‘Dia do Desejo’: pacientes de hospital podem comer o que quiserem a cada 15 dias
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É muito paixão envolvido! Um projeto simples, mas pleno de valimento tem chamado atenção e servido de exemplo para todo o país. O Hospital Universal de Fortaleza (HGF), criou o “Dia do Libido”, para tornar a rotina de internação em momentos de aconchego e memória afetiva. A cada 15 dias, pessoas em tratamento podem escolher uma repasto próprio, feita com paixão por familiares, que traz o sabor da saudade e a sensação de estar em lar.
O projeto foi criado pelo setor de hematologia com o suporte da Escola de Saúde Pública do Ceará. Mais do que matar a vontade de um prato específico, a ação oferece desvelo emocional, guarida e conexão com quem está longe.
Com o perfume de feijoeiro fresquinho, pamonha ou macarrão com frango assado, os corredores do hospital se enchem de histórias, lágrimas e sorrisos. Por trás de cada marmita, há lembranças, abraços invisíveis e muito afeto compartilhado.
A escuta é segmento do processo
Tudo começa com uma conversa. A equipe multiprofissional do hospital escuta atentamente o libido de cada paciente, anotando cuidadosamente o prato que representa mais do que um simples paladar: é um símbolo de paixão e de memória.
Os familiares recebem orientações nutricionais para preparar a repasto de forma segura, respeitando possíveis restrições alimentares. Quando o manjar chega ao hospital, ele passa por uma triagem rigorosa antes de seguir para as mãos dos pacientes.
“A gente inspeciona tudo com muito carinho. Retira embalagens externas, usa máscara e luvas, e prepara o carrinho com suco, fruta e os utensílios certos. Não pode ter palitos, nem objetos cortantes. É um processo pleno de desvelo, mas também de emoção”, conta a nutricionista Rosângela Alencar à Prefeitura de Fortaleza.
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Mais do que comida
Para muitos pacientes, aquele prato escolhido representa muito mais do que uma comida. É uma forma de se reconectar com quem amam, com a puerícia ou com a própria identidade.
“Às vezes, o paciente pede a comida preferida dos filhos, só para sentir que está perto deles. Outros falam de receitas da mãe ou da avó. A comida vira um portal. Em poucos minutos, eles estão em lar de novo”, explica o assistente social Marcos Paulo.
O médico Rodrigo Monteiro reforça que o foco do projeto é o desvelo integral. “Tratamos pacientes que enfrentam dores, internações longas, saudade e impaciência. Esse prato, feito com paixão, reacende a vontade de viver, de continuar lutando”, diz.
Sabor que emociona
Os relatos dos pacientes emocionam. Antônio Zildo, de 52 anos, internado para tratamento de leucemia, chorou ao falar da comida feita pela filha. “Não tem confrontação. Quando é de lar, a gente sente o sabor com o coração. É dissemelhante”, afirmou.
Magna Kelly, de 22 anos, lembra da alegria de manducar pamonha, prato típico de sua terreno, Potiretama. “Foi uma vez que se eu voltasse pra lar. Depois, comi macarrão, sorvete… Me senti amparada, uma vez que se alguém dissesse: você não está sozinha”, contou.
“Quando a gente ouve o que os pacientes desejam manducar, percebe que ali tem muito mais do que vontade. Tem saudade, tem carinho, tem paixão. E isso também é segmento do tratamento”, finaliza Marcos Paulo.
As receitas são preparadas por familiares, com orientação de nutricionistas do hospital – Foto: Prefeitura de Fortaleza