Quantcast
Redução de escala 6×1 para 4×3: o pouco discutido impacto no meio ambiente - Mundo News
11 de Janeiro, 2025

Mundo News

Seu Mundo! Suas Notícias!

Redução de escala 6×1 para 4×3: o pouco discutido impacto no meio ambiente

8 min read
Mudança da escala 6x1 tem impacto que vai além do trabalhador e envolve questões públicas que...

A redução da graduação 6×1 para uma eventual 4×3, já testada fora do Brasil, poderia trazer efeitos pouco discutidos quanto ao meio envolvente, além das questões sociais e de produtividade, mais discutidas. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada federalista Erika Hilton (PSOL-SP), protocolada em 1º de maio deste ano, propõe a redução da trouxa horária máxima semanal de 44 para 36 horas, possibilitando, assim, três dias de sota por semana, o que tem efeitos na saúde do trabalhador e impactos na economia. A diferença massiva do protótipo de trabalho, no entanto, também apresenta efeitos no consumo energético, no trânsito urbano e na emissão de gases do efeito estufa.

Um dos principais efeitos imediatos esperados é a queda no consumo de força elétrica. De contrato com o líder de projetos do Instituto de Força e Meio Envolvente (Iema) Vinícius Oliveira da Silva, o padrão de consumo hoje restrito aos dois dias de finais de semana poderia ser prolongado, reduzindo a trouxa no sistema elétrico observado nos dias úteis. No Japão, onde a Microsoft já testou a semana de quatro dias dando folga a 2,3 milénio funcionários às sextas-feiras, a queda de consumo elétrico foi de 23%, além do aumento de produtividade registrado pela empresa, estimado em 40%.

“Vai ser menos empresas abrindo, quer proferir que são menos empresas ligando ar-condicionado, são menos empresas ligando motores elétricos para funcionarem os equipamentos das diversas indústrias, diversos serviços, diversos comércios”, estima Silva. “Certamente a redução da graduação 6x1 pela 4x3 traria benefícios indiretos para o meio envolvente, pois reduziria o congestionamento de trânsito em mais dias na semana”, complementa.

Os efeitos no tráfico urbano já foram destaque no relatório “Benefits from Auckland Road Decongestion”, realizado na Novidade Zelândia em 2017, que evidenciou não unicamente a redução dos congestionamentos nas principais rotas de Auckland, mas a subtracção das emissões de carbono em até 30%. Esse impacto seria apanhado graças ao menor tempo de veículos parados no trânsito, o que também resultaria em uma queda significativa do consumo de combustíveis fósseis e da poluição atmosférica.

A redução da graduação de trabalho poderia ter ainda mais impacto ambiental caso seja associada ao retorno do chamado horário de verão. “O horário de verão tem um favor no sentido de [que] ele vai atuar exatamente nos períodos onde se exige a maior quantidade de termelétricas operando [...] E ao fazer isso você precisa partir [de] menos [uso de] termelétricas, que elas são mais caras, ou seja, pesam na conta de luz das pessoas, e elas também emitem mais gás de efeito estufa e poluentes”, detalha o líder de projetos do Iema.

“Os pilotos [da escala 4x3] que estão sendo realizados de forma global mostram que, havendo um planejamento adequado e os ajustes às realidades locais, a gente tem um lucro. Tem muito potencial para explorar outros pilares de sustentabilidade, uma vez que o ambiental. Jornadas mais curtas podem reduzir o uso de recursos naturais, as emissões da pegada de carbono, promovendo mais práticas alinhadas com sustentabilidade climática”, explica Gabriela Brasil, diretora da comunidade 4 Day Week Global, organização sem fins lucrativos que realiza testes com empresas ao volta do mundo a termo de incentivar outros modelos de graduação de trabalho e que já promoveu experiências no Brasil. 

Graduação 4x3, produtividade e originalidade: uma vez que foram os testes no Brasil

Entre janeiro e julho deste ano, 19 empresas e seus 252 colaboradores fizeram segmento do piloto da “Semana de 4 dias”. No relatório final da ONG 4 Day Week, foram destacados avanços em aspectos organizacionais e individuais uma vez que uma redução de 72,8% na exaustão frequente dos trabalhadores, enquanto 49,6% relataram uma melhora significativa na qualidade do sono e 43,6% passaram a praticar atividades físicas com maior frequência. Exclusivamente 2,5% das pessoas envolvidas no teste alegaram que não gostariam que a jornada de quatro dias de trabalho fosse mantida em suas empresas.

“A gente precisa encontrar um estabilidade mais saudável entre trabalho e vida pessoal. [...] Quando a gente foca em produtividade, sucesso profissional, frequentemente se ignora o sota, se ignora o lazer, se ignora o autocuidado, que são fundamentais para essa vida sustentável”, defende Gabriela Brasil, que aponta que os testes feitos pela organização indicam um aumento de produtividade de 71,5% nas empresas que testaram o protótipo 4x3.

Uma dessas empresas foi a GR Assessoria Contábil, cuja equipe de 10 pessoas teve a graduação reduzida com dois grupos tendo folgas alternadas entre as segundas e sextas-feiras e inversão a cada trimestre. “Não é um pouco fácil de implementar e a adaptação é lenta e gradual, é preciso deixar velhos hábitos, crenças e metodologia de trabalho, que ficou no pretérito, e isso vale para os dois lados”, relata a sócia Maria Marta Neves. “Criamos um método para que [a produção equivalente] às 8 horas do dia de folga sejam minimamente distribuídas nos quatro dias úteis. Assim, conseguimos manter o estabilidade”.

A empresária destaca que a implementação tem funcionado com adaptações em momentos de subida demanda de tarefas, no qual a equipe corta o feriado semanal, uma vez que em dezembro, quando há uma demanda maior para os contabilistas. “São unicamente 20 dias para atender toda a demanda: 13º, férias coletivas de clientes, além do trabalho do dia a dia. Fica impossível”, admite. 

Outra brasileira que testa o formato desde janeiro foi a Rede Alimentare, de sustento coletiva para empresas. Segundo a coordenadora de Planejamento Estratégico, Caroline Soldi, a iniciativa partiu do diretor e a medida foi implementada inicialmente no administrativo, composta por 11 colaboradores. 

“Hoje já não é um ponto, assim, ‘a gente precisa fazer dar notório até quinta-feira’. Flui naturalmente. É normal. A gente trabalha de segunda a quinta, as nossas demandas estão adaptadas para essa trouxa horária de trabalho, e a gente dá conta de tudo”, explica Soldi, que disse verificar também aumento de produtividade e retenção dos profissionais. “A gente reduziu a zero gastos com rescisão”, garante. O protótipo, no entanto, ainda não tem previsão de ser expandido para o restante da empresa “devido à maior dificuldade de implementação”.

Entre 19 as companhias envolvidas na experiência, nove decidiram manter o formato de quatro dias em seguida o término do piloto, enquanto outras sete decidiram estender a experiência para estimar melhor os impactos de longo prazo. 

“Se é uma decisão da liderança para insignificante, ela tende a não funcionar. Se é uma decisão onde os colaboradores estão envolvidos, trazendo a participação deles, uma vez que que uma tarefa pode ser otimizada, com pesquisa para entender os pontos que são realizados, avaliando urgência, ideias, progresso, pensando em soluções, medindo o impacto… Tudo isso é importante para fazer uma mudança de jornada”, completa Brasil. 

Pesquisadores que fizeram testes da graduação 4x3 ao volta do mundo refutam a teoria de que a redução impactaria negativamente a economia. “Nós vimos em todos os países que reduziram a semana de trabalho, por exemplo, de 6 dias para 5, que já foi há quase 100 anos nos Estados Unidos, nunca piorou a economia. Se surpreenderam sempre, os economistas, porque a economia acabou por funcionar tão muito uma vez que antes, ou ainda melhor, com menos horas de trabalho”, afirma o economista português Pedro Gomes, professor da Universidade de Londres e responsável do livro Sexta-feira é o novo sábado.

Gomes também explica que a dinâmica do mercado exige “adaptação procedente” em cada setor. “[A jornada] Para os jornalistas é muito dissemelhante dos professores, das pessoas que trabalham no restaurante, nos hospitais, portanto, mesmo uma economia que funciona com um termo de semana de dois dias, é muito dissemelhante para toda a gente [...] Uma semana de quatro dias não seria o mesmo para as pessoas que trabalham no restaurante, ou nos bancos”, afirma, destacando ainda que a redução da graduação de trabalho e o lucro do tempo livre não se voltam unicamente a momentos de lazer, mas permitem se ter novas ideias que beneficiem o mercado, e uma vez que colocá-las em prática. 

O professor de psicologia do Meio Universitário de Brasília (Ceub) Carlos Manoel Rodrigues complementa que a falta do tempo de sota razão uma perda cognitiva que impacta na originalidade em si. “Com os períodos longos de trabalho, sem o sota, a gente tem uma redução da capacidade da memória que vem aos 40%, a partir de 45 anos, por exemplo, porque você já tem o efeito do envelhecimento, mas também tem o efeito desse estado de alerta permanente”, explica.

Ou por outra, Rodrigues reforça que trabalhadores que conseguem desconectar-se do envolvente de trabalho têm mais oportunidades de vivenciar experiências variadas, o que contribui para a originalidade: “A questão não é só o traje do tempo, mas a qualidade desse tempo de sota. Por exemplo, trabalha de segunda a sexta, mas sábado, domingo, você está no celular respondendo coisas de trabalho, logo, você não está descansando”. “O tempo livre não é tempo morto para a economia [...] Vamos aos restaurantes, aos hotéis, à cultura, aos teatros, cinema, e portanto há muitas indústrias que [se] beneficiariam diretamente de mais tempo livre”, complementa.

Resistência ainda é generalizada

Apesar das pesquisas já realizadas, os pesquisadores explicam que, mesmo em países nos quais os testes alcançaram supino número de empresas e colaboradores, existe uma tendência procedente à mudança que vem do próprio setor da economia. 

“Há a visão de que, se baixarmos [o tempo de serviço], se trabalharmos menos, a economia vai tombar, o PIB vai minguar [...] Depois há uma certa visão um pouco moralista, um pouco filosófica, [de] que o nosso valor vem do trabalho, temos de estar a trabalhar [...] quando não estamos a trabalhar, estamos preguiçosos, não contribuímos [com a sociedade]”, explica Pedro Gomes. 

Gabriela Brasil argumenta que a falta de aprofundamento no debate, que apresente dados e testes já realizados, pode produzir um cenário que facilite a disseminação de mitos. Um exemplo seria uma vez que, nas últimas audiências públicas para debater a subtracção da graduação 6x1, deputados críticos à PEC defendiam, sem embasamento, que, caso a PEC fosse aprovada, as empresas teriam mais gastos em contratações, cujos custos recairiam sobre os próprios trabalhadores.

“Quando os empresários e os empregadores entendem que a redução da jornada, por exemplo, pode diminuir o absenteísmo, aumentar a produtividade, melhorar a rentabilidade, atrair talentos, aí a gente começa a trespassar do campo das opiniões vagas e do siso generalidade e entra no terreno das possibilidades reais”, alerta.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Copyright © All rights reserved. | Newsphere by AF themes.