Na capital da soja, lavra familiar recebe migalhas e sofre preconceito do agro
7 min readÉ difícil encontrar uma cidade que ilustra tão muito a diferença entre o agronegócio e a lavra familiar porquê Sorriso (MT), a 400 km da capital Cuiabá, na rota da BR-163. Em 2023, o município foi o que mais lucrou com a produção de soja no Brasil pelo quinto ano seguido, com algo em torno de R$ 8,3 bilhões. A soja produzida no sítio gera arrecadação de impostos que, somados a outras fontes, renderam R$ 843 milhões em receitas para a prefeitura de Sorriso. Mas, do outro lado, a lavra familiar recebe migalhas do poder público sítio: em 2024, a prefeitura destinou cerca de R$ 2 milhões em investimentos para pequenos agricultores, ínfimo 0,2% do valor retraído em 2023.
“A política usa a lavra familiar para conseguir caminhão, maquinário, trator, só que quando chega a gente tem de remunerar uma taxa pra usar, pra fazer um serviço de limpar ‘tocos’ na terreno, tem de remunerar outra taxa pra buscar calcário, pra gente usar na terreno”, disse à Dependência Pública Márcio Manoel da Silva, colono familiar e um dos fundadores do assentamento Jonas Pinho, com 7,3 milénio hectares na zona rústico de Sorriso.
“Eles usam a gente pra pegar o equipamento, mas não deixam a gente usar pra plantar comida, plantar um pepino, uma hortaliça, um mamão”, afirmou seu Márcio, que vive há mais de 20 anos na dimensão. “Mas se fosse para plantar soja… liberavam terras da União, empréstimos de banco público e privado, porquê sabemos que já aconteceu com gente que mora cá perto”, disse.
O colono é casado com Maria Boaventura de Sousa Silva, a dona Sula, presidente da Cooperativa dos Pequenos Produtores Rurais do Vale do Etéreo (Coopercel) – que atua na dimensão do assentamento e produz mantimentos orgânicos. À Pública, dona Sula reforçou as críticas.
“Já tivemos de ouvir gente dizendo que não adiantava dar caminhão e máquina pra nós, porque cá o povo não tem verba nem pra abastecer o combustível. Gente que não teve a coragem de vir perguntar da nossa requisito, só tomaram os equipamentos e pronto!”, disse.
Dona Sula e seu Márcio afirmaram que nenhum dos candidatos à prefeitura – Leandro Carlos Damiani, o Damiani da TV (MDB), Alei Fernandes (União) e Milton Ribas (PP) – foi ao assentamento para pedir votos às famílias que vivem na dimensão.
Para o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federalista de Mato Grosso (UFMT), Thadeu Sobral Souza, não somente Sorriso, porquê todo o Nortão de Mato Grosso, ignoram a valor da lavra orgânica e familiar.
Para o docente da UFMT, trata-se de uma consequência do protótipo dominante no estado, do agronegócio de monoculturas em larga graduação. “Tirando Cuiabá, que existe há séculos, e regiões próximas, o resto das cidades no estado eram pequenas, quase inexistentes até a chegada do agronegócio. As pessoas que trabalham na dimensão realmente acreditam que o manifesto é produzir cada vez mais commodities, logo elas nem cogitam opções alternativas para a lavra, não refletem sobre os impactos de grande magnitude causados pelo agro”, disse Souza.
Águas contaminadas? Para líder nas pesquisas, problema é esgotamento sanitário
Para chegar no assentamento, é preciso trespassar da BR-163 por meio de uma pista vicinal, andando mais de 6 km em uma estrada de terreno. De um lado da via ficam as pequenas propriedades do assentamento, com trechos mais estruturados e outros com barracos repentista em meio a congregações evangélicas e católicas; do outro, uma tapume contínua, com um campo vasto esperando as primeiras chuvas para o plantio da soja.
“A gente tem de plantar nos ‘fundos’ do lote, senão o veneno espalha todo pela nossa produção. Na estação do plantio deles, é avião despejando veneno todo dia”, disse seu Márcio.
“Antigamente, quando ele [Márcio] trabalhava na cidade, tinha vezes que no caminho até a BR ele tomava um banho de veneno, ficava com o cheiro impregnado o dia inteiro… o avião despeja sem parar, pelo menos uma vez por ano a gente adoece”, afirmou dona Sula.
Uma vez que em outros municípios do Nortão de Mato Grosso, o provimento de chuva em Sorriso se baseia em poços artesianos, tanto na cidade quanto no campo. O uso de agrotóxicos nas lavouras da dimensão, na região com a maior concentração de terras no país de acordo com o IBGE, ameaço a qualidade das águas subterrâneas de todos, segundo especialistas e pesquisadores.
“As cidades do Nortão se consolidam a partir do protótipo do latifúndio: tudo começou com um ou dois donos de terreno com fazendas gigantescas, que hoje em dia necessitam cada vez mais do agrotóxico, do fertilizante químico e de outras fontes que não são naturais, ambientalmente corretas”, afirma o professor da UFMT Thadeu Sobral Souza.
“Com o excesso de químicos e agrotóxicos, quando vem a chuva o que está impregnado na produção agrícola infiltra no solo e escoa pelos córregos e rios na região. Logo temos uma chuva cada vez mais contaminada por aditivos químicos, por veneno agrícola… isso sem descrever o que vem do extremo setentrião, na lema com o Pará, onde há muitos garimpos despejando mercúrio nos rios”, disse Souza.
A avaliação da qualidade das águas diante do uso descontrolado de agrotóxicos, porém, não aparece nas campanhas dos favoritos à eleição em Sorriso: Damiani da TV (MDB) e Alei Fernandes (União).
Líder nas pesquisas de intenção de voto divulgadas até o momento, o candidato do MDB disse à Pública que se preocupa com a qualidade dos recursos hídricos, mas por outros motivos. “O campo não preocupa a gente, até porque nós temos um terço do município preservado”, afirmou Damiani.
“Nossa preocupação é com o esgotamento sanitário na cidade, que alcança menos de 30% da população, e isso é um dano ambiental no município. Vou juntar uma equipe técnica para fazer a avaliação precisa da qualidade das águas e do lençol freático, porque a maioria das casas cá usa fossa”, disse.
A reportagem não conseguiu contato com o segundo posto nas pesquisas de intenção de voto, Alei Fernandes, até a publicação.