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Isis Dias de Oliveira: ex-marido busca até hoje reconhecimento de assassinato na ditadura - Mundo News
19 de Junho, 2025

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Isis Dias de Oliveira: ex-marido busca até hoje reconhecimento de assassinato na ditadura

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José Luiz Del Roio procurou respostas por quase 40 anos; promessa de correção no atestado de...

Famílias brasileiras que reivindicam novos atestados de óbitos de seus mortos e desaparecidos durante o regime militar finalmente receberam uma boa notícia: o Juízo Pátrio de Justiça determinou, em dezembro de 2024, que a desculpa da morte nos atestados de óbito das 434 vítimas da ditadura será corrigida e o Estado vai assumir a sua responsabilidade. Nos novos documentos deverá constar “desculpa morte não procedente, violenta, causada pelo Estado”, uma vez que recomendou a Percentagem Pátrio da Verdade, instaurada em 2012. Mas até agora não foi definida uma data para a entrega dos novos certificados.

“Essa reivindicação é antiga. São 40, 50 anos de espera. A CNJ reconheceu em dezembro que as famílias devem ter um novo atestado de óbito, mas a Percentagem Privativo dos Mortos e Desaparecidos Políticos resolveu que só ela deve atestar e entregar as certidões. Logo criou-se mais um caminho burocrático e até agora nenhum documento foi entregue.”, explica a jornalista, ex-presa política e militante Maria Amélia de Almeida Teles, conhecida uma vez que Amelinha Teles.

Há 30 anos, em 1995, o governo aprovou a Lei 9.140 que reconheceu que os desaparecidos políticos foram mortos pelo Estado. As famílias teriam recta ao atestado de óbito e também a uma indenização simbólica. “Eram valores entre R$ 100 milénio e R$ 120 milénio aproximadamente. Mas nós não queríamos quantia, queríamos informação”, ela diz.

Além da falta de retificação nos documentos, ainda há muito a ser explicado. Dezenas de familiares ainda não sabem quando, uma vez que, onde e em que circunstâncias seus filhos, seus sobrinhos foram mortos. Mães e pais que passaram décadas em procura de informação morreram sem saber que os matou. E nenhum delinquente foi recluso.

O caso de Isis Dias de Oliveira, que desapareceu no Rio de Janeiro em 1972, é emblemático. “É uma tragédia. Não sabemos zero”, reclama o radialista e militante político ítalo-brasileiro José Luiz Del Roio, que foi companheiro de Isis. “Queremos saber o nome dos assassinos. Queremos que eles sejam processados”. São 53 anos à procura de informações seguras.

A diploma da morte de Isis que Del Roio recebeu não traz nenhuma informação relevante. No lugar em que deveria ter a data e hora do falecimento, lugar de falecimento, desculpa da morte e nome do médico que atestou o óbito, há somente um incômodo “não consta”. O lugar do sepultamento está descrito “lugar ignorado”.

Por que isso importa

  • Há 30 anos, o Estado brasílio aprovou Lei garantindo que as mortes e desaparecimentos causados pela ditadura de 1964 alterariam as informações nas certidões de óbito, mas até hoje famílias não conseguiram praticar esse recta

Isis Dias de Oliveira, que desapareceu no Rio de Janeiro em 1972 posteriormente ser presa pela ditadura

Quase 40 anos a procura de respostas

Isis foi presa no dia 30 de janeiro de 1972 pelo Destacamento de Operações de Informação – Meio de Operações de Resguardo Interna (DOI-CODI) com outro militante chamado Paulo César Volume. “A família só soube que ela tinha sido presa porque uma amiga chamada Aurora Promanação telefonou e avisou. As Forças Armadas sempre negaram”, conta Del Roio.

Segundo o relatório da Percentagem da Verdade do Estado de São Paulo – Rubens Paiva, Isis foi acusada e julgada à sua revelia por assalto ao Hospital da Ordem Terceira da Penitência, no Rio de Janeiro, depredação de postos de gasolina onde havia cartazes de procurados políticos e assalto à dependência do banco Bradesco na rua Miguel Leme, quando foi ferida, sem seriedade. Em três processos ela foi absolvida e os demais foram arquivados por insuficiência de provas.

Foram 38 anos de procura. Dona Felícia, mãe de Isis, escreveu cartas para o governo, tentou contatos com as Forças Armadas. Nunca obteve resposta. Uma informação de que a filha estava em Londres a levou até a capital da Inglaterra. A pista era falsa. “Quando saí da última prisão, muitas famílias de mortos e desaparecidos vinham falar comigo para saber se eu tinha alguma informação”, lembra Amelinha Teles, que entrou para o PCB, foi presa em 1964 e depois em 1972, passou pelo DOI-CODI de São Paulo, pelo Presídio do Hipódromo, pela Lar do Egresso e pelo Carandiru.

Isis Dias de Oliveira, estudante de Ciências Sociais da USP, e sua mãe Felícia Nardini de Oliveira
Durante quase 40 anos, Dona Felícia, mãe de Isis, escreveu cartas para o governo e tentou contatos com as Forças Armadas para saber o que houve com a filha

“Conheci muito dona Felícia. Ela me marcou. Era uma mulher muito gulodice, participava dos nossos encontros, que reuniam famílias de mortos e desaparecidos, era assídua nas nossas manifestações, nas nossas viagens a Brasília. Ela levou essa luta até o termo de sua vida. Dona Felícia não tinha as mesmas posições políticas que a filha, mas nunca se queixou da Isis. Pelo contrário, tinha muito orgulho da congruência dela”, completa.

De negócio com investigação da Percentagem da Verdade, a morte de Isis e de mais 11 desaparecidos no dia 28 de janeiro de 1979 foi confirmada pelo general Adyr Fiúza de Castro, patrão do DOI-CODI do Rio de Janeiro, em material do jornalista Antônio Henrique Lado na Folha de S.Paulo. Em 1994, o livro Os Anos de Chumbo – A Memória Militar sobre a Repressão (editora Relume-Dumará), dos pesquisadores Maria Celina D’Araújo, Glaucio Dillon Soares e Celso Castro o general Fiúza de Castro, trouxe um prova cruel do general Fiúza de Castro sobre métodos usados para torturar presos políticos no país durante o regime militar.

Em julho de 2021, a Sucursal Pública mostrou que 19 militares acusados de crimes na ditadura – entre eles nomes do cimalha escalão do regime militar – deixaram pensões para seus familiares. A lista trazia o nome do general Fiúza Castro, que deixou duas pensões no valor totalidade de R$ 30 milénio a familiares.

O desaparecimento de Isis começou a ser investigado em 2014 pela Percentagem Pátrio da Verdade. A desfecho é que ela foi assassinada pelos militares na Lar da Morte em Petrópolis, no Rio de Janeiro, a partir da denúncia de Inês Ettiene Romeu, ativista da Vanguarda Popular Revolucionária, única sobrevivente entre os militantes que foram levados para esse lugar.

Del Roio pediu que a Percentagem da Verdade solicitasse ao Registo Pátrio uma transcrição da Informação 4.057, de 11 de setembro de 1975, do Serviço Pátrio de Informação. No documento consta que ela teria sido morta no mesmo dia em que foi presa. “Para mim ela foi morta no DOI-CODI da Barão de Mesquita, na Tijuca, no Rio. Depois eu estive lá para ver o lugar. Também fui até a Lar da Morte”, ele conta. “Quando as ossadas da vala do cemitério de Perus foram descobertas, procurei ali também”.

Durante a ditadura, 1049 corpos foram enterrados ilegalmente no Cemitério Dom Bosco, em Perus, bairro de São Paulo. Essas ossadas foram descobertas em 1990 pelo jornalista Caco Barcellos.

De negócio com a Percentagem da Verdade, Isis foi assassinada pelos militares na Lar da Morte em Petrópolis, posteriormente ser desaparecida em 30 de janeiro de 1972

“Quando eu não puder mais falar, vocês falarão por mim”

Del Roio lembra de Isis uma vez que “uma mulher corajosa que aderiu à luta contra a ditadura do regime militar por vontade própria e teve papel importante”. Ela entrou para o Partido Comunista Brasiliano em 1965, quando cursava o primeiro ano de Ciência Política na Universidade de São Paulo, deixou o PCB para integrar a Associação Libertadora Pátrio, esteve em Cuba onde recebeu treinamento de guerrilha, voltou ao Brasil, mudou para o Rio de Janeiro e lá foi presa em 30 de janeiro de 1972. Nunca mais foi vista.

Isis nasceu em São Paulo em 29 de agosto de 1941, morou com a família na Lapa, era filha de Felícia Mardini de Oliveira e Edmundo Dias de Oliveira e tinha dois irmãos. Seus pais não eram ricos, pelo contrário, mas ela pode estudar em bons colégios, fez o clássico no Santa Marcelina, aprendeu a tocar piano, também pintava, ela cursou artes na Instalação Armando Álvares Penteado. Uma vez que falava inglês, galicismo e espanhol, trabalhou uma vez que secretária bilíngue no frigorífico Swift. “Ela era uma mulher muito formosa, usava um cabelo muito pequeno, era baixa, não era muito magra. Falava com calma, era muito esforçada e culta. Gostava de pintar, quase sempre rostos de mulheres”, lembra Del Roio, que a conheceu quando ela entrou na USP e foi morar no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (CRUSP).

Em um ano estavam casados. “Eu costumava ir até o velho prédio da USP na rua Maria Antonia, às vezes ficava ali jogando xadrez. Um dia uma amiga que tinha completo de chegar da União Soviética nos apresentou. Isis queria entrar para o PCB”, conta Del Roi, que aos 22 anos já era uma importante liderança do partido. Ele começou muito cedo, aos 17, no movimento estudantil em Bragança Paulista, interno de São Paulo, onde morou. “Nós nos casamos por desculpa da família dela, só no social, em um cartório na Lapa, e fomos morar em um apartamentinho na rua das Palmeiras, 261, em Santa Cecília. Pouca gente sabia onde a gente morava. A Clara Charf e o Carlos Marighella apareciam de vez em quando. Isis não sabia cozinhar, a Clara não se conformava e tentava ensinar”, lembra, rindo.

Isis começou a trabalhar arregimentando alunos interessados em lutar contra a ditadura brasileira e ajudar na organização das manifestações de rua que o PCB promovia. Dois anos mais tarde, passou a trabalhar no cursinho do grêmio da faculdade. “Isis era prazenteiro, risonha, apesar da vida dura. Ela coordenava o curso, eu dava aulas de história grega e bizantina”, conta Del Roio. A essa fundura ela usava um codinome, uma vez que quase todos que militavam naquele período. “Isis era Fátima, ela mesma que escolheu esse nome. Tinha outros nomes, mas não me lembro mais. Eu só a chamava de Isis quando estava sozinho com ela. Também a chamava de Corujinha porque na mitologia grega a coruja representa a procura pelo saber”, explica.

Nessa quadra, eles montaram uma gráfica clandestina na rua Canuto do Val, também em Santa Cecília. “A gráfica era muito importante para o partido porque ali a gente imprimia todo o material que era distribuído para os alunos e operários nas manifestações, nas passeatas. Eram textos sobre política internacional de Ho Chi Minh, de Che Guevara, de Regis Debray. Eu e Isis também escrevíamos”.

Casório de Ísis e Del Roio em 8 de abril de 1967

Com a cisão no PCB em 1967, Del Roio rompeu com o partido e se uniu a Carlos Marighella e João Câmara Ferreira para fundar a ALN, um grupo de guerrilha urbana que defendia a luta armada contra a ditadura. Ele lembra que a ALN é conhecida uma vez que Associação Pátrio Libertadora, mas na verdade a {sigla} queria proferir Ação de Libertação Pátrio. “Eu sei disso porque estava lá. Nosso objetivo era fazer uma ação, não queríamos confederação com ninguém. Eu segui o Marighella e Câmara Ferreira, fundamos a ALN, Isis veio comigo. Foi um período difíc

No terceiro ano do curso ela trancou a matrícula e foi para Cuba, cuja revolução liderada por Fidel Castro em 1959 havia derrubado o governo do ditador Fulgêncio Batista. Lá, durante um ano, fez treinamentos de guerrilha urbana e contraespionagem. “Ela foi antes, eu fui meses depois. Tinha susto que ela caísse, mas não podia proferir isso. Durante o curso nós aprendemos a mourejar com explosivos, a fazer explosivos, aprendemos a menear armas, a atirar, uma vez que usar disfarces, uma vez que nos movimentar na cidade, uma vez que falsificar documentos”. Ela não conheceu Fidel Castro, ele o conheceu em uma cerimônia do natalício da revolução.

Em Cuba, posteriormente três anos o tálamo acabou. Isis voltou para o Brasil e foi para o Rio de Janeiro, onde voltou a viver de forma clandestina. “Eu fiquei mais qualquer tempo em Cuba e só voltei alguns meses depois da anistia, em outubro de 1979. Soube do seu desaparecimento quando estava em Lima, no Peru. Foi um choque”, relembra Del Roio. No exterior, ele passou pelo Peru, Chile, Argélia, Itália e a logo União Soviética. Em Moscou atendeu a um pedido inusitado de Luís Carlos Prestes, comunista histórico, secretário do PCB: cuidar do registro do partido, ameaçado pelas constantes buscas por segmento dos militares. Em 1977 ele conseguiu transferir o registro para Milão e desde os anos 90 esses documentos se encontram sob a guarda do Meio de Documentação e Memória da UNESP (Universidade Estadual Paulista). “Ninguém quis permanecer com esse registro. Foi uma operação complicadíssima, retirar do Brasil toneladas de livros e documentos subversivos durante a ditadura. Durante anos minha vida ficou ligada àqueles documentos”.

Del Roio lembra de Isis uma vez que “uma mulher corajosa que aderiu à luta contra a ditadura do regime militar por vontade própria”

Na Itália, onde mora até hoje, ele possui dupla cidadania, Del Roio se filiou ao Partido da Refundação Comunista e foi eleito senador em 2006 pela região da Lombardia, depois se tornou membro da Parlamento Parlamentar do Juízo Europeu, em Estrasburgo e membro da União Europeia Ocidental, em Paris. A partir dos anos 2000 ele voltou muitas vezes para colaborar com a geração da Percentagem Pátrio da Verdade.

“Mulheres uma vez que Isis são heroínas do povo brasílio”, opina Del Roio. “Nos anos 70 nós fomos para a luta contra a ditadura com a rosto e a coragem. Fomos com nossas minissaias, com nosso batom. Era o que precisava ser feito”, lembra Amelinha Teles. Desde 2012 o Meio Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais da USP leva o nome de Isis. Ano pretérito ela e outros 32 alunos da universidade receberam diplomas póstumos concedidos aos alunos que foram mortos durante a ditadura militar. Nos bairros do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, e em Macaxeira, no Recife, duas ruas também levam o seu nome. Em São Paulo, Isis Dias de Oliveira é o nome de uma terreiro que fica perto da vivenda onde ela viveu com sua família, na Lapa, inaugurada em 1999. Há uma pedra na terreiro onde está escrito: Quando eu não puder mais falar, vocês falarão por mim. De negócio com Amelinha, essa frase não é dela. Mas poderia ser.

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