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Alerta das florestas: vegetação pode estar perdendo capacidade de aspirar carbono - Mundo News
21 de Novembro, 2024

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Alerta das florestas: vegetação pode estar perdendo capacidade de aspirar carbono

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Problema é ainda mais sério porque maioria dos países conta com florestas para impedir aumento da...

Florestas e outros biomas terrestres não conseguiram aspirar gás carbônico em ritmo suficiente para fazer frente às emissões de combustíveis fósseis em 2023, levando a uma taxa de desenvolvimento de CO2 na atmosfera 86% maior do que no ano anterior, segundo estudo europeu publicado na revista National Science Review, em outubro. 

Os pesquisadores concluíram que a subida foi provocada por um esgotamento na capacidade dos ecossistemas de aspirar o gás do efeito estufa. Isso ocorreu em um ano que foi extremamente quente, com secas intensas na floresta amazônica e enormes incêndios florestais no Canadá. 

O estudo acendeu um alerta logo antes da 29ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP29), que começou na segunda-feira, 11 de novembro, em Baku, capital do Azerbaijão. Dos 143 países com metas de redução de emissões, que serão novamente discutidas a partir da COP, pelo menos 118 deles dependem de suas florestas para atingir os objetivos e evitar que a Terreno aqueça mais de 1,5 ºC na confrontação com a temperatura média do período pré-industrial. 

Por décadas a fio, as florestas, a vegetação e o solo dos biomas vêm ajudando a humanidade nessa tarefa, absorvendo grande segmento – murado de 30% – das emissões de gás carbônico provocadas pela queima de combustíveis fósseis. Isso acontece naturalmente por meio da fotossíntese – processo de “alimento” das vegetais, por meio do qual elas absorvem o CO2 na atmosfera para produzir a matéria-prima necessária para seu desenvolvimento. 

O estudo europeu e outras pesquisas, no entanto, apontam que essa sucção pode estar enfraquecendo, pelo menos em algumas partes do mundo.

Por que isso importa?

  • As florestas absorvem grande segmento do gás carbônico que está na atmosfera. O gás contribui para o efeito estufa, aumentando a temperatura global.
  • Se as florestas absorverem menos carbono, será preciso mais ações para impedir o aumento da temperatura, que torna eventos extremos cada vez mais comuns.

Ainda há muitas dúvidas na comunidade científica sobre o tamanho desse esgotamento, suas causas, se ele varia ao longo do tempo e se seria reversível. Mas as evidências preliminares, caso confirmadas, preocupam.

“Se as florestas e os oceanos deixarem de remover o gás carbônico porquê vinham removendo há décadas, nossas metas teriam que ser muito mais ambiciosas, teríamos que dar uma superacelerada no incisão de emissões – e estamos muito longe disso”, diz o meteorologista Carlos Superior, um dos maiores especialistas brasileiros em mudanças climáticas. 

No ano pretérito, as emissões cresceram 1,3%. Segundo o relatório mais recente da ONU sobre o tema, se todas as metas dos países fossem realmente cumpridas, ainda estaríamos caminhando para um aquecimento de 2,6 ºC até o termo do século na confrontação com a era pré-industrial. 

Se 2023 já tinha sido o ano mais quente registrado na história, leste ano promete ser ainda pior. Segundo levantamento do observatório Copernicus, da União Europeia, 2024 deve se tornar o primeiro ano a registrar um aumento da temperatura média global supra de 1,5 ºC. 

Nesse cenário – e enquanto falhamos miseravelmente em trinchar as emissões – estamos todos contando com a sucção realizada pelas florestas.

Amazônia pode estar se tornando natividade de carbono

Para Philippe Ciais, um dos autores do estudo publicado em outubro e diretor do Laboratório para Ciências Climáticas e Ambientais, instituto de pesquisa gálico, a grande pergunta é porquê essa capacidade de sucção varia no tempo e se ela continuará retirando da atmosfera a mesma quantidade de gás carbônico das emissões humanas porquê fez no pretérito. 

Em artigo publicado em agosto, outro grupo de pesquisadores europeus indicou uma perda de força de 25% na sucção de florestas e vegetação da Europa entre 2000 e 2010. 

“Essa redução parece ser impulsionada por uma combinação de fatores: aumento na intensidade do manejo florestal (extração controlada de madeira e outros produtos florestais) e uma elevação na frequência e seriedade de distúrbios naturais”, explicou Ronny Lauerwald, da universidade francesa Paris-Saclay e um dos autores do estudo, em entrevista à Pública

“No entanto, quantificar com precisão a taxa de cada um desses fatores para a capacidade decrescente de sucção de CO₂ das florestas europeias continua sendo um duelo significativo”, disse ele.

No Brasil, alguns levantamentos científicos também apontam para um esgotamento da floresta amazônica. Pior ainda: algumas partes da floresta, principalmente as mais afetadas por queimadas e desmatamento, já estariam se tornando natividade de carbono, porquê mostram os trabalhos conduzidos pela pesquisador Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Vernáculo de Pesquisas Espaciais (<span class="glossaryLink" aria-describedby="tt" data-cmtooltip="

INPE
&lt;!– wp:paragraph –&gt;Instituto Vernáculo de Pesquisas Espaciais é um instituto federalista brasílio devotado à pesquisa e exploração espacial, criado em 1961&lt;br/&gt;&lt;!– /wp:paragraph –&gt;

” data-gt-translate-attributes=”[{"attribute":"data-cmtooltip", "format":"html"}]” tabindex=”0″ role=”link”>Inpe).

“As estimativas do balanço de carbono da Amazônia na última dez indicam que a Amazônia porquê um todo é agora uma natividade de carbono (ou seja, perde carbono para a atmosfera) na ordem de 1,1 Gt CO2 por ano”, diz um artigo recente assinado por Gatti e outros pesquisadores.

“A Amazônia vem atuando historicamente porquê sumidouro [absorvendo carbono], porém isso vem perdendo força, uma redução de 30% desde os anos 1990”, diz o ecólogo David Lapola, pesquisador do Núcleo de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Lavoura da Unicamp e coordenador do AmazonFACE, um experimento de campo inédito que quer, justamente, entender até onde vai a sucção de CO2 pela floresta. 

Por meio de grandes torres equipadas com sensores em uma extensão de floresta madura, o experimento vai expor a vegetação a uma concentração maior de CO2 do que a atual para entender o que pode intercorrer com a floresta no porvir. Em tese, quanto mais CO2, mais eficiente é a fotossíntese.

“Mas as observações estão mostrando que esse efeito tem seus limites”, diz Lapola. O pesquisador explica que as principais hipóteses para essa limitação são duas: a primeira seria a da falta de nutrientes no solo, que impede a sucção efetiva do carbono pela vegetal. Na Amazônia, o principal problema pode ser a exiguidade de fósforo. 

A segunda hipótese é a mudança climática, com o aumento dos extremos (mais dias de temperaturas muito altas, secas intensas seguidas por chuvas também extremas), que estaria afetando a capacidade da floresta de funcionar porquê funcionou por milhares de anos. 

“Quando falamos da Amazônia porquê sumidouro [que absorve CO2], estamos falando o quanto a floresta vai nos ajudar a sofrear a mudança do clima. Mas tem o outro lado dessa moeda, que é a floresta em si estar vulnerável à mudança climática”, afirma Lapola.

O pesquisador Marcos Costa, professor da Universidade Federalista de Viçosa (UFV) e um dos autores do último grande relatório do Quadro Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (<span class="glossaryLink" aria-describedby="tt" data-cmtooltip="

IPCC
&lt;!– wp:paragraph –&gt;É o corpo científico internacional mais importante em alertar sobre os perigos das mudanças climáticas e a mostrar porquê é urgente que se reduza as emissões de gases de efeito estufa provenientes de atividades humanas – em peculiar a queima de combustíveis fósseis.&lt;br/&gt;&lt;!– /wp:paragraph –&gt;

” data-gt-translate-attributes=”[{"attribute":"data-cmtooltip", "format":"html"}]” tabindex=”0″ role=”link”>IPCC), que reúne as evidências científicas de ponta sobre o clima, afirma que é preciso olhar para o balanço global para calcular o tamanho do problema.

“Aparentemente, os enfraquecimentos dos sumidouros de carbono [biomas que atuam absorvendo o gás] são locais, ainda não vemos uma tendência global.” 

“Na Amazônia está enfraquecendo? Muito provavelmente está, temos os artigos indicando até a mudança de sinal, de sumidouro para natividade, o que é muito preocupante. Mas globalmente o que importa é que, se perdeu a capacidade cá, outras florestas ainda estão compensando”, explica Costa. 

Faltou combinar com a floresta: modelos desatualizados e metas irreais

Em nível lugar, o esgotamento dos sumidouros importa para os países em seus esforços de sofrear emissões. O caso da Finlândia é ilustrativo. 

O país nórdico se comprometeu a se tornar carbono neutro até 2035 – cortando emissões e compensando as restantes com a capacidade de sucção de sua vasta cobertura florestal. Faltou, porém, combinar com a floresta. Entre 2009 e 2022, a sucção por floresta, vegetação e solo diminuiu 90%, segundo um levantamento do jornal britânico The Guardian. Assim, apesar de o país ter despegado 43% das emissões em todos os setores, o balanço líquido está aproximadamente no mesmo nível da dez de 1990. 

Um conforto para os países que usam as remoções florestais para calcular suas metas de cortes de emissões é que ainda falta consenso científico sobre o tamanho das limitações na capacidade comprovada das florestas de aspirar CO2

Pelas diretrizes atuais, nas quais os países se baseiam para reportar suas emissões, florestas em pé absorvem carbono. O Brasil, por exemplo, contabiliza as remoções feitas pela vegetação de áreas protegidas, porquê unidades de conservação e terras indígenas.

Marcos Costa, da UFV, aponta que faltam recursos para melhorar os modelos de vegetação, sobre os quais ainda há “grandes incertezas”. Por anos ele trabalhou nesses cálculos, mas diz que, na última dez, os investimentos caíram muito, estagnando o desenvolvimento. 

E há ainda um passo anterior, diz Costa: para nutrir os modelos, seria necessário produzir muito mais dados com experimentos de campo sobre a capacidade de sucção das florestas e suas limitações – porquê o AmazonFACE, que deve debutar a operar no ano que vem.

“Os modelos precisam considerar melhor o queimação, a degradação florestal e a mortalidade causada pelas secas, que estão no universal ausentes das equações”, diz Ciais, do Laboratório para Ciências Climáticas e Ambientais. Para ele, essas ausências tornam essas projeções “muito otimistas” em relação aos sumidouros terrestres.

Enquanto isso, diferentes países, porquê o Brasil, continuam contando com a capacidade de suas florestas de aspirar carbono para limitar o aquecimento global. 

“A pergunta prática mais urgente é se medidas eficazes podem ser implementadas para evitar a degradação suplementar dos sumidouros de carbono”, afirma o pesquisador Lauerwald. “Abordar essa questão pode fornecer orientações críticas para a política climática.” 

No caso brasílio, prometer que a Amazônia continue absorvendo carbono passa, obrigatoriamente, por sofrear o desmatamento e a degradação da floresta. A boa notícia é que pelo menos a primeira segmento dessa tarefa vem sendo cumprida. Segundo os dados oficiais do Inpe, a taxa de desmatamento na Amazônia Lícito caiu 30,6% entre agosto de 2023 e julho de 2024, atingindo a menor extensão desde 2015. Trata-se da terceira queda consecutiva, um proveito indispensável para a manutenção da floresta. 

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