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Polícia Militar SP: batalhões comandados por coronel Sabino mataram 84 pessoas em 2 anos - Mundo News
16 de Agosto, 2025

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Polícia Militar SP: batalhões comandados por coronel Sabino mataram 84 pessoas em 2 anos

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Aumento de mortes por policiais acompanha gestão de militar, promovido três vezes durante gestão de Guilherme...

O fragor do estrondo sedento de um revólver ressoou entre os moradores da Vila Sônia, em Piracicaba, no interno paulista, que responderam aos gritos: “Eles mataram o Biel”. O disparo saiu da arma empunhada pelo cabo Junior Cesar Rodrigues, da Polícia Militar (PM SP), e atingiu a cabeça do servente de pedreiro Gabriel Junior Oliveira Alves da Silva, de 22 anos, que morreu ao tentar proteger a esposa prenha de uma abordagem truculenta. O crime aconteceu em 1º de abril deste ano.

Gabriel Silva está entre as 84 mortes causadas por PMs subordinados ao coronel Cleotheos Sabino de Souza, em dois anos (de junho de 2023 até junho deste ano). Sabino, porquê é sabido, já foi condenado a dois anos de prisão em regime ingénuo, por espancar um artesão em Ribeirão Preto, em 1999. O vestuário não serviu de proibitivo para que ele fosse promovido pelo menos três vezes, desde que o deputado federalista Guilherme Derrite (PL) assumiu o incumbência de secretário de Segurança do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos). E, desde logo, por onde passou, houve aumento de mortes praticadas por policiais sob sua gestão.

“Pelos números do Sabino, a gente nota que onde ele assume o comando, a porcentagem de violência policial dispara”, disse, em requisito de anonimato à Escritório Pública, um legista paulista que acompanha casos de violência policial. Em fevereiro deste ano, o coronel assumiu o posto de comandante do Comando de Policiamento do Interno 0 (CPI-9), que é responsável por governar os batalhões e companhias da PM SP de 52 municípios do interno paulista, incluindo Piracicaba.

Segundo o levantamento da Escritório Pública, de fevereiro a junho deste ano – o período do CPI-9 sob comando de Sabino – foram registradas 26 mortes por ações policiais. Isso representa quase 70% de todas as mortes em 2024 na região (39 mortes) e 18% a mais do que as mortes em 2023, quando foram registradas 22 casos de óbito por mediação policial.

Coronel da PM SP em cerimônia de assunção ao comando do CPI-9, posando à frente de banner institucional com viatura e policial armado.
Coronel Sabino, da PM SP, em cerimônia de assunção ao comando do CPI-9

O CPI-9 não é o único batalhão da PM SP sob o comando de Sabino que apresentou aumento na obituário policial. Quando ainda era tenente-coronel – o segundo na jerarquia militar – Sabino foi anunciado, em junho de 2023, porquê o comandante do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M), na capital, onde foi responsável por cinco companhias de superfície (as bases da PM), que atendem o bairro do Morumbi e a favela do Paraisópolis. O mesmo batalhão já foi indicado, no pretérito, porquê o mais letal do estado.

Durante os nove meses de sua gestão, que durou até março de 2024, os policiais militares subordinados a Sabino mataram 24 pessoas. O número é maior do que todas as mortes no ano de 2022, quando o mesmo batalhão registrou 21 mortes em decorrência de intervenções policiais.

Em mais uma promoção, em março de 2024, ele foi indicado à chefia do Comando de Policiamento de Superfície Metropolitano-3 (CPAM3), que responde pelos cinco batalhões da PM SP na Zona Setentrião de São Paulo.

A sua passagem pelo CPA-M3 durou 11 meses e foi marcada pelo aumento da obituário policial, registrando 34 mortes – o duplo de todo o ano de 2023, quando os mesmos batalhões juntos contabilizaram 16 óbitos.

Por que isso importa

  • Em 2024, São Paulo foi o estado que apresentou o maior incremento do número de mortes em decorrência de mediação policial, segundo o Anuário Brasílio de Segurança Pública.

A reportagem procurou Sabino, que não respondeu aos questionamentos enviados. Dois dias depois o pedido de posicionamento, o coronel fez uma publicação em sua conta no Instagram, onde escreveu que “cada vez mais matérias orquestradas pelo delito, tentam criminalizar a atividade policial” e que “não vão conseguir nos transformar em vilões e transformar marginais violentos em vítimas” (sic).

Por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP), disse que “A PM reafirma que não tolera desvios de conduta. Todos os casos de Morte Decorrente de Mediação Policial (MDIP) são apurados rigorosamente pela Corregedoria, com séquito do Ministério Público e do Poder Judiciário. Comprovadas irregularidades, os envolvidos são responsabilizados nos termos da lei.”

Sobre a atuação de Sabino no CPI-9, a pasta acrescentou que “registrou, no primeiro semestre deste ano, o segundo menor índice de homicídios dolosos em 25 anos (-6,19%). Os roubos em universal caíram 23,78%, atingindo o menor patamar desde 2001, e todos os demais crimes patrimoniais também registraram queda. No período, mais de 9,6 milénio infratores foram presos ou apreendidos, 592 armas ilegais retiradas de circulação e 1.683 veículos recuperados.” Leia a nota na íntegra aqui.

“Policial militar não sai de lar para colher na rua”, diz coronel depois homicídio em abordagem

Na PM SP desde 1993, o coronel Sabino é protector dos modelos tradicionais da corporação e defende que a PM SP não deve desempenhar trabalhos sociais e, sim, “combater o delito”. Em entrevista à Jovem Pan, em maio de 2025, depois assumir o comando do CPI-9, ele disse que acredita “que a Polícia não pode ser desviada de suas funções […] se você pegar a origem da Polícia, ela foi criada para restringir direitos e inspeccionar quem transcendia as leis.”

No caso do homicídio de Gabriel Silva, mesmo com a repercussão negativa e o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) ter indicado que ele se revoltou pelas agressões contra sua esposa, o coronel Sabino saiu em resguardo de seus agentes: “o policial militar não sai de lar para colher na rua e muito menos para perder sua vida [ou] trocar socos com quem quer que seja. Toda agressão contra o policial militar em serviço deve ser encarada porquê um atentado à sua vida. O policial militar é treinado para calcular as circunstâncias e voltar vivo para lar”, disse o coronel em um vídeo publicado em sua conta no Instagram.

Em 2014, quando ainda era sargento da PM, Sabino foi claro de denúncia do Ministério Público, depois um torcedor do clube XV de Piracicaba ser espancado por policiais sob sua supervisão. Na era, a Justiça de São Paulo absolveu “sumariamente” todos os PMs envolvidos, mas o caso foi reaberto pelo STJ em fevereiro de 2024.

A Pública teve chegada aos autos do processo. Na denúncia do promotor Tiago Essado, em agosto de 2015, consta o pedido de “pena, emprego dos efeitos previstos no 5º do art. 1º da Lei 9.455/97, entre eles a perda do incumbência, função ou tarefa público e a interdição para seu manobra pelo duplo do prazo da pena aplicada”.

Depois a regra do STJ, a Justiça de São Paulo enviou o caso para a Justiça Militar, onde o processo tramita.

Alinhamento com Tarcísio e proximidade com Derrite

“Combatendo o delito e protegendo a população do estado de São Paulo e se tem alguém que sabe fazer isso com propriedade, chama-se coronel Sabino”, disse o secretário de segurança paulista, Guilherme Derrite, que tem um histórico de discursos em resguardo de policiais, mesmo em casos de violência. A fala foi proferida em março deste ano, durante o evento de posse de Sabino porquê novo comandante do CPI-9, um mês depois ele assumir o posto.

O novo incumbência de comandante do CPI-9 é mais uma função no currículo do coronel Sabino, que ostenta posições de destaque no comando dos policiais da ativa, desde que o secretário Derrite assumiu o posto, em janeiro de 2023. “Eu fui favorecido e agraciado pelo secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, que me colocou no 16º batalhão, é o batalhão mais importante da capital e o mais multíplice”, disse o coronel em entrevista à Jovem Pan FM, em maio deste ano.

Em sua conta no Instagram, em meios às publicações sobre ações de apreensões de drogas, prisões, produtividade policial e pronunciamentos, o coronel expõe os encontros com o secretário.

Coronel da PM SP participando de gravação do podcast “Papo de Rota” com outro policial, mesa com microfones e armas em exposição ao fundo.

A proximidade entre Derrite e Sabino não é de agora. Em novembro de 2021, Sabino participou do podcast “Papo de Rota”, que era apresentado por Derrite, na era em que ainda era somente deputado. Publicados todas as sextas-feiras, os episódios abordavam o dia a dia de policiais militares da ativa e da suplente, quando integravam a Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar). Atualmente, os vídeos encontram-se indisponíveis no YouTube.

Mas foi durante a carência de Derrite no posto de secretário de segurança, em março de 2024, que Sabino conquistou o mais cima posto da Polícia Militar de São Paulo: o de coronel, em um decreto assinado pelo governador Tarcísio de Freitas . Segundo apuração do jornal Folha de S. Paulo, a promoção gerou repercussão negativa dentro da corporação e colegas de farda chegaram a indicar a subida porquê resultado da proximidade entre Sabino e o encarregado de gabinete do secretário de segurança, Paulo Mauricio Maculevicius Ferreira.

Sobre a promoção de Sabino ao posto de coronel na PM SP, a SSP informou que a subida de Sabino seguiu os critérios técnicos e legais estabelecidos pela Polícia Militar para a progressão na curso”.

Em março deste ano, o governador Tarcísio esteve na região de Piracicaba e fez uma homenagem ao coronel: “Queria cumprimentar, de uma maneira muito próprio, o coronel Sabino, comandante do CPI-9, Polícia Militar de São Paulo e a Polícia Social […] eu precisava ressaltar que cá na região [de Piracicaba] nós temos os menores indicadores de homicídios, roubos e furtos de todos os tempos, desde o início da série histórica.”

Coronel da PM SP em evento oficial de inauguração de delegacia, ao lado de outros oficiais e do governador de São Paulo.

Um ano antes disso, em março de 2024, Tarcísio, ao ser questionado sobre o aumento da violência policial na Baixada Santista, disse que não estava “nem aí” para as denúncias. Depois das repercussões negativas, ele moderou o exposição.

Assassínio de Gabriel: depois prisão de agentes, outros PMs teriam ameaçado testemunhas

No caso que levou à morte de Gabriel Silva, em abril deste ano, o cabo Rodrigues e o soldado Leonardo Machado Prudêncio – que agrediu a esposa de Silva – foram presos preventivamente e denunciados pelo promotor de justiça Aloísio Antônio Maciel Neto, sob a justificativa de que “o delito de homicídio foi cometido por motivo torpe, consistente no vestuário do denunciado não admitir a revolta da vítima Gabriel diante das agressões praticadas contra sua esposa no momento daquela abordagem”.

De conciliação o legista Gustavo Henrique Pires, da Percentagem de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Piracicaba, depois a prisão dos agentes, outros PMs passaram a ameaçar testemunhas, moradores e a família de Silva, caso prestassem depoimentos que pudessem comprometer os policiais já presos.

“Passados alguns dias, os moradores voltaram a me procurar, dizendo que os PMs estavam fazendo abordagens e ameaçando quem fosse testemunhar, a vida deles se tornaria um inferno. Logo, eu relatei ao Ministério Público”, disse o legista. Depois disso, outros quatro policiais militares foram afastados de suas funções, em virtude das ameaças.

Segundo a SSP, os dois policiais militares envolvidos na ocorrência de Piracicaba permanecem presos, enquanto os demais seguem afastados das atividades operacionais. O caso foi investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios da Deic do Deinter-9, relatado à Justiça e também perfeito pela Corregedoria da PM, que aguarda revelação judicial.”

Metodologia

Os dados utilizados nesta reportagem foram obtidos no site da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, no final de julho, referentes a boletins de ocorrência cuja natureza registrada foi “Morte decorrente de mediação policial”.

A partir da base original, foram aplicados filtros para selecionar:

  1. Delegacias de Polícia (DPs) pertencentes à superfície de perímetro dos batalhões comandados pelo coronel;
  2. Período correspondente ao comando do coronel em cada batalhão (pilastra “DATAHORA_REGISTRO_BO”);
  3. Registros em que o campo “corporação” estava identificado porquê Polícia Militar (PM).

A estudo foi segmentada conforme os comandos e batalhões sob responsabilidade do coronel:

  • 16° Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (16º BPM/M)
    • DPs abrangidas: 34º (Morumbi), 37º (Campo Limpo), 75º (Jardim Arpoador) e 89º (Jardim Taboão)
    • Período analisado: de 13/06/2023 a 12/03/2024.
  • Comando de Policiamento de Superfície Metropolitano-3 (CPAM-3)
    • Batalhões abrangidos: 5º, 9º, 18º e 43º
    • DPs filtradas: 28º (Freguesia do Ó), 74º (Paragem de Taipas), 20º (Chuva Fria), 73º (Jaçanã), 19º (Vila Maria), 39º (Vila Gustavo), 90º (Parque Novo Mundo), 9º (Carandiru), 13º (Moradia Virente), 40º (Vila Santa Maria) e 45º (Vila Brasilândia).
    • Período analisado: 12 de março de 2024 a 08 fevereiro de 2025.
  • Comando de Policiamento do Interno-9 (CPI-9)
    • Período analisado: a partir de 9 fevereiro de 2025.
    • Municípios incluídos: Aguaí, Águas da Prata, Águas de São Pedro, Americana, Analândia, Araras, Artur Nogueira, Brotas, Caconde, Capivari, Moradia Branca, Charqueada, Conchal, Cosmópolis, Cordeirópolis, Corumbataí, Divinolândia, Elias Fausto, Engenheiro Coelho, Espírito Santo do Pinheiral, Hortolândia, Ipeúna, Iracemápolis, Itobi, Itirapina, Leme, Limeira, Mombuca, Mococa, Monte Mor, Novidade Odessa, Piracicaba, Pirassununga, Rafard, Rio Evidente, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Bárbara d’Oeste, Santa Cruz da Conceição, Santa Cruz das Palmeiras, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra, Santo Antônio do Jardim, São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo, São Pedro, São Sebastião da Grama, Sumaré, Tambaú, Tapiratiba, Vargem Grande do Sul.

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