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Eleições na Alemanha: o que significa o resultado e para onde vai a extrema direita - Mundo News
24 de Fevereiro, 2025

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Eleições na Alemanha: o que significa o resultado e para onde vai a extrema direita

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Partido que tem entre seus políticos uma neta de ministro de Hitler cresceu e ficou em...

De cima de um pequeno tribuna em frente a um shopping center no subúrbio de Berlim, uma candidata do partido de extrema direita teuto AfD (Opção para a Alemanha) agarrava o microfone para tentar disputar a atenção dos passantes. Sua voz, todavia, era abafada por gritos de “Toda Berlin odeia a Afd”, “Tchau, nazis”, apitos e batucadas que vinham do outro lado da rua. A polícia fazia um cordão de separação entre audiência do comício – majoritariamente homens brancos segurando bandeiras da Alemanha – e um grupo grande e diverso de manifestantes, que seguravam placas e bandeiras antifascistas. Eram duas da tarde do dia 22 de fevereiro, um dia antes das mais emblemática eleições do país desde a reunificação.

Agora, com os resultados prévios apontando para uma vitória do partido conservador CDU com 29% dos votos e, a depender das coalizões, Friedrich Merz porquê novo chanceler, a política e a economia do país devem tomar um rumo totalmente dissemelhante. Em um debate entre os candidatos dos partidos mais votados ocorrido algumas horas depois das eleições, no entanto, Merz reafirmou que não vai se associar à AfD, ainda que o partido tenha ficado em segundo lugar, com quase 20% dos votos.

A disputa veio em um momento conturbado: a Alemanha enfrenta seu segundo ano de recessão econômica, decide sobre continuar a estribar militarmente a Ucrânia na resistência contra a Rússia ou não, e o país vive o término da era de políticas públicas implementadas por Angela Merkel, que até logo vinham sendo mantidas pelo atual chanceler Olaf Scholz. A mulher ao microfone do tribuna era Beatrix von Storch, secção da flanco conservadora da AfD, neta do ministro de finanças de Hitler e amiga da família Bolsonaro. Beatrix esteve no Brasil em 2021, quando se reuniu com o logo presidente Jair Bolsonaro (PL), seu rebento Eduardo (PL-SP) e com a deputada federalista Bia Kicis (PL-RJ), segundo ela para fabricar uma internacional conservadora e lucrar aliados para o partido.

Há quatro anos, a AfD vivia um momento dissemelhante. Mais… Inglório. O partido aparecia muito raramente na mídia internacional, quase sempre relacionado a um escândalo, uma fala de conotação neonazista, um encontro com grupos radicais, ou somente porquê uma recordação incômoda de que apesar dos esforços das instituições democráticas alemãs em rememorar seu pretérito nazista e o sacrifício com homenagens, museus e monumentos para que não se repita – “Nie wieder” ou “nunca mais” se tornou um lema para o pais. É desde 2021 inclusive, que a AfD está sob vigilância do Departamento Federalista de Proteção da Constituição, por suspeita de extremismo e risco à democracia.

Mas em 2025, tudo mudou. Storch segura seu microfone destemida. Pela primeira vez desde a instauração em 2013, seu partido teve pouco mais de 20% dos votos e se torna a segunda maior força no Bundestag. Enquanto pedia que a audiência não desse ouvidos aos “malucos lá detrás” — se referindo aos manifestantes antifascistas — ela lembrou que a AfD tem o suporte de Elon Musk e diálogo descerrado com o governo Trump. Disse que o país pode ser grande novamente, assim porquê os EUA. E comemorou o indumentária de que Alice Weidel, que concorre a chanceler pela AfD, foi a única a se encontrar com o vice-presidente setentrião americano JD Vance quando ele esteve recentemente em Munique. “Somos o único partido da Alemanha que não está só internacionalmente. Muito obrigada, vice-presidente”, disse sob aplausos.

Storch defende endurecer as políticas de imigração e finalizou seu exposição afirmando que “as pessoas estão cansadas de serem confrontadas com vespeiros o tempo todo. Só queremos voltar ao normal. Queremos proteger nossas fronteiras. Queremos ter uma economia funcionando. Queremos que ‘eles’ deixem nossas crianças em sossego, com todas as suas bobagens de gênero, trans e woke”. Pormenor: Alice Weidel, a candidata a chanceler pela AfD, é casada com uma mulher, mas isso parece não ser um problema para o partido ou para seus eleitores, já que as vezes em que Weidel foi confrontada com esse indumentária, respondeu que não é queer e não levanta essa bandeira, somente está casada e tem filhos com uma mulher há muitos anos. Parece ser o suficiente e até uma boa estratégia para tirar o ranço de conservadorismo velho.

É preciso entender também que, dissemelhante da América Latina e dos Estados Unidos que têm sua extrema direita muito calcada no cristianismo e portanto totalmente atrelada às pautas morais, na Alemanha esses discursos anti gênero e anti monstruosidade, por exemplo, ficam em segundo projecto. O foco é no nacionalismo exacerbado, em retomar o orgulho da pátria, na “pureza cultural”. E nos culpados por eles pelo aumento da criminalidade, da falta de empregos e das crises econômicas e políticas – os imigrantes e refugiados, sobretudo os vindo de culturas islâmicas.

No término do comício, uma cena emblemática desse novo tempo: uma senhora em seus 70 anos, confrontou um grupo de meninos que passam segurando placas da AfD. “Que vergonha! Que vergonha!” ela grita sozinha repetidamente. É o pretérito ainda vivo, que lembra das atrocidades do nazismo, espantado com o horizonte sombrio e desmemoriado.

Friedrich Merz, que deve ser novo chanceler da Alemanha
Friedrich Merz, que deve ser novo chanceler da Alemanha

O nazismo pode voltar na Alemanha

Desde que Elon Musk começou a fazer campanha para a AfD no ano pretérito, com participações ao vivo em encontros do partido, lives conversando com a Alice Weidel no X, entrevistas a jornais alemães endossando o suporte e favorecimentos na distribuição de teor do partido em sua rede social, o mundo voltou os olhos para o partido e passou a se perguntar se existe a possibilidade real de que a extrema direita volte ao governo teuto. Mas os alarmes locais já estavam soando há mais tempo. Isso porque, de um partido pequeno, só pelos outros no parlamento, investigado pelo serviço de perceptibilidade teuto e renegado mesmo por seus pares da extrema direita europeia, a AfD foi se tornando cada vez mais popular e tem lucro cada vez mais assentos nos parlamentos. Colaborou para isso que o país entrou em recessão econômica e passou por crises políticas que levaram a rescisão do atual governo e a convocação antecipada das eleições.

A gente no Brasil conhece a receita: Insatisfação popular com o governo, o susto que vira ódio, o tal “voto de protesto”, uma boa movimentação nas redes sociais, o louvor a uma teoria utópica de pretérito, discursos violentos endossados pela “liberdade de sentença”, a designação de um grande inimigo e a imagem de outsider. Assim se ferve um caldo neofascista.

Mas existem importantes diferenças entre o regime político teuto e o brasílio que entram nessa conta.

A Alemanha é uma democracia parlamentar. Os eleitores maiores de 18 anos têm dois votos: um para um candidato de seu região e um para um partido político. O primeiro voto determina quem será o representante de cada região eleitoral. O segundo define quantos assentos cada partido receberá no Bundestag (parlamento) com base na sua porcentagem de votos. É um sistema híbrido, que combina a representação proporcional com mandatos diretos. Já o chanceler é eleito de forma indireta pelo Bundestag e precisa de maioria absoluta para assumir o incumbência. Sem essa maioria, os partidos precisam fazer coalizões, que é o que geralmente acontece. O ex-chanceler Olaf Scholz do partido SPD, por exemplo, tinha coalizão com os Verdes e os Liberais do FDP, mas essa federação se desfez em novembro de 2024 depois disputas internas, incluindo uma crise no orçamento do governo. Foi o fracasso dessa coalizão que levou à convocação das eleições antecipadas, que ocorreram sete meses antes do previsto.

Desde o término da Segunda Guerra Mundial, há ainda um convénio entre os principais partidos políticos da Alemanha de que a extrema direita não deve voltar ao poder. Por isso, se criou o chamado “Cordão Sanitário”, que isola partidos extremistas no parlamento. Essa estrutura política foi pensada justamente para impedir ou ao menos dificultar a subida de um novo Hitler. E de indumentária, desde a geração da AfD em 2013, nenhum outro partido havia feito qualquer tipo de coalizão ou parceria com ela. Até agora.

No dia 27 de janeiro, exatamente o Dia Internacional da Memorial do Sacrifício, o candidato do partido conservador CDU que provavelmente será o próximo novo chanceler, Friedrich Merz, aceitou o suporte da AfD em uma teorema no parlamento sobre endurecer políticas de imigração e asilo. O ato, que aconteceu exatamente no 80º natalício da libertação das pessoas de Auschwitz, foi visto porquê uma brecha no cordão sanitário e gerou uma vaga de protestos pelo país, críticas por secção dos outros partidos políticos e da ex-chanceler Angela Merkel, que quebrou um longo período de silêncio para reprovar a atitude do parlamentar. Merz argumentou que somente aceitou aquele suporte específico mas que nunca fez e nunca fará qualquer tipo de parceria com o partido extremista.

A questão é que, segundo o resultado provisório das novas eleições, a AfD tem agora muro de 140 assentos no parlamento, detrás somente do partido vencedor, que ficou com 196. O Social Democrata tem 113, os Verdes obtiveram 84, o partido de esquerda Die Linke surpreendeu os pessimistas e aumentou significativamente o número de cadeiras para 61. E mais: foi o partido mais votado entre jovens de 18 a 24 anos, segundo dados prévios divulgados por institutos de pesquisa alemães. Com a novidade feitio, fica cada vez mais difícil para os outros partidos manterem o cordão sanitário. E analistas políticos alemães têm indicado que a popularidade da AfD tem puxado a régua política para a direita, sobretudo com relação ao endurecimento das políticas de imigração, na tentativa de morder secção do eleitorado extremista.

Durante a última campanha eleitoral, a AfD distribuiu panfletos que imitavam passagens aéreas só de ida, “De: Alemanha — Para: País de origem”. Na secção do passageiro se lia “Imigrantes ilegais”. A data de partida era o dia das eleições federais, 23 de fevereiro. Na secção de insignificante estava escrito “Unicamente a remigração pode salvar a Alemanha”.

No entanto, em um encontro de conservadores entre Alemanha, Hungria e Estados Unidos que aconteceu em Berlim em outubro do ano pretérito e no qual me infiltrei, o Parceria Transatlântica em uma Novidade Era (Transatlantic Partnership in a New Era), foi uma deputada da CDU de Merz, Mechthilde Wittmann, que afirmou (sem apresentar dados, porque eles não existem) que o aumento da violência de gênero na Alemanha está exclusivamente relacionado ao aumento da imigração. Disse que os imigrantes da Ucrânia são diferentes, mas “outros”, se referindo aos de origem islâmica, mesmo depois de três gerações ainda não se integram, e usam mesquitas para arquitetar planos terroristas.

De isolados a “rock stars”

Uma reportagem da CNN publicada no início deste ano, relata a longa fileira de jovens que esperavam em uma noite chuvosa em Suhl, na antiga Alemanha Oriental, para ouvir um ídolo improvável: Björn Höcke, uma das figuras mais extremistas da AfD. Ele é sabido por usar terminologias nazistas em seus discursos, participar de marchas neonazistas e dar declarações porquê a de que “Essas políticas estúpidas de mourejar com o pretérito nos paralisam — não precisamos de zero mais do que uma reversão de 180 graus na política da memória.”

Perguntados sobre por que apoiavam a AfD, os jovens responderam à CNN com o lema do partido: “A transmigração é a mãe de todas as crises. Temos muitos imigrantes ilegais neste país que não estão se comportando. E acho que muitos dos problemas que temos hoje também são causados pela imigração em tamanho descontrolada”. Se tornou generalidade durante os comícios da AfD ver jovens cantando a plenos pulmões que querem “deportar aos milhões”.

Já Höcke disse à reportagem: “Se eles veem um pouco de estrela do rock em mim, tudo muito, porque os jovens precisam de ídolos assim”.

A AfD foi criada em 2013, durante a crise financeira na Europa, mormente a crise do euro. Suas raízes estão nos protestos eurocéticos, quando havia um grande receio de que a moeda generalidade, o euro, falhasse. Naquele período, tanto no espectro conservador quanto no liberal da Alemanha, representado pelos partidos FDP e CDU, havia temores de que a Alemanha perdesse sua vantagem competitiva por justificação do euro.

Foi nesse contexto que começou a surgir uma novidade força política no país, um pouco que antes não existia. Ela se formou nas margens desses partidos tradicionais. Embora o FDP e a CDU continuassem a subsistir, alguns de seus membros, que defendiam uma política fiscal alemã mais rígida e a adoção de medidas de austeridade para os países do sul da Europa, acabaram deixando esses partidos e fundaram a AfD.

Esse movimento foi fortemente influenciado por economistas neoliberais. O primeiro presidente da AfD, Bernd Lücke, com sua experiência porquê economista, defendia a teoria de que seria melhor para os países do sul da Europa saírem da zona do euro. O argumento era de que os países do sul da Europa eram “fracos”, enquanto a Alemanha era “potente”.

Por trás da questão do euro, porquê símbolo do que estava dando incorrecto na Alemanha na idade, a AfD conseguiu inserir sua própria agenda política. Com o tempo, o partido foi se radicalizando e se tornando cada vez mais xenófobo.

Uma vez que me disse em entrevista o Dr. David Bebnowski, historiador e observador social do Amerika-Institut da LMU de Munique que escreveu um livro sobre a AfD, em termos da ideologia do partido, o que se vê agora é uma espécie de mistura presentes em outras partes da novidade direita: Não há uma teoria uniforme. “Acho que a única coisa que talvez mantenha o partido uno é uma autoimagem patriótico e racista. Portanto, o susto da imigração. Mas, por trás disso, há diferentes agendas. Há integrantes muito neoliberais e orientados para o mercado, porquê os libertários, porquê a Beatrix von Storch, que também é bastante patriótico e cristã evangélica radical e Alice Weidel. E temos pessoas porquê Björn Höcke, que é realmente um fascista. Em última estudo, eles são unidos por um pouco que podemos caracterizar porquê o que Donald Trump diria, ‘make America great again’, o ‘make Germany great again’, com enormes conotações nacionalistas e, muitas vezes, racistas”.

Alice Weidel segue a silabário dos líderes de extrema direita. A economista de 46 anos, lésbica, casada com uma imigrante, ocupa a liderança da AfD desde 2022 mas é a líder parlamentar do partido no Bundestag desde 2017. Para além de suas propostas de deportar aos milhões, a AfD defende a manutenção do “freio da dívida”, ao mesmo tempo em que quer reduzir impostos. Em termos de política externa, o Opção para a Alemanha é próximo de Vladimir Putin, defende o término das sanções contra Moscou e um incisão radical no suporte militar a Kiev. O partido também advoga a retirada da Alemanha da União Europeia e que o país deve desistir os acordos internacionais subscritos a saudação do clima.

Sobre o suporte de Elon Musk, a opinião dos alemães é mais cética. Musk não é exatamente uma figura popular no país. O bilionário tem uma gigantesca fábrica da Tesla de 3 quilômetros quadrados em Berlim, que frequentemente é escopo de protestos e disputas trabalhistas. Desde a campanha de Musk em obséquio da AfD, as vendas da Tesla despencaram 60% no país.

Nesse sentido, o maior lucro da AfD com o suporte dos Estados Unidos é sua internacionalização e um lugar à mesa da extrema direita mainstream. Em três anos me infiltrando em congressos e eventos de extrema direita na Europa, eu nunca vi um membro do partido participar de uma mesa de conversa, dar uma palestra ou sequer ser mencionado. Sempre houve um constrangimento, uma vergonha por secção dos ultraconservadores europeus em ter sua imagem relacionada a um partido tão radical. Em breve saberemos se isso vai mudar com o suporte trumpista.

Finalmente, os tempos são outros. Políticos, influenciadores e autoridades se sentem à vontade para fazer saudações nazistas para o mundo todo ver. A tentativa de revisionismo histórico e da naturalização do fascismo é literalmente o Zeitgeist (espírito do tempo, em teuto).

Por tudo isso, essas eleições são cruciais para os próximos passos não somente da Alemanha, ou da União Europeia mas da extrema direita no mundo todo. O que acontece em Berlim não fica em Berlim, porquê a história já mostrou.

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