havia nenhum sinal de seu corpo.
Ela se lembrou, portanto, de uma denúncia anônima que havia recebido meses antes: uma pessoa havia lhe avisado que o pai de uma amiga, possuinte de uma herdade nas imediações do Parque Estadual Intervales, uma das unidades de conservação que integram o Contínuo de Paranapiacaba, planejava matar uma onça que estava se alimentando de seus carneiros. A equipe de pesquisadores tentou identificar a herdade para instruir o proprietário a proteger seu rebanho e alongar a onça da região, mas não teve sucesso.
Tão logo a bióloga percebeu que o bicho mencionado pela denunciante poderia ser RonRon, ela recebeu mensagens que diziam que o bicho tinha sido assassinado. “Se um bicho desapareceu, tem altíssima verosimilhança de ter sido morto por um ser humano”, lamenta Beisiegel.
A Polícia Federalista (PF) chegou a instaurar uma investigação sobre o caso, porém, porquê o corpo nunca foi encontrado, o Ministério Público Federalista (MPF) arquivou a denúncia por falta de elementos. O MPF sugeriu que o próprio projeto de pesquisa do ICMBio ou a gestão do parque estadual deveriam fornecer provas mais conclusivas.
“Desde 2019, a gente vem perdendo pelo menos um bicho por ano. A caça é a principal explicação para a redução em mais da metade da densidade populacional das onças no Contínuo. Temos menos de 25 bichos na população, e, sendo uma população tão pequena, cada bicho caçado tem um impacto profundo para a sobrevivência da espécie”, aponta a pesquisadora.
Na terceira semana de janeiro, uma mulher assassinou uma onça-parda na Caatinga e postou um vídeo nas redes sociais, exibindo a caça. Na última quarta-feira, 22, o Instituto Brasílio de Meio Envolvente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) anunciou que identificou a autora do transgressão. O órgão aplicou três multas que somam R$ 20 milénio, por matar bicho silvestre ameaçado de extinção, por maus-tratos ao mesmo bicho e aos quatro cachorros usados pela mulher na tomada do felino.
Em 2017, uma onça-pintada foi assassinada no entorno do Contínuo de Paranapiacaba e os criminosos também publicaram um vídeo em que debochavam do bicho e comemoravam a caça.
A Lei nº 9.605/1998 e o Decreto nº 6.514/2008 são as principais legislações que tratam do homicídio de animais silvestres. As penas são aumentadas em casos de espécies ameaçadas e de crimes cometidos dentro de unidades de conservação, mas, na visão de Beisiegel, a punição ainda é muito subordinado ao necessário para coibir o homicídio das onças-pintadas.
“Quase todos os casos acabam recebendo penas leves e, na prática, são considerados crimes de menor potencial ofensivo e não geram detenção ou multas”, diz a bióloga.
A pesquisadora lembra o caso fatídico em que um vigilante do Parque Estadual Intervales foi assassinado por garimpeiros dentro da floresta em 2020. Reportagem da revista piauí traçou a história. O transgressão não foi solucionado até hoje.