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Nos cultos, Malafaia usa Bíblia para transformar investigação em provação divina - Mundo News
6 de Setembro, 2025

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Nos cultos, Malafaia usa Bíblia para transformar investigação em provação divina

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Apontado como orientador de Bolsonaro pela Procuradoria, pastor usa passagens para se defender — e contra-atacar...

Passavam das 10 da manhã, quando o pastor Silas Malafaia subiu ao púlpito para dar uma bronca em seus fiéis. Suas “ovelhas”, uma vez que ele se refere aos membros da igreja, precisavam trazer mais pessoas para o luminar – não bastava estarem ali, se não convertessem conhecidos. A reclamação tinha motivo: naquele domingo ensolarado de 31 de agosto deste ano, sobravam cadeiras na sede da Reunião de Deus Vitória em Cristo (Advec), na Penha, zona setentrião do Rio, com capacidade para seis milénio pessoas. A secção superior estava praticamente vazia.

As reclamações de Malafaia não se dirigiram unicamente às suas ovelhas: sobrou espaço para criticar a Polícia Federalista (PF), o Supremo Tribunal Federalista e os vazamentos de suas conversas com o ex-presidente Jair Bolsonaro. E para se tutelar de todas essas ações.

“Eu tenho muitos defeitos. De vez em quando alguns aparecem. De vez em quando, alguns aparecem quando cometem o violação de quebrar o sigilo! Uma vez que diz a Constituição, no item 5º, inciso 10: é inviolável a intimidade das pessoas! Mas estamos vendo um país que ninguém respeita a Constituição. Quem devia respeitar é o primeiro a rasgar, mas isso é outro tema”, esbravejou no púlpito.

Dez dias antes, em 21 de agosto, o STF autorizara a PF a executar mandado de procura e consumição contra o pastor — celulares e passaportes foram retidos. Segundo a Procuradoria Universal da República (PGR), Malafaia teria orientado o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu rebento Eduardo nas ações para pressionar o curso do julgamento por tentativa de golpe de Estado.

Naquele mesmo dia, a prensa ainda divulgou trechos das conversas do pastor com Bolsonaro. Em algumas delas, Malafaia chamava Eduardo de “babaca”, “idiota” e “estúpido de marca maior”, depois o deputado tutelar publicamente o tarifaço de Donald Trump contra o Brasil.

Os palavrões levaram Malafaia a assumir aos fiéis que erra, sob a lógica do “sou só um rebento Deus”. “Seu pastor não é perfeito. Acho que as últimas notícias já mostram que eu não sou perfeito”, disse, soltando gargalhadas de seus fiéis. “Eu sou um pastor que tenho defeitos, tenho virtudes, uma vez que você, e tô lutando também para melhorar, para chegar no firmamento. Nós lutamos para que a gente possa chegar no firmamento, não é? Cá, nós estamos em aperfeiçoamento. Se você tá procurando uma igreja perfeita, pede para Jesus te levar. Tá lícito?”, disse no luminar anterior, no dia 27, na Advec do Méier, também na zona setentrião do Rio.

Por que isso importa

  • Silas Malafaia é um dos principais defensores de Bolsonaro dentro das lideranças evangélicas, que são uma secção importante do eleitorado que vota por pautas conservadores defendidas pelo ex-presidente;
  • Aliás, Malafaia foi indicado pela Procuradoria da República uma vez que orientador de Bolsonaro nas articulações para pressionar o julgamento no STF, que pode improbar o ex-presidente e vários de seus aliados.

Apoiador pronunciado de Bolsonaro, Malafaia usa as redes sociais para publicar vídeos em resguardo do ex-presidente – e para acusar o STF de perseguição. Malafaia é um dos organizadores dos protestos previstos para o próximo domingo, no 7 de setembro, e estará presente nos atos em Copacabana. A sua participação no ato de São Paulo, marcado para as 15h na avenida Paulista, ainda não está confirmada.

A reportagem procurou a assessoria da Advec para questionar se a organização ou qualquer dos líderes citados nesta reportagem gostaria de se posicionar sobre as investigações no STF e a ação da PGR contra Malafaia. A igreja também foi questionada se teria um tanto a acrescer sobre a organização dos atos de 7 de setembro. O espaço segue ingénuo a manifestações.

Silas Malafaia ao lado de Jair Bolsonaro em comício no Rio de Janeiro em 16 de março de 2025.

O “evangelizador” Malafaia

No domingo 31 de agosto, Malafaia escolheu penetrar o luminar da Santa Ceia com um trecho da segunda missiva do evangelizador Paulo aos Coríntios (capítulo 4, versículos 8 e 9), que fala sobre as aflições e resistências dos cristãos.

“Olha o que diz a termo: Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”, disse. E seguiu com outros trechos sobre os aprendizados das ‘adversidades’ da vida.

“Jesus confirma isso em João 16:33. ‘Tenho vos dito isso para que em mim tenhais silêncio. No mundo tereis aflições, tribulações, adversidades, mas eu venci o mundo.’ Jesus confirma essa quesito humana. A tribulação e a flagelo é [sic] permitida por Deus, uma vez que um corretivo. Muitas vezes Deus permite a luta, a flagelo na minha vida e na sua uma vez que um corretivo. […] O Salmo 119:71 diz: ‘Foi-me bom ter sido afligido para que aprendesse a tua lei’. Isso é, a luta e a flagelo é [sic] uma maneira pedagógica de Deus para emendar alguma superfície da nossa vida. […] a tribulação e as adversidades, nos forjam para alcançarmos patamares espirituais maiores”.

Entre versículos e salmos, Malafaia parecia querer justificar a própria situação em que se encontra uma vez que atos de injustiça e sinais de provação. Se na PF, ele preferiu se calar durante o testemunho, aos seus fiéis, ele falou.

“Ninguém gosta de tribulação. Mas aí um um deputado lesado evangélico [em referência a Otoni de Paula], né? Que a GloboNews deu a chance a ele para me brigar, ele disse: ‘O pastor Silas Malafaia quer ser recluso’. Irmão, uma coisa é estar prestes para ser recluso, outra coisa é querer ser recluso. Eu estou prestes. Se eu não tivesse prestes, eu não fazia o que faço. Agora querer ser recluso? Quem quer ser recluso? Manda internar no sanatório. Manda para o psiquiatra. Expor que eu quero ser [preso], porque eu declaro ‘eu não tenho temor de ser recluso’, é muito dissemelhante.”

Lá pela metade do luminar, Malafaia citou a Primeira Epístola de João (capítulo 5 versículo 18): “aquele que é de Deus, o maligno não lhe toca”. E voltou a falar sobre si mesmo. Contou que, certa vez, o pai, que também era pastor, foi “quebrar um altar de Satanás”. E outros fiéis lhe avisaram que, toda vez que alguém tentava tirar aquilo de lá, um tanto ruim acontecia na vida da pessoa. Segundo ele, no mesmo momento em que o pai quebrava o tal altar, um carruagem entrou com tudo na lajeada por onde ele passava.

“Alguma coisa me segurou na cintura por frações de segundo, aquele carruagem ia me atropelar e me matar. […] Logo vamos ver o que aconteceu no mundo místico. Quando meu pai começou a quebrar o altar de Satanás, Satanás pegou um demônio e disse assim: ‘Vai lá e mata o rebento dele’. […] Naquela mesma hora também Deus disse: ‘guarda ele lá’. Quando o diabo jogou aquele carruagem em cima de mim, tinha um querubim dizendo: ‘Esse cá não’”, contou. “Dardos inflamados, setas do inferno, demônios querendo te atingir, demônios querendo te tocar e o Senhor dizendo: ‘esse cá não’. Esse cá tem proteção, tem guarda. Perseguido sim, desamparado não. Você não está sozinho! É por isso que eu não tenho temor de Xandão.”

Para Magali Cunha, pesquisadora em Religião e Política do Instituto de Estudos da Religião (Iser), as passagens bíblicas escolhidas por Silas Malafaia são estratégicas e instrumentais para “justificar posições e posturas” políticas.

“O Malafaia escolher passagens bíblicas para justificar o seu posicionamento político, qualificar, por exemplo, também Bolsonaro, a quem ele muito defende, uma vez que uma pessoa escolhida por Deus, tudo isso faz secção dessa cultura de selecionar as passagens bíblicas para manifestar, neste caso, um posicionamento político”, diz a pesquisadora.

Para Vinícius do Valle, que é investigador político e pesquisador das igrejas evangélicas e política no Brasil, “certamente existe um planejamento de discussões políticas de contrato com a agenda eleitoral”.

No luminar, cada vez que Malafaia ironizava ou desafiava as decisões de Alexandre de Moraes, do STF, ou da Polícia Federalista, o público respondia favoravelmente. Gargalhavam com ele, ecoando suas ironias e reforçando com glórias e aleluias a narrativa de que Deus não abandonará o pastor — ainda que o Estado, ‘injustamente’, o investigue.

Silas Malafaia em comício pró-Bolsonaro em março deste ano, no Rio de Janeiro, que pedia anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e no projecto de Golpe de Estado.

Tom morno nos cultos em São Paulo

Se no Rio, Malafaia usou o púlpito uma vez que varanda para criticar o STF, em São Paulo, os pastores foram muito mais contidos ao manifestar seus posicionamentos políticos. A reportagem acompanhou cultos nos dias 1 e 3 de setembro na sede da Advec na Mooca, Zona Leste da capital paulista. E a diferença foi nítida.

No dia 1 de setembro, no chamado “Luminar da Vitória”, o pastor Pedro Henrique Indócil, líder regional da Advec em São Paulo, abriu a celebração religiosa depois quase 20 minutos seguidos de louvores que cantavam a vitória daqueles que se submetiam às vontades de Deus. Dissemelhante de Malafaia, o líder religioso não fez manifestações políticas diretas e nem convocou os seus fieis ao ato de 7 de setembro. Assim uma vez que nos cultos no Rio, havia muitas cadeiras vazias.

No fechamento, em um tom morno, Indócil explicou ao público presente que Malafaia não realizaria cultos em São Paulo no 7 de setembro devido ao horário marcado para a sintoma.“[…] Ele pregaria e à tarde iria para a sintoma que ele lidera, né? Mas, uma vez que a sintoma começa mais tarde, por isso, nós vamos transmitir o luminar do Rio e depois ele vem direto para São Paulo”, prometeu o pastor.

“É melhor a gente chegar cedo, porque vai vir aquele povo todo da sintoma pra cá e não vai ter lugar”, comentou uma frequentadora da Advec que assistia ao luminar junto de sua família, nas últimas fileiras do salão principal.

Em tom de ironia, uma outra frequentadora disparou: “vai você lá para a sintoma para ver se não vai trespassar presa. Se nem o Malafaia está escapando, imagine você.”

Um dos funcionários da Advec foi questionado pela reportagem se havia alguma frota que sairia da sede da Mooca, rumo à avenida Paulista, mas a resposta foi que “não estava sabendo”.

Já na noite de quarta-feira, 3 de setembro, foi o dia da “Escola da Termo”, um encontro dos fieis para estudos sobre a bíblia e as doutrinas da Reunião de Deus Vitória em Cristo. Havia pouco mais de 50 pessoas na plateia, que depois entoarem os seus louvores, sacaram uma revista que trazia as “epístolas universais”, descritas uma vez que um jeito “simples e prático de aprender a ser um verdadeiro cristão”.

No púlpito, quem comandava era o pastor Erivelton Nunes, que utilizou as epístolas do paixão, propagadas pelo evangelizador João, para conduzir a pregação daquela noite.

O sermão daquela noite se apoiava na missiva de João, que pregava o paixão incondicional para chegar aos céus. Durante a leitura, o pastor deu o seu modesto observação político em um oração que dizia que, quem não amasse aos seus irmãos, não teria lugar no firmamento e também não adiantava permanecer na “esquerda” ou na “direita” do reino de Deus, pois não seria aceito. No entanto, mais avante, ele disparou: “esquece esse negócio de esquerda”, que levou a enxuta plateia a uma gargalhada.

Segundo a pesquisadora Magali Cunha, o esvaziamento nos cultos tanto no Rio, quanto em São Paulo, pode ser um vestígio de desgaste da narrativa bolsonarista dentro das igrejas evangélicas, onde “houve um oração mais armígero”. “Silas Malafaia tem uma identificação muito poderoso com a figura de Jair Bolsonaro. Logo, isso é sim uma verosímil razão para o esvaziamento”, concluiu.

Para além das lotações das plateias, Vinícius do Valle diz que os templos não foram planejados para estarem sempre cheios, mas as suas estruturas grandiosas são “para provar poder”. “Existe toda uma arquitetura da mostra de poderio político em algumas igrejas e a Assembléia de Deus, Vitória em Cristo, ela é uma representante dessa prática”, afirma. “Mas, sim, dá para expor que há um cansaço com a discussão política dentro das igrejas”, completa o investigador político.

Apoiador de Bolsonaro, Malafaia usa cultos para se tutelar e criticar STF

Pastores se manifestam politicamente nas redes

Se no luminar em São Paulo o pastor Henrique Indócil evitou o tom político da igreja, nas redes sociais, sua fidelidade a Malafaia e o engajamento político ficam claros por fotos em atos bolsonaristas ou vídeos de convocação de fieis para manifestações anteriores.

Dias depois o líder da Advec ser mira de procura e consumição pela da Polícia Federalista, Indócil fez um vídeo para justificar o porquê de Malafaia se envolver em assuntos políticos, onde o descreveu uma vez que um líder “profético”, cuja marca é denunciar injustiças e governantes que não cumprem o seu papel, em uma semelhança aos profetas bíblicos.

“Se você é cristão, não caia no história da mídia e das trevas que querem tirar a credibilidade de quem está se posicionando unicamente pela sua forma de ser ou sua forma de falar. Inegavelmente, goste ou não, o pastor Silas foi levantado uma vez que uma voz para esse templo e para esta país”, afirmou Indócil.

Na tradução da pesquisadora Magali Cunha, Indócil não concorre com a figura de Silas Malafaia e, por nascente motivo, não utiliza o mesmo oração armígero em suas pregações.

“Indócil vai assumir a sua figura de pastor, conciliador, que até fala de política nas mídias sociais, mas que essa não é uma fala que deva ser levada por ele na igreja, porque essa fala pertence a Silas Malafaia”, avalia.

Ao destinar suas orações a Malafaia, em virtude do “momento de perseguição política”, o pastor Erivelton Nunes descreveu o líder da Advec uma vez que a “voz profética”, porque ele não se contém unicamente aos muros da igreja, assim uma vez que os profetas, que “exerciam influência nos assuntos da país”.

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