Somos o que fazemos?
3 min readPerdão Rojo
Diretora-executiva da Coolabora
Quando pedimos a alguém para se apresentar, quantas vezes a resposta começa pela profissão? Mas há certamente mais coisas que nos podem caracterizar, para além do nosso trabalho remunerado. Se o trabalho é, grosso modo, um meio de subsistência, também pode ser manancial de realização e de reconhecimento social.
Olhando para as murado de 46.400 pessoas que residem no nosso Município, diz-nos o INE que 30,8% da população tem 65 anos ou mais e 10,4% tem menos de 15 anos. Somando, 41% das pessoas estão fora da população considerada activa. Felizmente, supra dos 15 anos, há muitas pessoas jovens ainda a estudar, que reforçam esse passageiro.
Serão essas pessoas inactivas? Finalmente o que é o trabalho? Consiste somente naquilo que é feito a troco de remuneração? Que poderemos proferir de todo o trabalho não pago uma vez que limpar, cozinhar, tratar das roupas, atender aos mais velhos e às crianças, essas tarefas domésticas e de desvelo, geralmente feitas por mulheres, fundamentais para a sustentabilidade da vida E o voluntariado na comunidade ou o esforço, que geralmente vem da cultura familiar, de preservação das levadas de chuva, das sementes ou da proteção do território face aos incêndios?
É de rudimentar justiça reconhecer o valor de todas essas tarefas, tão importantes para o nosso bem-estar, que não se encaixam na categoria de trabalho mercadorizado e são frequentemente invisibilizadas.
Há, pois, velhas e novas lutas no mundo do trabalho. Uma luta, que parece novidade mas tem séculos, diz saudação à situação laboral das pessoas “uberizadas”, que trabalham “à peça”, em plataformas ditas inteligentes, mas das quais trabalho tem semelhanças com as estruturas de servidão medievais. Vemos os TVDE pelas ruas ou as mochilas da Glovo que saem dos shoppings e dos restaurantes para fazer entregas ao morada. Considerados “trabalhadores independentes”, são os “emprecários”, empresários em situação de precariedade, para quem direitos uma vez que um horário de trabalho, um salário mínimo, fins-de-semana ou dias de folga são miragens.
Há outras lutas que importa lembrar no 1.º de Maio, uma vez que o desenvolvimento do passageiro de pessoas que não estão abrangidas pelo Recta do Trabalho. Para além dos motoristas e estafetas das plataformas, há os imigrantes na cultura intensiva, os trabalhadores digitais ou ainda as pessoas que vivem uma precarização assistida, uma vez que é o caso de muitos estágios, bolsas de investigação ou programas ocupacionais.
Nas últimas décadas, a luta pela redução da jornada de trabalho esteve sempre em cima da mesa. Porém, ao desenvolvimento tecnológico e à robotização crescente não correspondeu, contrariamente ao que poderíamos sonhar, uma redução do tempo de trabalho. Continuamos ainda a lutar pela generalização de um horário supremo de 35 horas de trabalho semanal.
Hoje discutimos o teletrabalho e o trabalho remoto, a semana dos 4 dias, o rendimento obrigatório incondicional, mas são lutas convivem com estas outras, muito antigas.
Diz a Organização Internacional do Trabalho nos seus documentos fundadores, que a silêncio duradoura e a firmeza não surgem espontaneamente e que a justiça social é uma exigência para a sua possibilidade. Seria bom pensarmos nisso, no 1.º de Maio e ao longo de todo o ano.
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