No município “mais bolsonarista” da Amazônia, a esquerda adota bandeiras da direita
11 min readMydjere Mekrangnotire, 42 anos, é personagem vasqueiro em Novo Progresso (PA), município considerado o “mais bolsonarista” da Amazônia. Filiado ao PT e candidato (derrotado) a vereador, ele defende a preservação da Amazônia e a não exploração das terras indígenas por mineradoras e pelo agronegócio e acredita que a emergência climática é uma verdade cientificamente comprovada que prenúncio o presente e o horizonte do planeta.
“O pessoal fala que a queimada foi culpa desse governo atual. Não foi. Quem tá colocando queimação são os próprios fazendeiros, os próprios grileiros. Nós perdemos a maior secção da nossa terreno [Baú]. Não foi indígena que botou queimação. O queimação começou fora da suplente e entrou. Portanto eu digo: se você quiser respirar ar puro, vote no Mydjere”, disse a liderança Kayapó à Filial Pública três dias antes do pleito de 6 de outubro. O indígena, que mora em Novo Progresso, mas se lançou vereador pelo município de Altamira, recebeu unicamente 134 votos e não foi eleito.
Mydjere disse que sabia que sua eleição seria uma tarefa difícil. A exemplo dos outros candidatos do PT na região, ele recebeu unicamente R$ 341,38 do fundo partidário, via direção estadual do partido, para fazer sua campanha. Mas a falta de recursos foi só um dos problemas. O clima político em Novo Progresso e região é totalmente inverso a um oração ambientalmente responsável. Tanto que Mydjere resolveu, posteriormente conversas com as lideranças Kayapó, se lançar em Altamira.
O PSOL e outras siglas de esquerda inexistem porquê atores políticos em Novo Progresso, município de 33 milénio habitantes criado às margens da rodovia BR-163, oportunidade nos anos 1970 pela ditadura militar. O papel de “esquerda” cabe, em tese, ao insuficiente Partido dos Trabalhadores, que lançou oito candidatos a vereador – nenhum se elegeu. O mais votado, “Ceará Piranha”, recebeu unicamente 96 votos (o vereador eleito menos votado recebeu 407 sufrágios).
Jovem liderança engajada no movimento indígena que saiu juvenil de sua lugarejo para estudar e voltou para ajudar seu povo Kayapó, Mydjere parece pregar no deserto quando fala em resguardo das florestas em uma região pressionada pela força do agronegócio e marcada por constantes invasões de terras protegidas pela União. Uma vez que a vizinha Floresta Pátrio (Flona) do Jamanxim, um colosso socioambiental de 1,3 milhão de hectares que já perdeu 15% de sua cobertura vegetal proveniente principalmente para pastagens ilegais.
Por que isso importa?
- A Filial Pública percorreu a BR-163, entre os estados de Mato Grosso e Pará, e o município de Novo Progresso é um dos locais dessa rota onde nossa equipe investigou porquê o tema das mudanças climáticas e meio envolvente foi discutido nas eleições municipais. A região é extremamente marcada por queimação, conflitos e desmatamento, com cidades que registram grande adesão ao bolsonarismo.
O base à ocupação da Flona Jamanxim e à início de mais terras para madeireiras e agronegócio e a repulsa aos órgãos de repressão aos crimes ambientais, porquê Ibama e ICMBio, contagiam vastas parcelas da população. No primeiro vez das eleições de 2022, Novo Progresso foi o município que mais concedeu votos a Jair Bolsonaro entre os 772 municípios em toda a Amazônia Lítico e o quarto no país, com 79,6% dos votos válidos destinados ao logo candidato à reeleição. No segundo vez, a cidade computou 82,92% para o candidato do PL.
Em 2017, em um incidente classificado pelo governo federalista porquê atentado, nove caminhonetes do Ibama foram queimadas em um trecho da BR-163. Em resposta, a logo presidente do Ibama Suely Araújo determinou o bloqueio de todas as serrarias em Novo Progresso. Em 2016, o policial militar João Luiz de Maria Pereira, 44 anos, que acompanhava uma fiscalização do Ibama dentro da Jamanxim, foi morto a tiros numa emboscada. Há registro de outra emboscada, em 2012. No rio Tapajós, uma equipe do Ibama foi atacada a tiros em 2023.
Em novembro de 2022, posteriormente a roteiro eleitoral de Jair Bolsonaro para Lula, seguidores do candidato do PL atacaram a tiros e pedradas as equipes da Polícia Rodoviária Federalista (PRF) que tentaram desbloquear um trecho da rodovia.
Nesse cenário, a esquerda tornou-se tão inexpressiva em Novo Progresso que o prefeito candidato à reeleição Gelson Dill é do MDB, mas não aceitou fazer uma coligação com o PT. Em outras cidades do Pará ao longo da BR-163, porquê Santarém (PA), o PT de lideranças regionais porquê os deputados federais Zé Geraldo e Airton Faleiro e o MDB do governador Helder Barbalho integraram uma mesma frente eleitoral. Mas não em Novo Progresso.
Presidente municipal do PT defende redução de Floresta Pátrio
O PT é presidido no município por um empresário possuidor de posto de gasolina que se filiou ao partido há unicamente cinco meses, embora diga que foi “um dos fundadores” da {sigla} no município. Aldecir Nardino é um personagem capaz de dar um nó na cabeça do comentador que pretenda compreender o cenário político na região à luz de uma separação entre esquerda e direita. Ele tem exatamente o mesmo oração do prefeito Dill, da direita e do agronegócio.
O sonho de Nardino é que o governo Lula “regularize” as ocupações na Flona do Jamanxim ou, ainda melhor, que vá além e reduza os limites da floresta. É a mesma tentativa prevista em um decreto guiado em 2017 ao Congresso Pátrio pelo logo presidente Michel Temer (nº 8.107/2017). A direita na região também sonha com a aprovação desse projeto.
O próprio Nardino disse que já teve “um lote de 2,5 milénio hectares” dentro da Flona, mas que teve que deixá-lo para vir trabalhar na cidade. Quando foi criada em 2006, durante o primeiro governo Lula a partir de gestões da logo ministra do Meio Envolvente Marina Silva, a Flona aceitava a presença de famílias que já estivessem nela. Com o tempo, mas, essa ocupação se ampliou para níveis alarmantes. O governo hoje estima que 180 milénio cabeças de manada estejam sendo criadas dentro da floresta.
Nardino afirma que estava entre as primeiras famílias antes da Flona e que, por isso, quer “regularizar” seu lote. É a mesma expectativa de muitas outras famílias, disse o presidente municipal do PT.
“[Estamos] aguardando o governo que nos dê alguma coisa em troca, outra propriedade, ou que a Flona seja, vamos expor assim, dividida com quem de 2008 para cá, que esteja morando lá até 2008. […] Estamos aguardando o que o governo vai fazer, a ministra do Meio Envolvente juntamente com as autoridades, os deputados que estão muito trabalhando para tentar resolver, que é o Airton Faleiro, o Zé Geraldo, vice-presidente do PT vernáculo, e os deputados também do MDB e de outros partidos também estão lutando para que seja uma verdade. Que um dia a negociação da Flona diminua a dimensão, e aí quem está lá de 2008 para cá, que é a lei que permite, ver o que vai sobrevir, se vamos legalizar ou vamos ajudar com outra dimensão para nós nos retirarmos.”
Nardino disse que “há mais de 40 anos” tem um lote de “12 milénio hectares” em outra dimensão protegida no Pará, esta pelo governo estadual, a Floresta Estadual (Flota) Iriri, com murado de 440 milénio hectares na vizinha Altamira. Nardino disse que ocupa uma vaga no parecer gestor da unidade de conservação e que trabalhou internamente para que a entidade já aprovasse uma “desafetação”, isto é, a mudança de uma classificação permitido, de “uma tira de 30 km”.
“Fui conversando com eles. Entrei no meio das ONGs. Comecei a trabalhar. […] Fiquei com eles, dias e dias na amizade. Conversando. E conseguimos resolver. Deram 30 quilômetros. Vai ser publicado agora […]. Tem parecer, vota tudo certinho e vai pro governo. […] E é por isso que os caras tão respeitando eu cá. Agora eu sou Deus pra eles. Não é moca, não. Eu sou honrado por eles porque eu consegui resolver aquele negócio lá.”
A partir da “desafetação”, disse Nardino, madeira com uso mercantil será retirada da floresta e revendida por Novo Progresso, gerando divisas para o município. E que também “vai ter dimensão garimpeira”.
Talvez seja por proteger essas bandeiras que Nardino diz não tolerar nenhuma retaliação ou prenúncio no município de Novo Progresso. Por outro lado, a Pública não encontrou adesivos ou sinais do PT no sege que utiliza, uma caminhonete.
“Quem [me] ofende é os dois ou três, mas os grandes líderes, os [empresários] do negócio, eu sou muito recebido. A minha pessoa – apesar que o Bolsonaro fez 86% de votos cá –, eu sou um rapaz muito benquisto. Eu posto todas as coisas do grupo [de WhatsApp], posso mostrar para vocês, e ninguém me critica. Porque eu tenho um nome a zelar, e o pessoal gosta muito de mim, porque eu não sou radical, eu sou uma pessoa que trabalha pelo recta. Eu defendo o meu partido, mas dentro do recta, e ajudo também os outros partidos cá.”
Candidato pelo PT disse que passou “uma adrenalina muito difícil”
Mas a verdade não é exatamente a mesma para outros militantes do PT no município. O ex-candidato a vereador Ceará Piranha, ou Antonio Sousa, 53 anos, mostrou à Pública porquê seu sege foi amassado na lateral, segundo ele por um soco, e rabiscado. Ele disse que passou a campanha toda exibindo uma estrela vermelha do PT no veículo. Não chegou a ser diretamente ameaçado, mas eleitores de outros partidos vinham tirar satisfações ou fazer comentários negativos sobre ele ter escolhido o PT.
“Eu sou um face que as pessoas me perseguem muito por estar nesse partido, né? […] Você sabe que o governo do PT mandou nesse Brasil por 16 anos e ninguém falava que esse governo era ruim. Nunca vi ninguém. Mas, de um visível tempo pra cá, depois que entrou esse outro governo [de Bolsonaro], criou uma discórdia no coração das pessoas muito grande, meu irmão. Pra transpor candidato nesse partido, pela minha cidade, eu tenho pretérito uma adrenalina aí muito difícil, viu?”
Nascido em Camocim (CE), Ceará chegou ao Pará por volta de 1986. Primeiro foi trabalhar nos garimpos de Serra Pelada, onde viu acidentes terríveis, que disse que nunca esquecerá. Eram os soterramentos causados pelo desprendimento das bordas de terreno dos barrancos.
“Vi morrer 30, 40 companheiros de uma vez não só num dia, mas num minuto mesmo. Havia lá barreiras a 250 metros de profundidade de onde a gente trabalhava. Quando aquilo caía, meu irmão, ali embaixo não tinha perdão. Era uma tragédia imensa.”
Por presenciar tantas mortes, Ceará foi “desgostando” da vida no mina e, depois de passar por outras cidades, fixou-se em Novo Progresso no início da dezena de 1990. Virou negociante – daí vem o sobrenome “Piranha”, que era o peixe que ele pescava e revendia na cidade. Hoje toca uma mercearia no município.
Ceará disse que procurou falar, durante toda a campanha eleitoral, sobre os problemas ambientais do município. Disso ele não abre mão, assegurou.
“Eu bato muito em cima disso aí, porque, se você ver o que a gente tá passando, e que pode passar mais no horizonte, entendeu? Com essas questões do aquecimento global, desmatação. […] A pior seca que eu já tenho visto nos últimos tempos foi a desse ano de 2024. A pior de todas. Eu combato muito essa questão dessas coisas ilegais, derrubadas. Os caras entram na mata derrubando tudo, queimando tudo. Eu sou contra isso aí. E aí, quando chega a temporada de queimação, não tem porquê você não saber que aconteceu com tudo isso. Cá a gente paga muito custoso. Idosos, crianças pequenas. Nós passamos mais de 20 dias com essa situação.”
Mydjere Mekrangnotire, o Kayapó que se lançou a vereador, já foi vice-presidente do Instituto Kabu, a principal organização indígena da região, e foi coordenador de instrução indígena na Secretaria de Instrução do governo do Pará.
Em 2020, Mydjere esteve primeiro de um protesto que bloqueou a BR-163 a término de denunciar o descumprimento de uma série de promessas feitas pelo governo aos indígenas porquê medidas de indemnização pelo asfaltamento, nos anos 2000, da rodovia BR-163. Na ocasião, em missiva à Funai, os Kayapó denunciaram: “Estamos cá defendendo a proteção da Amazônia, a proteção do nosso território. O governo quer terebrar as terras indígenas para projetos que são ilegais, porquê mina, extração de madeira e arrendamento de pasto em nossas terras. Isso nós não aceitamos”.
Mydjere é de uma geração de lideranças indígenas que tentam alertar os moradores de Novo Progresso para a urgência da preservação ambiental e os riscos da emergência climática.
“Eu decidi me lançar porquê vereador porque muitos vereadores não indígenas que ocupam a Câmara com voto nosso vêm emitindo para o meu povo promessas falsas, promessas de fabricar lei falsas, promessas de instrução escolar indígena, de melhoria. Tudo isso foi falso, enganou os nossos caciques. E eles compram voto também. […] Não criaram uma lei municipal para proteger a nossa suplente. Eles criam lei para liberar. Eles criam lei para liberar mina ilícito dentro da nossa terreno indígena. Foi aí que eu vi, foi negativo”, disse Mydjere.
Ele afirma que pretendia ser dissemelhante na Câmara dos Vereadores. “Eu quero ser o oposto desses vereadores não indígenas que estão ali. Eu quero colocar um projeto de lei para proteger a nossa suplente. Eu quero proteger a minha lugarejo. Eu quero proteger a suplente, o pouquinho que a gente tem. Muitos garimpeiros, muitos madeireiros, muitos grileiros falam que tem muita terreno para pouco indígena. Mas não, a gente tinha muito. A gente era possuidor do Brasil. Depois da invasão, hoje esses invasores criaram leis, colocaram a gente numa ilhéu. E a luta nossa é renhir para aquela ilhéu pequenininha permanecer do jeito que está. Não diminuir. O marco temporal que está vindo aí, aprovaram para diminuir a suplente.”