Itamar Vieira Junior e seu “Sinuoso Cultivado”, uma enunciação de paixão à terreno
17 min readCom o novela Sinuoso Cultivado (Mas), que operação a conto das irmãs Bibiana e Belonísia em uma rancho no sertão da Bahia, o jornalista baiano Itamar Vieira Junior, de 41 anos, alcançou importantes prêmios literários nacionais e internacionais, porquê o Jabuti, capturado em novembro pretérito. Todavia ele garante que há coisas mais valiosas na bibiografia do que essas distinções. “Tudo que aprendi com os camponeses, quilombolas e trabalhadores rurais eu jamais trocaria por nenhum epígrafe acadêmico ou prêmio”, afirma.
Há 15 anos servidor do Incra, Vieira Junior, igualmente geógrafo, atua diretamente com questões ligadas à terreno, populações tradicionais, trabalhadores do planura e conflitos agrários. O serviço o aproximou da irmandade quilombola de Iúna, da Estalo Diamantina, com a qual realizou sua tese de doutorado pela Universidade Federalista da Bahia (Ufba).
Ele pontua que Sinuoso Cultivado carrega bem da vivência com esse e outros povos, cujos ensinamentos transformaram sua “catálogo com o orbe, com o outro”. “Sem minha tentativa de labor com as comunidades quilombolas, com a irmandade de Iúna, esse novela quiçá jamais tivesse a densidade que tem, de expor uma cosmovisão de orbe, modos de bibiografia, sonhos e histórias”, destaca.
Dessas cosmovisões vem singular dos traços mais marcantes da conto aia velo jornalista: a existência de agentes jamais humanos que coexistem no orbe com os seres humanos. Eles são tanto protagonistas quanto as irmãs Bibiana e Belonísia, narradoras iniciais da conto, e seus familiares, que cultivam relações com os encantados.
Nesta entrevista à Escritório Pública, Vieira Junior pronunciação ainda a respeito de as dificuldades de se operar no Incra debaixo de o gestão Bolsonaro – “vivemos singular instante em que estamos esgotados” – e se diz singular “otimista incorrigível”, apesar do temporada tareco que o região vive. “Vejo singular engajamento mais âmago dos movimentos indígenas, quilombola, dos sem-terra”, explica. “Acho que jamais há porquê recuar.”
Uma vez que tem sido operar no Incra debaixo de o gestão Bolsonaro? O que você enxerga em termos de modificação tão na política interna quanto na atuação institucional do órgão?
Jamais houve grandes mudanças na política interna, a gente jamais dispõe de legislação túrbido ou novas normativas. Todavia acho que, a partir de antes, no gestão Recear, já havia uma certa desaceleração na rapidez com que vinham sendo realizadas as políticas públicas voltadas ao operário rústico, ao planura. E isso se manteve. Já havia na campanha do atual presidente singular decorrer bem alvo a respeito de as suas intenções em catálogo às políticas públicas realizadas por esse órgão. Por exemplo, manifestar que jamais titularia nenhum centímetro de terreno para indígenas e quilombolas. Acho que o gestão dele tem sido congruente com o decorrer adotado durante a campanha. Somado a isso, a pandemia trouxe uma vasto complexidade para a ininterrupção de alguns negócios, e igualmente o orçamento vem sendo minguado drasticamente. Jamais é exacto a revogação de uma formalidade ou a geração de novas normativas, eminente que se retire os recursos que eram destinados àquela política para estrangulá-la. Por outro renque, acho que o Judiciário, embora jamais tenha aptidão de atender a todos, tem constrangido muitas demandas para o órgão. Por exemplo, em catálogo à política de titulação de terras para comunidades quilombolas, o Incra se tornou denunciado de algumas ações e vem recebendo muitas decisões a serem cumpridas. Jamais é o planura ajustado, a gente reconhece, todavia, na escassez de singular Executivo que realize as atividades, a Isenção está lá para atenuar conflitos e interesses. O ideal seria que o Executivo executasse as políticas públicas, até porque jamais se trata de políticas de gestão. Elas são, na veras, políticas de Situação, direitos garantidos pela Composição Federalista de 1988.
Há muitos relatos de exaustão por parcela de funcionários da Funai, Ibama e outros órgãos debaixo de insulto do atual gestão na frente das dificuldades citadas por esse desmonte que você citou. Você e seus colegas igualmente se sentem dessa arrumação?
Sinto. Vivemos singular instante em que estamos esgotados, até pelas muitas restrições de labor por operação da pandemia – as idas a planura, até para conservar as comunidades, já jamais podem ser realizadas da arrumação que eram antes. Lá disso, faltam recursos, solitário que as demandas permanecem. Os processos de regularização fundiária duram muitos anos, logo há processos abertos que jamais têm antecipado, e as cobranças recaem a respeito de a gente. Há uma frustração bem vasto porque são negócios que iniciamos há bem fase, e sabemos que, se houvesse uma política clara de gestão para satisfazer o que já estava sendo sucedido, os processos teriam antecipado. Isolado que em todos esses órgãos assumiram pessoas que têm singular alinhamento ideológico com o gestão e com o presidente da República, que fez declarações racistas, por exemplo, em catálogo às comunidades quilombolas. Tudo isso, de alguma arrumação, nos deixa frustrados e esgotados. Acho que todo orbe tem no porvir o que será em seguida. Temos esperado ansiosamente uma resolução que a gente sabe que jamais vai vir neste gestão, todavia o proporção de sucateamento é tanto violento e bravio que fico imaginando o que singular chegado gestão fará com tudo isso. Será que inválido elevar de actual esses órgãos? Será que inválido arrimar de calcante essas políticas de Situação, que têm sua causa na Composição? Acho que nosso corrosão está acolá desse gestão. Será que as forças que dominam o região – os ruralistas, os industriais – continuarão atuando dessa arrumação, impedindo que haja políticas de diminuição de desigualdades? Por que idade isso que a gente fazia na bico. Esse é singular assunto monocórdio nas nossas conversas, virou quase singular solilóquio a gente se lamentando de tudo que tem sucedido. Quando eu entrei no Incra, diria que idade singular instante de ouro – isso foi em 2005. Houve grandes contratações de servidores, foram abertas muitas frentes de políticas. Vivemos singular temporada de bem labor, e havia mais labor do que pessoas para executar. A gente sabia das dificuldades, todavia idade bem benévolo porque sabíamos que velo menos as coisas estavam acontecendo. Após, de 2016 para aqui, solitário fez encolher, encolher, até deter completamente. O que nos provoca tortura é que tudo permanece do mesmo habilidade – a legislação jamais foi modificada –, e nós igualmente somos responsáveis pela realização da política na bico. A gente sabe dos riscos que existem quando as políticas jamais são executadas da arrumação correta.
Imagino que seja singular contextura de bastante pressão, até psicológica.
Existe singular clima quiçá de acossa, de caça às bruxas. Algum coisa que você diz, corre o linha de contestar por isso. Isso é bem duro. E acho que por isso igualmente jamais há uma reação à profundeza dos servidores.
Você já disse em outras entrevistas que é singular “otimista incorrigível”. Enquanto intelectivo, jornalista e servidor público que trabalha diretamente com questões ligadas à terreno, você vislumbra singular horizonte que em alguma escantilhão traga equidade fundiária e apreço aos territórios tradicionais no Brasil? Ou estamos caminhando cada turno mais no interpretação adverso a isso?
Continuo sendo otimista apesar de todas as adversidades do instante. Vejo singular engajamento mais âmago dos movimentos indígenas, quilombola, dos sem-terra. Acho que a recado é essa: por mais que seus direitos estejam sendo vilipendiados, estão bem organizados e conscientes de que jamais inválido recuar. Por mais sombrios que nossos tempos possam juízo, fico imaginando, por exemplo, em que outra estação discutimos com a perspicuidade e aferro com que discutimos hoje temas tanto caros à composição da corporação brasileira, porquê o racismo, porquê nossa legado escravagista. Tudo isso idade debatido, todavia jamais com o massa esforço de hoje. Às vezes, podemos fitar o gazeta ou observar à TV e supor “que orbe horroroso, quanto racismo”, todavia, na veras, o que esse instante nos revela é que a gente jamais tolera mais isso. Se antes a impetuosidade idade tanto institucionalizada que passava despercebida aos nossos olhos, ou logo fingíamos jamais testemunhar, presentemente as pessoas resolveram enviar a respeito de ela, e têm falado com gravidade. Fico pensando, por exemplo, nas políticas de cotas que permitiram o ingressão maciço de estudantes de classes sociais mais baixas e negros nas universidades públicas. Essas pessoas estão se formando, deixando as universidades ou mesmo permanecendo nelas com estudos acadêmicos. E estão na risca de dianteira da construção de singular juízo mais humanista no Brasil. Apesar de tudo que temos pretérito, sou bem otimista. Acho que jamais há porquê recuar. Esse instante é singular acidente histórico que estamos enfrentando, porquê as pessoas enfrentavam as guerras e tantas outras coisas adversas no pretérito.
Sua tese de doutorado foi feita com a irmandade quilombola Iúna, da Estalo Diamantina (BA). Pode-se manifestar que Sinuoso Cultivado foi influenciado velo que você viu e aprendeu com os quilombolas?
Sinuoso Cultivado é uma teoria que nasceu bem antes, há mais de 20 anos. Continuamente digo que operar no Incra, para mim, é singular posse, porque, apesar da minha linhagem paterna haver causa no planura e dessas memórias serem compartilhadas em moradia, eu nasci e cresci na cidade. Portanto minha catálogo com o planura idade quase imaginário. Obrar no Incra me deslocou desse sítio e me levou ao colisão dessas memórias familiares. No lida de me requintar e operar melhor, existia a eventualidade de nós, porquê servidores, nos qualificarmos durante o temporada do labor, e minha tentativa com os Iúna nasceu assim. Eu já acompanhava singular sistema de regularização fundiária acolá e pude conviver com eles durante três anos – jamais foi a única irmandade, foram várias ao comprido desses anos, porque cada servidor trabalha com inúmeras. Os Iúna me permitiram uma peregrinação e singular imersão na vivência quilombola de arrumação tanto intensa que, sem incerteza, tudo que aprendi com eles de alguma feição atravessa o novela. Sem minha tentativa de labor com as comunidades quilombolas, com a irmandade de Iúna, esse novela quiçá jamais tivesse a densidade que tem, de expor uma cosmovisão de orbe, modos de bibiografia, sonhos e histórias.
Uma das marcas mais importantes de Sinuoso Cultivado é a clamor e o extensão que a conto concede a seres jamais humanos. Quando você começou a levá-los a direito? Uma vez que a sua própria bibiografia foi afetada por essa ontologia, a matéria de expressá-la tanto intensamente no novela?
Quando comecei a operar no planura, meu esforço em perceber o cosmos dessas comunidades já me acompanhava. Comecei a operar no Incra no Maranhão, passei três anos acolá – nessa estação, acompanhava projetos de gentileza no planura –, e aí tive meu avante contato com comunidades indígenas, quilombolas e trabalhadores acampados e assentados da regeneração agrária. Me lembro que mergulhei profundamente na arrumação de inferir o cosmos, o orbe dessas pessoas. Passei a frequentar, por exemplo, em São Luís, a Mansão de Fanti Ashanti, [casa de candomblé] comandada velo fundador Euclides [Menezes], já falecido, e cheguei a prescrever singular contato de simpatia com ele; mesmo em seguida que voltei para a Bahia, falava com ele velo telefone. Dando prolongação a isso, comecei a explorar antropologia, que foi uma guinada em minha bibiografia, por me admitir perceber porquê me acercar dessas pessoas, me desnudar de valores e tentar inferir a bibiografia a elanguescer da perspectiva do outro. Trocaria todos os meus títulos acadêmicos e até mesmo os prêmios por tudo que aprendi com esse meu labor, com os trabalhadores com quem pude conviver. Esse foi meu fidedigno aprendizagem – e muitas pessoas acham clichê, todavia porquê sou jornalista, apetite do peso das palavras: submergir nesse região âmago, vivo, pulsante, que ainda retém resquícios de singular pretérito bem afecção determinado. Para mim, isso mudou tudo, minha catálogo com o orbe, com o outro. Esse aprendizagem é transformador, abolicionista. Me deu consciência de bibiografia, de conto, de identidade – um tanto de que pouco se falava há bem fase. Fui ganhando essa consciência rigorosamente por operação do meu labor.
A sua captura de consciência enquanto indivíduo negra foi se dando ao comprido do contato com esses povos?
Os indícios já estão nos documentos oficiais: na minha certificado de princípio, apareço porquê uma indivíduo parda, todavia isso idade pouco debatido em moradia, na corporação. Durante bem fase, acolhemos a teoria de mestiçagem e de democracia racial sem controverter, a jamais ser no coração dos movimentos sociais, do deslocação preto. Achar a minha conto antepassado, a conto dos meus ascendentes, apenso ao turba com quem labor, foi transformador, porque me deu singular sítio que eu ainda jamais tinha no orbe. Se conferir é porquê se você se olhasse no espelho e reconhecesse cada linha, a causa, o que você é, os processos históricos que te trouxeram até cá, que te fizeram conquistar a arredores da cidade, por exemplo, e o que te foi contestado ao comprido da bibiografia. Por isso que digo que tudo que aprendi com os camponeses, quilombolas e trabalhadores rurais eu jamais trocaria por nenhum epígrafe acadêmico ou prêmio, porque realmente a minha convívio entre eles foi e continua sendo libertadora – ainda convivo entre eles, esse ainda é meu precípuo labor. Isolado sou jornalista nas horas vagas.
Uma vez que você consegue adaptar o labor porquê servidor público com a caligrafia?
É uma bibiografia que é solitário isso: labor e caligrafia. Quase jamais tem bibiografia civil, férias. Todavia são escolhas, e escolhas a gente jamais sabe nem por que escolheu. Às vezes a gente é orientado pela vocação mesmo. Diria que meu labor no Incra jamais começou com uma vocação, todavia se tornou uma vocação velo que eu observo e encaro da influência dele porquê função. A literatura é um tanto bem mais ancião que vem da puerícia e quiçá seja a vocação primitivo. Todavia aprendi que idade impossível, no nosso região, existir de literatura, haver alguma estabilidade. E igualmente jamais é zero que ocupe singular sítio precípuo na minha bibiografia. Se você me solicitar se tenho projetos, tenho projetos, todavia jamais me obrigo a grafar incessantemente. Já o labor é quotidiano. Ser servidor público tem singular renque bem poético, porque é servir ao turba e ao seu região para atenuar e sentenciar problemas que nos afetam sobremodo. Quem jamais está no planura jamais imagina porquê a sua bibiografia pode ser afetada pela escassez de políticas públicas para o planura. O sustento que chega à nossa banca é o sustento do curto e meão lavrador familiar, o latifúndio produz commodities, bens para exportação. A nossa estabilidade nutrir – do opulento e do mendigo, do claro e do preto – passa velo planura do Brasil.
Em uma das passagens de Sinuoso Cultivado, Belonísia operação que os moradores de Chuva Negra se identificavam porquê indígenas, porque “mesmo que jamais fosse respeitada, havia formalidade que proibia abrir terreno de índio”. Em planura, você viu esse deslocamento de identidade intercorrer com comunidades quilombolas?
Com asseveração, durante bem fase eles fizeram esse deslocamento. A legislação para congratulação de territórios indígenas terminou ficando bem engessada. Jamais se considera uma bibiografia túrbido de uma bibiografia aldeada porquê uma bibiografia crioulo. Vi o deslocação oposto igualmente: no apogeu da política de regularização fundiária de territórios quilombolas, vi comunidades com causa crioulo se reconhecerem enquanto quilombolas. Uma indivíduo leiga pode considerar que isso é singular vestígio de hipocrisia, de ludíbrio, todavia jamais, a identidade é um tanto que está em constante transformação, é circulante. Tão que acho o término “identidade” bem estável, prefiro enviar de identificação. As pessoas normalmente têm uma quimera bem pueril desses processos, acham que em comunidades quilombolas inválido achar unicamente pessoas negras, que jamais se miscigenaram com outros povos. E isso é bem reducionista, porque o que importa são os processos que levaram aquelas pessoas até lá. Ou logo pensam que uma irmandade quilombola é singular sobra de antes da extermínio da escravatura. E isso é altamente excludente com comunidades que se formaram rigorosamente porque jamais houve uma política de restauração apenso à extermínio. Aqueles trabalhadores que jamais poderiam mais ser escravizados permaneceram errantes ou permaneceram na bibiografia em que já estavam, se sujeitando à precariedade do labor sem salário, o que continua até os nossos dias.
As discussões a respeito de o Antropoceno – temporada geológico em que as ações humanas passaram a ser o precípuo fator de transmutação ambiental do astro – têm ganhado vontade incluso e excepto da liceu, e os saberes dos povos tradicionais têm sido encarados porquê opção ao exemplar de propagação vigente hoje. Por que, na sua opinião, a valorização desses saberes é tanto improrrogável? Qual o papel das cosmovisões desses povos – porquê os Iúna, com quem você trabalhou – na desavença por transmutação civil?
No ano pretérito, fiz muitos eventos virtuais com o Ailton Krenak – singular posse orar com ele, é singular rabino –, que algumas vezes fez críticas ao concepção de sustentabilidade: disse que sustentabilidade é ofertar singular verniz numulário à exploração e falou da surgimento do concepção de “justiça”. Mesmo passando por singular sistemático projeto de aniquilação, os povos preto e indígenas sobreviveram a 500 anos de exploração. E o que permitiu que eles sobrevivessem a toda essa catástrofe destruidora? Esse deve ser o nosso maior foco quando olharmos para os saberes tradicionais. O concepção de “justiça”, em comutação a “sustentabilidade”, é isso: fitar para agentes humanos e jamais humanos da mesma feição. É haver singular tino de justiça para tudo aquilo que precisa ser considerado, a terreno, a selva, os rios, os animais, os povos. Esse tino de justiça é o fidedigno juízo humanista do nosso fase. É ele que devemos acuar para termos uma corporação menos desarmónico e mais igualitária, para que todos tenham aproximação à terreno, a moradia, a provisões. Essa deve ser a nossa quesito precípuo.
Embora tenha personagens masculinos fortes, as protagonistas de Sinuoso Cultivado são mulheres. Por quê? De que arrumação você, enquanto varão, construiu essas personagens, que expressam vivências tanto íntimas ao comprido da conto?
A coisa boa das artes é esse mando que elas nos dão de nos transmitir para o sítio do outro. Para mim, a literatura é esse mundano da liberdade que nos permite ser o outro. Esse manobra é o que mais me atrai, o de existir outras vidas, porque a nossa jamais é suficiente. E por que mulheres? Ao comprido de minha bibiografia, as mulheres da minha linhagem tiveram uma comparência bem duro, ainda têm, e a partir de a puerícia vivi esse sedução pela vontade que as mulheres da linhagem exerciam. Igualmente nasci em uma cidade com uma vasto legado da diáspora africana. Cá para Salvador vieram majoritariamente grupos étnicos da Costa da Garimpo e Nigéria e, em muitas dessas etnias, porquê na etnia iorubá, mormente nas religiões de útero africana, a dama exerce singular mando que o varão jamais tem. Tão é que, cá em Salvador, temos muitos terreiros de candomblé conduzidos por mulheres. E esse mando é pretérito de dama para dama, são cargos que podem ser ocupados de arrumação matrilinear. Fora tudo isso, nos meus 15 anos de Incra e ultimamente indo às comunidades quilombolas com muita frequência, vi mulheres ocupando espaços de mando. Para mim, essa conto solitário poderia ser contada a elanguescer dessas personagens. Jamais é porque uma irmandade é quilombola ou crioulo que as relações patriarcais jamais a atravessam, e mesmo nelas as mulheres estão em uma condição de dupla vulnerabilidade. Portanto, essa conto precisava ser contada por elas, é um tanto de que eu jamais tenho incerteza. E aí vem o manobra que o jornalista faz de se transmitir para o sítio do outro. Eu me desloquei sem nenhum pudícia, alvo, incessantemente respeitando que essa conto deveria estar submetida jamais à perspectiva do responsável, todavia à perspectiva das próprias personagens.
Por que, na sua crítica, Sinuoso Cultivado foi aclamado por público e opinião? Que discussões e temas importantes para o nosso fase você trouxe para a conto?
É árduo para os autores saberem por que uma acção foi apreciada. O que posso manifestar é o que os leitores têm adágio a respeito de o cartapácio. Quando o escrevi – e daí a influência da minha vivência com os trabalhadores rurais e quilombolas e a aptidão de ofertar bibiografia a esse orbe, porque eu aprendi bem com eles, foram meus mestres –, tinha em mente que queria aquela enunciação de paixão que ouvia todos os dias dos quais vive da terreno. Nós podemos adorar muitas coisas, às vezes amamos a moradia em que a gente mora, singular canteiro de flores, uma terreiro que está defronte da nossa moradia. E essa enunciação de paixão me foi transmitida muitas vezes ao comprido do fase, e queria que o cartapácio fosse a respeito de isso. Ao grafar essa conto, achei que estava contando um tanto actual para as pessoas, e, é alvo, tem um tanto actual lá, todavia o que eu vi foi que os leitores de setentrião a meridional, de diversas origens, brancos e negros, têm qualquer nível de reminiscência afetiva com o planura, seja pela tentativa familiar ou própria. Porventura seja a ligação que o ledor estabelece com a conto do seu especial região, com a conto que ele vive ou os seus ascendentes viveram. Igualmente porque o cartapácio é atravessado por questões que jamais são solitário nossas, são desejos que fazem parcela do fictício coletivo do ser bom, que é o ambição de liberdade, o íntegro à bibiografia, o íntegro à autarquia.
Você chegou a levar o cartapácio para a irmandade Iúna? Qual foi a reação deles?
Quando o cartapácio saiu em Portugal e no Brasil, mandei as duas edições para eles. No meta do ano pretérito, quis realizar uma comoção. Fiquei com o troféu do Prêmio Jabuti que o cartapácio recebeu e mandei o prêmio financeiro para eles – jamais idade muita coisa, idade singular prêmio de R$ 5 milénio. Uma vez que havia permitido outro prêmio, fiz singular aporte maior e mandei para algumas famílias da irmandade. Eles ficaram bem felizes. Foi apoiado na véspera de Natal. Eu disse: “Olha, vocês usam pra realizar algo na moradia, para sublimar a moradia”, porque eu queria cortar tudo isso que pude aprender com eles e aquinhoar de alguma feição o congratulação que o cartapácio vem recebendo. Eles têm tudo, inclusive a tese de doutorado – mandei realizar uma a mais e entreguei pessoalmente a eles. A gente sabe que o sistema de regularização fundiária delongado bem fase, logo eu disse: “Se qualquer dia intercorrer algo com vocês, uma arbitramento forense ou algum coisa, vocês mostrem [a tese] e falem que aí está a conto do turba de vocês, singular análise”, porque isso tem a timbre dos pesquisadores da universidade e é singular documento de desavença igualmente. Compartilho tudo. Se pudesse, eu mesmo comprava aquelas fazendas e destinava a eles.
Manancial: https://apublica.org/2021/02/itamar-vieira-junior-e-seu-torto-arado-uma-declaracao-de-amor-a-terra/