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MDB é o partido brasílico com mais políticos que seriam descendentes de escravagistas - Mundo News
27 de Novembro, 2024

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MDB é o partido brasílico com mais políticos que seriam descendentes de escravagistas

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Dos 33 políticos e autoridades brasileiras com ancestrais escravizadores, seis são do MDB ...

A investigação foi feita com escora do Pulitzer Center

O Movimento Democrático Brasílico (MDB) é o partido que reúne o maior número de políticos que teriam avós escravizadores. É o que revela a investigação inédita da Dependência Pública sobre as genealogias de políticos e autoridades brasileiras.  

A partir da consulta e estudo de centenas de documentos foi provável constatar ancestrais que teriam sido escravistas nas genealogias de pelo menos seis políticos do MDB. Nesse ranking, o segundo partido é o PL, com cinco nomes. O PP e o PT têm quatro cada um. União Brasil, Podemos, PSB e PSDB, três. A investigação encontrou um político com avós que teriam escravizado pessoas nos partidos Novo, Republicanos e PRD. 

Dois dos emedebistas que teriam avós escravistas são os ex-presidentes Itamar Franco e José Sarney. Outros dois são pai e fruto: o senador Jader Barbalho e o governador do Pará, Helder Barbalho. Os demais políticos são os senadores Fernando Dueire e Veneziano Vital do Rêgo.

Políticos de nascimento 

O economista pernambucano Fernando Antônio Caminha Dueire, 65 anos, iniciou em novembro de 2022 seu primeiro procuração no Senado Federalista. Integrante da bancada ruralista, ele era o primeiro suplente na placa de Jarbas Vasconcelos, um dos fundadores do MDB nos anos 1960. Vasconcelos exerceu numerosos cargos políticos – incluindo o de governador de Pernambuco e senador. Foi reeleito para o Senado em 2018, mas licenciou-se do procuração por questões médicas.

Dueire é fruto de Maria Carmelita Monteiro e Pedro Dueire do Promanação. Carmelita foi presidenta do Banco da Providência, braço filantrópico da Igreja Católica, durante o diocese de <span class="glossaryLink" aria-describedby="tt" data-cmtooltip="

Dom Hélder Câmara
&lt;!– wp:paragraph –&gt;Padre de Olinda e Recife e um dos fundados da Conferência Vernáculo dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Helder Câmara nasceu em Fortaleza em 1909 e morreu no Recife em 1999. Câmara exerceu um importante papel na resguardo dos direitos humanos durante a ditadura no Brasil. Denunciou a violência do estado contra seus opositores, motivo pelo qual foi perseguido por apoiadores do regime militar, que assassinaram o padre Antônio Henrique Pereira, um de seus auxiliares.&lt;br/&gt;&lt;!– /wp:paragraph –&gt;

” data-gt-translate-attributes=”[{"attribute":"data-cmtooltip", "format":"html"}]” tabindex=”0″ role=”link”>dom Hélder Câmara, de quem era amiga. Pedro, seu marido, foi mercante e deputado estadual por Pernambuco. Mas, muito antes dos pais do senador, a família já contava com uma longa tradição no treino do poder político, econômico e militar.

Nascido em 1751, o trisavô de Carmelita, João de Castro e Silva, foi um dos homens fortes de Portugal na região do Ceará: era capitão-mor, responsável, portanto, pela resguardo da colônia ultramar. Também seu pai, o português José de Castro e Silva, exerceu a função de capitão-mor, e, segundo a Revista do Instituto do Ceará, editada desde 1887, “territorialmente ampla e temporariamente longa foi a influência econômica de sua geração”.

José de Castro e Silva é o sexto avô do senador Fernando Dueire que teria tido escravizados durante o período colonial. O documento que atesta é o Livro de Batismos de Aracati (CE), de 1797. Consta nele a ata de batismo de Francisca, “parda, filha legítima de Bento, servo do capitão-mor José de Castro, e de Gertrudes da Conceição, índia”. Pela subida posição que ocupava na gestão colonial, é provável que José de Castro tenha escravizado mais pessoas – o registro de Bento, porém, foi o único ao qual a Pública teve chegada.

“17 escravizados”

Hoje, aos 54 anos, o emedebista Veneziano Vital do Rêgo Segundo Neto está na política desde os 27, quando se elegeu vereador de Varga Grande (PB). Sua curso só fez elevar: aos 35 venceu a disputa pela prefeitura da cidade. Dez anos e dois mandatos de prefeito depois, sagrou-se deputado federalista, e na eleição seguinte, em 2018, alcançou o Senado – do qual se tornou vice-presidente em 2021. 

O senador descende de uma família de políticos e de alguns dos senhores de talento mais ricos da Paraíba, porquê o major Antônio Bento Duarte, nascido em 1851, e o coronel Francisco Duarte, que nasceu em 1842. Os tataravós de Veneziano foram o coronel Santos da Costa Gondim e Maria Franca Torres. O coronel nasceu em 1815 e morreu em 1894, pouco depois da extinção da escravidão, e Maria nasceu em 1826, falecendo em 1871.

A informação de que o coronel teria tido escravos consta no testamento de Maria. Aos seus seis filhos, ela legou “17 escravos, casas de sobrado, lar de taipa, safra de canas, propriedade de terras”, patrimônio que fazia da família “uma das maiores riquezas da cidade de Areia-PB”, porquê analisou a historiadora Eleonora Félix da Silva em sua dissertação de mestrado, “Escravidão e resistência escrava na ‘Cidade d’Areia’ oitocentista”, defendida em 2010 na Universidade Federalista de Varga Grande (UFCG).

A família rica tem uma grande tradição política. Vital do Rêgo Fruto, irmão do senador, chegou ao Senado, sendo indicado ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) por Dilma Rousseff (PT) em 2014, missão que ocupa até hoje. A mãe dos dois, a também emedebista Ozanilda Gondim Vital do Rêgo, foi colega do fruto no Senado até o ano pretérito. Nilda, porquê é conhecida, era a primeira suplente do senador José Maranhão (MDB) e assumiu a vaga em seguida a morte dele. Já o pai de Veneziano, Antônio Vital do Rêgo, foi deputado estadual e federalista, tendo passagem por oito partidos, entre eles a Redondel, que dava sustentação à ditadura militar, e também pelo MDB, que lhe fazia oposição.

Os avós paternos e maternos do senador também foram políticos. O pai de seu pai, espargido porquê major Veneziano, nascido em 1907, presidiu a Reunião Legislativa de Pernambuco entre 1950 e 1958, enquanto o pai de sua mãe, Pedro Mulato Gondim, governou por dois mandatos a Paraíba, de 1958 a 1966. 

A reportagem procurou os políticos citados e seus representantes para esclarecer os achados sobre suas árvores genealógicas e a relação dos seus avós com a escravidão, assim porquê fizemos com todas as autoridades citadas no Projeto Escravizadores. Não recebemos respostas até a publicação. 

Do protagonismo ao governismo

A ditadura militar, instaurada com o golpe de 1964, pôs término ao pluripartidarismo. Surgiram, portanto, a Redondel e o MDB. No início, o MDB era porquê uma frente ampla. Havia egressos do Partido Comunista Brasílico, do Partido Trabalhista Brasílico de João Goulart, presidente deposto pelos militares, centristas do extinto Partido Social Democrático (PSD), porquê Tancredo Neves, e quadros à direita, saídos da União Democrática Vernáculo (UDN), que apoiou o golpe.

Embora tenha surgido porquê a oposição tolerada pela própria ditadura, o MDB alcançou uma popularidade não prevista pelos militares e foi, ao lado do movimento sindicalista, de entidades porquê a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de setores progressistas da Igreja Católica, um dos protagonistas na restauração da democracia no Brasil.

Nos anos 80, durante a redemocratização, as disputas internas do MDB começaram a permanecer evidentes. De um lado, estavam os chamados “autênticos”, políticos de ideologia definida, à centro-esquerda, e que participaram da instalação do movimento, porquê Ulysses Guimarães e Roberto Requião; do outro, os “moderados”, muitos ligados a grandes produtores rurais e que pregavam uma atuação pragmática da legenda, contando inclusive com ex-quadros da Redondel – José Sarney, por exemplo, assim porquê o pai e o avô materno do senador Veneziano Vital do Rêgo.

Com o retorno do pluripartidarismo em 1979, os políticos à esquerda do MDB refundaram o PCB, o PCdoB e o PSB, migrando para estes partidos. Seis anos depois, em 1985, morreu Tancredo, eleito indiretamente para a Presidência da República, e o MDB, de oposição, tornou-se situação pela primeira vez. Os “autênticos”, porém, negaram escora a Sarney, enquanto os “moderados” participaram do seu governo.

Para Rodrigo Patto Sá Motta, 58 anos, professor titular de História na Universidade Federalista de Minas Gerais (UFMG), a chegada do MDB ao poder foi determinante para que o partido assumisse a face que tem hoje, “mais comprometido com as elites econômicas do que com um programa de centro-esquerda”. “Enquanto era oposição à ditadura, o partido não tinha chegada a recursos e cargos, e portanto, salvo raras exceções, não atraía políticos de perfil oportunista. Depois da redemocratização, o MDB cresceu muito, elegendo grandes bancadas, governadores e prefeitos, o que favoreceu a ingressão de personagens à direita no partido”, explica.

Aliás, desde a origem do MDB o que unia suas diferentes correntes era a luta contra a ditadura e pela democracia. Com o término do regime, essa bandeira perdeu segmento do sentido. “Isso contribuiu para a saída de pessoas de esquerda e centro-esquerda, atraindo, por outro lado, ex-arenistas e políticos mais jovens, sem um compromisso ideológico fixo”, completa o professor.

Por discordâncias com a chegada de novos quadros, emedebistas históricos, porquê Fernando Henrique Cardoso, abriram uma dissidência no partido, fundando, em 1988, o PSDB. No ano seguinte, na primeira eleição presidencial em seguida o término da ditadura, os “autênticos” prevaleceram, lançando a candidatura de Ulysses Guimarães. O resultado do pleito foi desanimador para os “autênticos”: com 4% dos votos, Ulysses amargou um sétimo lugar na disputa. Os “moderados”, portanto, ganharam espaço na direção do MDB, e muitos seguem dando as cartas no partido ainda hoje, porquê Renan Calheiros, Michel Temer e Jader Barbalho. Uma vez que resultado da predominância desse grupo, de 1990 até a atualidade, o único presidente que não contou com o escora formal ou informal do MDB foi Fernando Collor.

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