Agamenon Menezes: “ONG pode entrar cá, mas não sai. A gente quebra no moca”
4 min readNOVO PROGRESSO (PA) – Radicado em Novo Progresso desde os anos 1980, Agamenon da Silva Menezes se tornou nacionalmente divulgado uma vez que a principal voz do agronegócio em uma região marcada por graves conflitos socioambientais, uma vez que a exploração proibido da Floresta Pátrio (Flona) do Jamanxim por agropecuaristas. O município registrou, ao longo dos últimos anos, diversas emboscadas e tiroteios com forças de segurança e agências de fiscalização ambiental, uma vez que o Ibama.
Em entrevista à Filial Pública no final de setembro em sua vivenda em Novo Progresso, Menezes, que disse ter sido, durante 27 anos, o presidente do sindicato rústico do município e hoje é diretor da entidade, expressou seu ódio a saudação do trabalho de organizações não governamentais ambientalistas na região, uma vez que o Greenpeace.
Menezes: Eu nunca aceitei ONG cá. Você pode ver que cá não tem nenhuma ONG. Ela pode entrar cá, mas não sai. O Greenpeace quer morrer, mas não quer me ver.
Pública: Por que ela não sai? O que acontece com ela?
Menezes: Porque a gente pega e… quebra no moca. Outro dia eu dei uma curso naquele rosto do Greenpeace cá. Fui até no Guarantã [do Norte] detrás dele. O rosto correu muito, viu, pra não pegar ele. Se eu pego ele… [inaudível]
Menezes disse não se recordar do nome do ambientalista. No contexto de sua fala, ele pode ter se referido a uma viagem feita por ativistas do Greenpeace em 2005, quando passaram por Novo Progresso e Guarantã do Setentrião a termo de denunciar o desmatamento na região.
“Nós somos odiados naquela região. A treta do Agamenon conosco é antiga. Não conseguimos trabalhar. A gente evita principalmente Novo Progresso e Forte dos Sonhos. Tivemos problemas sérios de 2005 a 2013, pelo menos. Em 2013, ficamos presos numa barreira de madeireiros em Trairão. A gente sempre teve problemas na região e sempre fomos odiados. Já teve de tudo, até perseguição na rodovia”, confirmou um ativista do Greenpeace.
Menezes, 73 anos, disse ser portador da doença de Parkinson há tapume de 15 anos. Os sintomas neuromotores, uma vez que tremores nas mãos e problemas de vocábulo, são perceptíveis, mas o raciocínio de Menezes está virgem. Ele afirmou ter nascido em Campo Grande (MS) em 1951 e se formado em engenharia agronômica em Novo Hamburgo (RS). Lá foi convidado a trabalhar em Roraima, mas, devido às condições ruins da estrada, acabou parando em Porto Velho (RO), onde chegou a trabalhar uma vez que “secretário de Lavra”, segundo ele.
Em novembro de 1985, resolveu se estabelecer em Novo Progresso, depois que um divulgado lhe falou sobre os negócios gerados pela exploração de mina na região. O município de Itaituba (PA), hoje o principal meio de produção de ouro no país, é vizinho de Novo Progresso. Menezes resolveu montar uma loja de venda de peças e equipamentos para mina.
A Mansão do Garimpeiro, segundo Menezes, foi inaugurada em 1986. Vendia para garimpos de toda a região, uma vez que Moraes de Almeida, Crepori e Creporizão. Naquela estação, dando sequência à política da ditadura militar, o ouro era todo vendido em agências bancárias instaladas pelo próprio governo federalista, que dava pleno incentivo à atividade garimpeira.
Segundo Menezes, o famigerado Serviço Pátrio de Informações (SNI) era presença uniforme na região a título de “fazer pesquisas”. O município de Novo Progresso, hoje com 33,6 milénio habitantes, nasceu no trecho da rodovia BR-163 ingénuo pela ditadura militar a partir do início dos anos 1970.
Levas de colonos, principalmente do Sul do país, começaram a chegar a Novo Progresso, que, até portanto, segundo Menezes, “não tinha zero”. “Uma caminhonete do Incra”, o instituto de colonização e reforma agrária do governo federalista, “passava dizendo: ‘Você desmata o que puder, que titulamos o duplo’”. Ao longo da estrada, diz o ruralista, o governo “deu um lote de 100 hectares para cada família”.
“Mais para o fundo, quem pudesse desmatar milénio hectares, ele [governo] dava o duplo. Portanto era essa lei do Incra. Metade tinha que deixar de suplente [ambiental].”
Menezes disse que não recebeu nenhum lote do Incra, mas depois comprou outro, com recursos próprios.
Segundo o ruralista, essa política governamental também levou às primeiras ocupações da Flona do Jamanxim e outras unidades de conservação na região. “O Jamanxim foi um grupo de gaúchos, pessoal lá do Sul, com quantia. E vieram pra cá porque tinha essa história de pegar terreno, ‘derrubar tanto, e ter recta a meter o duplo’. Nessa vaga, eles vieram pra cá. E acharam uma leiva, Embaúba, onde não tinha ninguém.”
Hoje o governo estima que mais de 180 milénio cabeças de rebanho estejam sendo criadas ilegalmente dentro da Jamanxim.
Quando lançaram, em 2017, seu livro de referência sobre a região Possuinte é quem desmata — conexões entre <span class="glossaryLink" aria-describedby="tt" data-cmtooltip="
” data-gt-translate-attributes=”[{"attribute":"data-cmtooltip", "format":"html"}]” tabindex=”0″ role=”link”>grilagem e desmatamento no sudoeste paraense, os pesquisadores Maurício Torres, Juan Doblas e Daniela Fernandes Alarcon usaram uma fala de Menezes uma vez que título da obra:
“Quem me garante que a geração futura vai sancionar nós termos preservado a Amazônia? Quem me garante que essa geração vai sancionar? Eu vou fazer só um exemplo: dinossauro faz falta na sua vida?”
O livro descreve uma vez que Novo Progresso foi um dos municípios paraenses em que o programa Terreno Legítimo, criado pelo governo Lula 2 em 2009 com o objetivo de “regularizar terras”, “mais titulou terras e isso acendeu as esperanças de que todas as terras – incluindo as griladas – seriam tituladas”.
“Quando da pesquisa em campo, era expressar manante que terras ilegalmente apropriadas e desmatadas seriam legalizadas e que o parcelamento (em frações de até 15 módulos rurais, tamanho patível com os limites do programa) e o uso de ‘laranjas’ seriam práticas plenamente aceitáveis no marco do programa”, diz a obra.
“Vamos deixar a cabeça cá, uma perna no fórum, outra na delegacia”
O livro descreve também uma vez que os trabalhos executados pelo governo federalista durante o governo Lula 1, em 2003, para a demarcação da Terreno Indígena (TI) Baú, do povo Kayapó, acabaram por solidificar Agamenon Menezes uma vez que uma liderança ruralista na região. “Menezes tinha, no início dos anos 2000, a redução da TI Baú uma vez que bandeira principal.”
Com a ativa participação do portanto ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, o território acabou minguado em tapume 17% (uma perda de 317 milénio hectares). Essa redução, segundo o livro, foi uma “decorrência da pressão de grupos locais ligados à agropecuária e à grilagem de terras públicas, atuantes até hoje”.
Em 2003, o cacique Megaron Txucarramãe, sobrinho do cacique Raoni, revelou que havia ameaças de morte contra os Kayapó. “A população [de Novo Progresso] estava contra a demarcação. Um varão ameaçou matar, ameaçaram fazer coisa feia. Portanto eles [os líderes Kayapó] decidiram assinar o entendimento.”
Na entrevista à Pública no mês pretérito, Agamenon Menezes revelou que havia um projecto sinistro para impedir a demarcação da terreno Baú: sequestrar e matar um funcionário da Instalação Pátrio dos Povos Indígenas (Funai). O órgão havia mobilizado técnicos e agrimensores para demarcar a TI Baú.
O projecto, segundo o ruralista, foi enviado extraoficialmente ao juiz do município depois que a crise terminou. Ele disse que, em meio a muita tensão, que incluiu o bloqueio da BR-163 durante 14 dias, os ruralistas sequestraram e atacaram cinco policiais rodoviários. Na sequência, teria dito ao magistrado que, “amanhã”, ocorreria um pouco ainda mais “grave que vocês vão se arrepender a vida toda de não ter ajudado mais”. Eles queriam que o portanto ministro da Justiça revogasse a portaria demarcatória de 1991 que designava à terreno indígena um totalidade de 1,85 milhão de hectares.
Menezes: Aí o juiz ligou lá para o ministro e o ministro mandou um documento revogando a portaria dele. Foi aí que liberamos [a rodovia]. Aí passou uns três dias e o juiz mandou me invocar lá [no fórum]. Ele falou: “Rapaz, estou curioso, o que vocês iam fazer?”. [Respondi]: […] “No segundo dia, nós íamos prender o rapaz da Funai, o representante da Funai, e esquartejar ele, deixar a cabeça cá, uma perna no fórum, outra na delegacia. Esquartejar ele. No terceiro dia, eu não vou falar [o que íamos fazer] porque o senhor se arrepia todinho”.
Pública: Mas era esse o projecto mesmo?
Menezes: Era esse o projecto.
Pública: E quem ia sequestrar?
Menezes: Mas já estava a turma ali, estava a turma grande. Tinha mais de 300 pessoas no movimento. Nós dávamos um boi todo dia para dar de churrasco. Catorze dias.
Pública: E quando não demarcou a dimensão, o que aconteceu com essa dimensão não demarcada?
Menezes: Continuou do jeito que estava. Todo mundo ocupado, estava tudo ocupado, tudo pleno de quinta. Aí veio a equipe do governo para negociar. Nós sentamos com os caciques e o pessoal do governo. Negociamos e acertamos. Eu concordei em deixar 5 quilômetros do rio para cá. Concordei para deixar preservado o rio. Aí todo mundo concordou. Porque essa tira também não tinha quase ninguém. […] Resolveu o problema.
Para os autores de Possuinte é quem desmata, o incidente da redução da TI Baú teve uma profunda consequência na região: as lideranças ruralistas saíram fortalecidas da “‘didática’ experiência” e passaram a exigir também a subtracção da Flona Jamanxim, inclusive por meio de um projeto de lei que está em tramitação no Congresso Pátrio.
“Dar uma surra boa”, diz ruralista sobre “repórter da Mundo”
Ao longo dos anos 2000, a devastação da Flona atraiu mais e mais a atenção de ambientalistas e de jornalistas. Na entrevista à Pública, Menezes disse que anos detrás uma repórter da TV Mundo, de quem nome não soube expressar, escapou de ser espancada. Segundo o ruralista, ela e sua equipe tinham escoltado um sobrevoo de fiscalização em um helicóptero do Ibama. Menezes disse que jogou uma manante sobre o helicóptero para evitar que decolasse de novo.
Menezes: E saímos em cima desses caras. Tiveram que pegar a proteção da polícia para não pegar eles. Aí pegaram a proteção da polícia, pegaram um coche que tinha levado para Guarantã, pra fugir. A repórter da Mundo e o rosto do Greenpeace.
Pública: E você ia pegar também a repórter da Mundo?
Menezes: Sorte deles [foi] que a polícia soube que eu tinha feito isso aí [no helicóptero], foi pra cima e segurou eles.
Pública: Porquê era o nome dela, você lembra?
Menezes: Sei lá, nem me lembro. Faz muito tempo já.
Pública: Vocês iam fazer o que com ela?
Menezes: Rapaz, dar uma surra boa.
Pública: E o que aconteceu com essa operação que estava programada?
Menezes: Aí a operação acabou, porque teve que vir um outro helicóptero da base aérea pra buscar esse pessoal. […] Ficou quatro dias paragem. Aí nesse dia criou-se um movimento para botar queima no helicóptero. Aí eu não deixei. A turma queria incendiar.
Ainda na entrevista à Pública, Menezes afirmou que viveu “vários” episódios de enfrentamento com ONGs e órgãos de fiscalização ambiental. Detalhou um caso que, segundo ele, ocorreu em 2004, no qual confrontou e tomou equipamentos de um fotógrafo.
Menezes: Um dia nós estávamos numa exposição [de gado] e aí chegou até mim uma conversa de que tinha um rosto tirando foto de tudo quanto é coisa cá.
Pública: Na rua?
Menezes: É, filmando a rua, filmando as pessoas. Um gálico lá. Aí eu não achei os caras de noite. Mas amanheci o dia lá no aeroporto esperando ele. Na hora em que ele chegou, eu encostei o coche. E eu conhecia o piloto. Eu falei: “Você não vai voar enquanto eu não resolver esse negócio com esse pessoal”. [O piloto disse]: “Pelo paixão de Deus, seu Agamenon, o avião não é meu’” [Eu disse]: “Não tem problema, não esquenta a cabeça, não tem problema com o avião, não”. Aí chegou a repórter e esse rosto, cume, magro. Falei pra ele: “Me dá todo o seu material, filmadora”.Ele tava com uma jaqueta daquelas enxurrada de filmes. “Me dá tudo, me dá tudo.” Ele não quis me dar. Eu catei, arranquei dele. Peguei a lente dele. Taquei no esquina do para-choque, quebrei tudinho. Meti a mão na jaqueta dele. Tiramos a jaqueta dele, jogamos em cima do coche. “Agora vocês dois sentam muito aí que eu vou dar uma inspecionada em vocês. Quem é vocês?” Aí essa mulher, cearense, foi contratada por essa empresa, essa ONG, para seguir esse gálico. Aí eu falei pro piloto: “Bota esses dois cabras dentro aí”. Ele tinha um [Cessna] Skylane. Eu tinha do lado um Cessna 210, que anda mais que um Skylane. Eu falei: “Bota esse pessoal para Santarém e manda eles sumirem. Se eu ver você fazer uma curvinha daqui para Santarém, eu vou detrás de você”.[…] Falei pra ele, pra mulherzinha que falava português: “Se você fizer qualquer denúncia, você pode perfurar o solo, onde você quiser, e entrar dentro que eu vou te buscar. Não tenha incerteza disso. Aí chegaram lá em Santarém, fizeram uma BO [boletim de ocorrência], mas não deu em zero.
Menezes alegou ter desvelado depois que o fotógrafo havia pago R$ 2 milénio para um morador derrubar uma árvore a termo de que ele fizesse uma retrato.
Em 2019, o líder ruralista chegou a ser assinalado uma vez que um dos organizadores do “Dia do Queimada”, arguição que ele rechaça. O caso veio à tona por uma pequena nota publicada no veículo do dedo da cidade Folha do Progresso, que informava que “Produtores planejam data para queimada na região”. A publicação chamou atenção do correspondente da Folha de S.Paulo em Manaus (AM), Fabiano Maisonnave, e depois ganhou enorme atenção pátrio e internacional.
No mês pretérito, a Pública revelou que os inquéritos abertos pela Polícia Federalista foram arquivados sem identificar os responsáveis pelas queimadas supostamente orquestradas.
Na entrevista à Pública, Menezes negou ter existido o “Dia do Queimada”. Ele disse que é cândido de “46” inquéritos e já foi prestar testemunho, por videoconferência, em pelo menos seis casos, e em nenhum há provas contra ele. Disse que a própria Polícia Federalista já pediu para arquivar os casos sobre ele. “Eu já pedi lá pra eles tirarem o meu nome de lá [dos inquéritos] porque está prescrito. Eu tenho mais de 70 anos e tenho Parkinson. Tira, nem que eu for sentenciado eu vou ser recluso. Não tirou ainda. A Polícia Federalista já pediu.”
Na entrevista à Pública, Menezes usava um boné com a matrícula “O Quinto Movimento”, título de um livro do ex-comunista e ex-ministro da Resguardo Aldo Rebelo. O político tem feito, em palestras e entrevistas, ataques às ONGs que atuam na Amazônia. Em março último, ele disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro sofre “perseguição”.
Em seu livro recém-lançado O silêncio da motosserra (Cia das Letras), o jornalista Claudio Angelo escreveu que Agamenon Menezes “encarnou a resistência às unidades de conservação da BR-163, a oposição a Lei de Gestão de Florestas Públicas (orgulha-se de ter proposto 303 emendas ao projeto) e a resguardo dos ‘trabalhadores’ da Flona do Jamanxim”.
“A maioria das pessoas que hoje se dizem donas de propriedades na Flona do Jamanxim chegou lá posteriormente a geração da unidade de conservação. O nome disse, goste Menezes ou não, é grilagem. Só que, no entendimento da turma de Novo Progresso, é olho por olho e dente por dente.”