Mulheres denunciam exclusão, misoginia e “clubinho de homens” no mercado editorial
7 min readNo ano pretérito, a escritora Lella Mamparra recebeu uma mensagem de um varão dizendo que queria ser patrocinador do evento “Elas publicam”, para mulheres do mercado editorial. Ela achou ótimo, porque o rostro era um medalhão do setor, e mandou para ele a tábua mercantil. O projeto costuma receber patrocínios polpudos, e ela achou que poderia ser o caso. Mas o verba não veio. No lugar, ela recebeu um explicação: “Ele falou que eu não tinha entendido, que o patrocínio seria uma palestra dele para as mulheres”, diz.
Mas o projeto Elas Publicam, explica, nunca recebeu nenhum varão, é somente de mulheres que atuam na enxovia produtiva dos livros, para produzir um espaço de protecção e troca de experiências. “Ele se acha tão bom que não precisa remunerar uma quota de patrocínio, só a presença dele já teria que ser muito valorizada. É uma rostro de pau sem tamanho.”
Na última edição da Flip – Feira Literária Internacional de Paraty, um dos maiores festivais do setor no país, ela e outras mulheres lançaram uma florilégio de contos e poemas. Mas o evento foi continuamente interrompido por um varão que queria declamar os seus próprios poemas e falar sobre o próprio trabalho. “É muito generalidade que os homens queiram invocar a atenção para falar sobre eles, querem emendar o que as mulheres estão falando, e às vezes até sobre a temática do livro delas, que elas que estudaram”, diz.
Relatos uma vez que esse são comuns entre autoras, editoras e outros cargos ocupados por mulheres que atuam no mercado editorial brasiliano. A Escritório Pública conversou com dez mulheres e ouviu, de modo quase unânime, que ainda há muito machismo no meio e falta muito para que o setor seja igualitário entre homens e mulheres. A maioria não quis se identificar justamente para não suportar represálias de seus colegas.
O ponto ganhou destaque nos últimos dias com a repercussão do podcast “CPF na Nota”, da Rádio Novelo. Nele, a escritora Vanessa Barbara relata a sequência de fatos misóginos que ocorreram no termo de seu enlace com André Conti, que hoje é um dos sócios da editora Todavia. Na idade, ele fazia segmento de um grupo de e-mails com 15 homens, entre jornalistas, escritores e editores – segmento da nata do mercado editorial hoje – em que falavam sobre mulheres, seus corpos e o que faziam com elas.
Depois que o podcast furou a bolha e monopolizou as redes sociais, Conti publicou uma nota reconhecendo que manipulou e foi misógino com sua ex-esposa. Outros membros do grupo também reconheceram que erraram por participar de atitudes machistas, ou de emudecer sobre elas. De qualquer maneira, a curso de Vanessa Barbara nunca mais foi a mesma depois do traumatismo. Ela era apontada uma vez que uma das escritoras mais promissoras quando despontou, em 2008. Não deixou de trabalhar, mas teve resultados mais tímidos que a de alguns membros do grupo, que ascenderam em suas áreas, uma vez que a própria relata no podcast.
“O empurrão dos parças influentes pode ser fundamental para que um nome se estabeleça e um livro faça sucesso. Ou, no sentido contrário, para que alguém desapareça dos holofotes —ou seja levado a se distanciar deles, precise disso para se reconstituir”, uma vez que escreveu o jornalista especializado em Literatura Rodrigo Casarin.
Entre as pessoas ouvidas pela Pública, todas sinalizaram que o relatado por Barbara é uma situação generalidade em editoras. Não há um complô sistemático para prejudicar mulheres, mas a teia de conexões que favorece os homens (o chamado machismo estrutural) cumpre oriente papel, relegando-as a posições inferiores e em que ainda há terror de denunciar situações de afronta por terror de afetar a própria curso.
“Homens brancos com verba e com poder sempre se protegem. E exatamente por esse motivo não vai ocorrer zero com o principal envolvido. Isso culpa uma desesperança entre nós”, disse uma editora que não quis se identificar.
“O caso da Rádio Novelo gera uma discussão indispensável sobre uma vez que o machismo que estrutura nossa sociedade circula (até hoje), inclusive em meios progressistas. Também mostra que denúncias de violência têm o potencial para gerar reações violentas e afetar muita gente”, afirma Florência Ferrari, uma das fundadoras da editora Ubu, que possui segmento expressiva do catálogo de livros traduzidos, editados e escritos por mulheres.
“Nos mais de vinte anos que venho atuando no mercado editorial, é evidente que, uma vez que todas as mulheres, vivenciei episódios de misoginia. Muitos desses passavam despercebidos; outros, embora bastante sofridos, na idade eu nem nomeava uma vez que misóginos”, ela continua.
Poucas mulheres no comando das maiores editoras brasileiras
Joana Monteleone, uma das fundadoras da editora Parque, conta que foi demitida de um jornal por um editor que, em suas palavras, “não gostava muito dela”. Ela estava prenhe da primeira filha. “Ele disse que eu não ia grafar nenhuma material até o final da gravidez. Era muito vexatório, eu era repórter e não podia grafar. Ele tinha terror que eu roubasse o seu incumbência”, diz.
Ela logo decidiu transmigrar para o mercado editorial, em uma editora universitária. Foi muito sucedida, mas sentia que ali também não conseguiria subir na curso. Logo fundou a Parque com o marido e um colega. No próprio negócio, conseguiu chegar a um patamar de quase 50% de autoras mulheres entre os tapume de milénio títulos do catálogo. Em outras editoras comerciais, ela diz, a proporção é de tapume de 60% a 40% ou 70% a 30%.
Monteleone fala sobre a existência de um teto de vidro para mulheres nas editoras. “Você chega a uma certa instância, mas dificilmente à editora principal”, afirma. “Editar é dar voz ao que está dentro de você, a sua voz ecoa na voz de outras pessoas. Se não tem mulher editando, vai ter menos mulher publicada, menos ponto de vista de mulheres. E isso limita a participação das mulheres na sociedade uma vez que um todo.”
O teto de vidro, para ela, é segmento de um problema mais grande, onde um “clubinho fechado de homens” é responsável pelas decisões, ocupa os maiores postos e até as premiações do mundo literário, fazendo com que a influência deles seja a que mais se sobressaia.
Não há um oferecido solene sobre o número de mulheres no topo da jerarquia de editoras. Mas é verosímil ter uma teoria. Recentemente, o site Publishnews ouviu 16 CEOs e representantes das maiores editoras do país sobre expectativas para o ano de 2025. Somente seis eram mulheres.
Um estudo do Sindicato Pátrio dos Editores de Livros apontou que mulheres ocupam cargos de liderança em 87% das editoras entrevistadas. O oferecido parece indicar um cenário positivo, mas ele é respondido por um perito no mercado editorial, que também não quis se identificar. “Esse número é condizente quando você leva em conta lideranças diversas dentro das empresas, uma vez que de um setor específico, ou até cargos uma vez que editora executiva. Mas quando a gente pega presidentes, CEOs e sócios, o número é menor, certamente”, afirma.
Lella Mamparra aponta para as raízes do machismo estrutural no mercado editorial. “Apesar de sermos maioria tanto entre os leitores quanto entre os profissionais da extensão, mesmo ainda não ocupando a maioria das posições de liderança, o protagonismo feminino muitas vezes é sumido ou subestimado”, diz, citando uma vez que exemplo que gêneros considerados femininos geralmente são colocados uma vez que “menores”.
“Não é só a dificuldade de sermos ‘levadas a sério’, mas também o assédio e a invalidação da nossa escrita, dos nossos posicionamentos. Quantas vezes a gente vê mulheres, sejam autoras, editoras, tradutoras, ou até críticas literárias, tendo suas ideias ignoradas ou, pior ainda, apropriadas?”, pergunta.
Além do “Elas publicam”, Mamparra também idealizou o projeto “Escreva, pequena!”, que capacita mulheres que escrevem para enfrentar o mercado editorial de cabeça erguida. “Quando penso nos dois, vejo espaços seguros para que possamos nos amparar, nos profissionalizar, empreender. Quem dera não precisássemos deles”, lamenta.
Uma das saídas para a maior representatividade no setor é a de produzir editoras e livrarias comandadas por mulheres desde a sua base. “Hoje há uma novidade leva de editoras e livrarias fundadas e lideradas por mulheres (na maioria branca, ainda), o que era vasqueiro dez anos detrás. Temos liberdade de publicar o que desejamos, sustentar nosso posicionamento, produzir redes de troca e parcerias, influenciar o debate público. Ainda assim, o mercado uma vez que um todo permanece muito masculino e a misoginia segue correndo solta”, afirma Florência Ferrari.