Verde-amarelo em disputa e pautas “invertidas” marcam 7/9 antes de julgamento de Bolsonaro
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O presidente da República acenava do Rolls Royce da Presidência para milhares de compatriotas que acenavam com suas bandeiras verde-amarelas nas arquibancadas do desfile da Independência durante o 7 de setembro, em Brasília. Jovens usavam camisetas que formavam a vocábulo “soberania”, outros carregavam uma bandeira do Brasil gigante, de 140 metros quadrados, enquanto bonés com o slogan “O Brasil é dos brasileiros” eram distribuídos pela equipe do governo federalista.
À tarde uma revelação na avenida Paulista, em São Paulo, também trazia uma bandeira gigante. Mas dos Estados Unidos. Entre os manifestantes, a bandeira brasileira rivalizava com as norte-americanas e de Israel. Cartazes e discursos reverberavam pedidos porquê “soltem os presos políticos” e “anistia já”. Nas cabeças, e nos camelôs da avenida, os bonés tinham uma mensagem, em inglês: “Make America Great Again”, bordão de campanha do presidente dos EUA, Donald Trump.
“Leste 7 de setembro é dissemelhante de todos os outros que eu me lembre, pelo menos. Porque duas coisas distintas, mas combinadas, aconteceram basicamente ao mesmo tempo e ambas dialogam com essa dimensão, de indumento, da pátria, né? Da pátria”, afirma Ana Penido, professora do Instituto de Relações Internacionais e Resguardo da Universidade Federalista do Rio de Janeiro (IRID/UFRJ).
Ela faz menção, primeiro, ao julgamento no Supremo Tribunal Federalista (STF) do ex-presidente Jair Bolsonaro, militares de subida patente e outros réus por tentativa de golpe de Estado. Não por possibilidade, nenhum ministro do STF, cujas presenças foram destaques na edição do ano pretérito do ato cívico, participou do desfile de 2025.
Segundo Penido, a ensejo é novidade e pode ter consequências nos caminhos da política internacional. “As duas coisas dizem saudação a uma lógica de olhar a distribuição de poder a nível mundial. E isso também diz saudação a porquê que isso vai se desdobrar nos territórios locais. Acho que esses dois fenômenos são expressões de uma capacidade organizativa grande mesmo, significativa do ponto de vista internacional, que rebate cá dentro”, avalia.
Por que isso importa
- A celebração do dia da independência marca, mais uma vez, a tentativa de Jair Bolsonaro e aliados de pressionar o STF.
- Governo Lula aproveita data e tarifaço de Trump para tutorar soberania vernáculo de olho nas eleições de 2026.
O tarifaço de 50% imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros, é o segundo indumento citado pela professora. Um esforço para interferir diretamente na política brasileira e pressionar por uma anistia que beneficie o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A estratégia, porém, permitiu ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir a resguardo da soberania vernáculo e, paralelamente, aumentar a sua popularidade. “A soberania pode parecer uma coisa muito distante, mas ela está no dia a dia da gente”, declarou em seu pronunciamento em 6 de setembro o presidente, que assistiu ao desfile próximo ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Ato bolsonarista em SP tem homenagem aos EUA e segue roteiro de ataques a Moraes
No sentido oposto, com gritos de “Anistia já” e “Fora Moraes”, manifestantes pró-Jair Bolsonaro ocuparam algumas quadras da Avenida Paulista na tarde de domingo. O ato foi marcado por falas duras de aliados do ex-presidente, que cumpre prisão domiciliar.
“O Brasil é colônia dos Estados Unidos, sim”, disse Carlos Silva, autônomo, que desfilava em São Paulo na revelação bolsonarista no dia da independência do Brasil, com um pôster do ministro Alexandre de Moraes atado a um foguete de Elon Musk. Ele conta que chegou a acampar em frente aos quartéis do Tropa, no termo de 2022. Silva ainda reconhece que houve tentativa de golpe em janeiro de 2023, mas acredita que secção das pessoas foi enganada por “infiltrados da esquerda”.
Outros manifestantes defendiam que Trump interviesse mais no Brasil, “pelo muito do país”, e que o tarifaço de 50% imposto pelo norte-americano seria uma reação para “evitar o comunismo” no Brasil. “Soberano é só Deus”, disse a dona de lar Janete Pepelescov, em referência ao mote do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O ato reuniu 42,2 milénio pessoas, segundo levantamento da Universidade de São Paulo (USP). O número é menor do que o do evento do ano pretérito, que teve 45,4 milénio pessoas, de tratado com o mesmo estudo – e que teve a presença de Bolsonaro.
O coche de som reuniu aliados de primeira, segunda e terceira horas do bolsonarismo – da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, ao sacerdote ortodoxo e ex-candidato à presidência Padre Kelmon. Entre o público, um dos nomes mais falados foi o do deputado federalista Nikolas Ferreira (PL-MG), que foi a principal atração do ato em Belo Horizonte.
Michelle Bolsonaro foi a mais aplaudida pelo público – superando Tarcísio, o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol e até mesmo o pastor Silas Malafaia, os outros nomes mais populares. Às lágrimas, disse que sua família sofre uma “humilhação” pelas medidas cautelares impostas ao marido e fez várias referências bíblicas. Ela também é uma das cotadas para a disputa do ano que vem, porquê herdeira política do marido.
Responsável de um dos projetos de lei que propõe anistiar acusados de atos golpistas desde 2019 e tornar Bolsonaro novamente elegível, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) cobrou o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, de pautar o impeachment de Moraes, a quem chamou de “ditador” e “violador dos direitos humanos”.






O projeto de Sóstenes é um dos que podem entrar na taxa do Congresso depois o termo do julgamento, segundo a promessa dos bolsonaristas, que pressionam o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos) para colocar o tema em votação. Outra lado de aliados cogita uma versão do texto mais “branda”, diminuindo penas dos golpistas e de Bolsonaro, mas mantendo a sua inelegibilidade, o que abriria espaço para Tarcísio.
Em mais de meia hora de exposição, Malafaia chamou Lula de “traidor da pátria” – em resposta a uma fala que o petista usou em pronunciamento solene na noite de sábado, se referindo a Bolsonaro – e afirmou ser “perseguido político” por ter sido incluído na investigação sobre obstrução ao processo sobre a trama golpista.
O pastor mandou um carinho a Tarcísio, dizendo que ele estaria “sendo um leão” ao tutorar Bolsonaro. “Que papo é esse de vir cá manifestar que A, B ou C é candidato da direita. Calem a boca”, disse, sobre especulações de outros nomes de direita para a corrida presidencial.

Tarcísio de Freitas: entre a anistia e a suspeição
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez o exposição mais inflamado desde que se tornou um dos principais porta-vozes da campanha pela anistia de Bolsonaro. Chamou Moraes de “ditador” e disse que “ninguém mais aguenta a tirania de um ministro”, enquanto era ovacionado pelo público.
Antes de Tarcísio falar, a reportagem ouviu algumas pessoas expressarem suspeição sobre ele. Lembraram que o governador não esteve no último protesto na Avenida Paulista, no início de agosto, e que só mudou de postura para tutorar vocalmente a anistia de Bolsonaro há poucos dias.
“Ele precisa se lembrar que não era zero sem o Bolsonaro”, disse um dos manifestantes. “Se ele não falar zero sobre Moraes, é um oportunista”. Com o prosseguir do exposição, e principalmente depois hostilizar o ministro, as dúvidas parecem ter perdido.
O governador frisou que Bolsonaro é o líder da direita, que estaria sendo perseguido e seria fim de um julgamento injusto. “Deixa o Bolsonaro ir para a urna, qual é o problema”, questionou. Nos bastidores, porém, ele articula encabeçar uma provável placa presidencial em 2026, amealhando votos de eleitores do ex-presidente.




Clima morno em discussão da independência e anistia em Brasília
O governo federalista decidiu que a percentagem de frente do desfile de 7 de setembro em Brasília seria formada por civis, incluindo estudantes de colégios públicos de Brasília e entorno, e sem o tradicional abre-alas constituído por segmentos militares. Apesar da decisão envolver beneficiados da rede pública, o governador do Província Federalista, Ibaneis Rocha, não marcou presença no evento.
Quem empolgou a plateia foi a lado do Ministério da Saúde, graças ao destaque oferecido ao personagem Zé Gotinha – criado pelo artista plástico Darlan Rosa nos anos 1980, para estimular a vacinação infantil contra a poliomielite. Conforme o coche cândido com o personagem passava, a povo se empolgava, gritava e aplaudia, sob olhares animados e curiosos das crianças que povoavam o sítio.
Se no desfile solene do governo havia menção à soberania e outros temas caros à gestão Lula, porquê a realização da conferência mundial do clima (COP30) que será realizada pela primeira vez na história na Amazônia, em Belém, e o programa de investimentos federalista Novo PAC, na revelação de movimentos sociais e populares do Grito dos Excluídos a “soberania” foi, de indumento, o tema principal tanto na organização quanto no público presente.


Com público menor que o desfile, o Grito dos Excluídos, que conta com movimentos e entusiastas do campo da esquerda, manteve o padrão na edição de 2025 na capital federalista. Os manifestantes externaram seu base a organizações populares e sindicais, contra a ofensiva econômica do governo dos Estados Unidos contra o Brasil e contra a possibilidade de anistia dos réus da trama golpista. Muitos trajavam verdejante, amarelo ou branco, diminuindo o impacto visual do vermelho tradicional do movimento, o que o associava também visualmente à esquerda, uma estratégia de “retomada” de símbolos nacionais capitaneada pelo próprio Lula ao longo da semana.
Entre os participantes, percebiam-se diferentes prioridades quanto à teoria de independência e soberania. “Nesta data, o que eu mais quero é que tenhamos uma ‘independência apartidária’, que o Brasil volte a ser ‘um só’, que sejamos livres para que haja união”, disse uma das espectadoras, Fabíola dos Santos.
“Eu sonho com um Brasil livre, sem interferência externa, autônomo e garantindo sua soberania, porquê nós estamos fazendo hoje, lutando pela nossa soberania, que é o mais importante”, afirmou Moisés Pereira. “Libido uma independência não exclusivamente de outros países, da violência e de ataques variados, mas também libido uma soberania vernáculo, com investimento em instrução, saúde… para mim, isso também é independência, no sentido mais extenso da vocábulo”, opinou Luiz Eduardo Souza Silva.
Em frente ao gramado da Funarte, próximo à Torre de TV, em Brasília, à tarde, foi a vez do movimento bolsonarista marcar presença nos protestos do Reaja Brasil. Entre os nomes que estiveram no sítio pedindo por liberdade para Jair Bolsonaro estiveram a senadora Damares Alves (Republicanos), a deputada federalista Bia Kicis (PL) e o desembargador Sebastião Coelho, que atuou porquê um dos defensores no julgamento da trama golpista no STF.