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Trem de Aragua: a desculpa de Trump para deportar venezuelanos - Mundo News
7 de Abril, 2025

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Trem de Aragua: a desculpa de Trump para deportar venezuelanos

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Grupo foi incluído na lista de organizações terroristas pelos EUA e alimenta agenda migratória da Casa...

Em setembro de 2023, uma operação com 11 milénio agentes cercou o Meio Penitenciário de Aragua, publicado porquê Tocorón, uma prisão na Venezuela que, ao longo dos anos, se transformou em um quartel do violação. O objetivo era desmantelar a principal base de operações do Trem de Aragua (TdA), a organização criminosa mais poderosa do país, que durante quase uma dez exerceu controle integral sobre esse presídio.

Tocorón não era somente uma prisão, mas o epicentro de uma organização que, nascida entre os escombros de um projeto ferroviário posposto, estendeu suas redes para além das fronteiras do país.

Apesar das inúmeras denúncias e investigações que documentaram os crimes do Trem de Aragua — roubo, homicídio, sequestro, tráfico de drogas e outros delitos — o governo venezuelano demorou a agir com firmeza. Os primeiros relatos de atos violentos fora da Venezuela foram registrados no Peru e na Colômbia, em 2018. Mas só cinco anos depois, quando oito países da América Latina passaram a denunciar progressivamente a presença do grupo em seus territórios, o governo iniciou uma operação para varar sua base de operações.

O que começou porquê uma quadrilha lugar se transformou em uma ameaço transnacional, aproveitando-se da vulnerabilidade das rotas migratórias na região, cujas principais vítimas são venezuelanos que fogem da crise humanitária que já expulsou quase 8 milhões de pessoas do país.

A expansão da organização criminosa repercutiu nos Estados Unidos. Donald Trump incorporou o Trem de Aragua ao seu oração político e o comparou a grupos terroristas porquê a Al Qaeda.

Durante sua campanha, Trump prometeu rematar com a presença do Trem de Aragua no país e, para compreender esse objetivo, dois meses posteriormente assumir o poder, ressuscitou uma lei de 1798 para facilitar a deportação em tamanho de venezuelanos. As decisões recentes demonstram que, para Trump, o Trem de Aragua não é somente um problema criminal, mas uma narrativa que alimenta sua agenda migratória.

Nesse contexto de expansão, narrativas e violência transnacional, especialistas porquê Keymer Ávila, coordenador da especialização em Ciências Penais e Criminológicas da Universidade Medial da Venezuela (UCV) e diretor do Monitor do Uso da Força Mortal na Venezuela (Muflven), conversou com a organização venezuelana de jornalismo Efecto Cocuyo sobre as políticas impostas pelos EUA e a vinculação de muitos migrantes venezuelanos ao grupo criminoso. Muitos foram deportados para uma prisão de segurança máxima em El Salvador destinada a terroristas, apesar de não terem pretérito pelos processos legais adequados.

A origem

Para entender a dificuldade operacional do Trem de Aragua, Ávila remonta à história da geração do grupo criminoso. O acadêmico é enfático ao declarar que o grupo de veste existe e é uma das maiores facções do país, nascida no estado de Aragua e originada nos sindicatos que atuavam em um projeto ferroviário que nunca foi concluído.

“Uma vez que acontece em países vizinhos, a base de operações da partido era a prisão. A partir de lá, ela se coordenava com diversos grupos criminosos e conseguiu se expandir para pelo menos 11 estados do país”, explicou.

Segundo Ávila, os estados escolhidos para a expansão da partido foram principalmente os de fronteira, os litorâneos e os mineradores, o que permitiu à organização atuar em uma ampla variedade de mercados ilícitos — entre eles, as rotas migratórias e o tráfico de pessoas.

“É importante primar que as principais vítimas do TdA são os migrantes venezuelanos”, enfatizou.

Narrativas sobre o Trem de Aragua

Uma das narrativas que mais ganhou força — e que é utilizada por Trump e seu gabinete — é a de que a suposta presença do Trem de Aragua nos EUA representa um risco de invasão e terrorismo. Esse foi o argumento usado para incluir a organização criminosa na lista de grupos terroristas e para invocar a Lei de Inimigos Estrangeiros, que só pode ser aplicada em tempos de guerra e à qual os EUA recorreram somente em três ocasiões: durante as duas guerras mundiais e na Guerra de 1812, contra a Grã-Bretanha.

Diante dessas decisões, Ávila destaca que é importante, antes de tudo, revisar alguns conceitos, já que o terrorismo é a emprego sistemática do terror, geralmente com fins políticos — e não é um monopólio de organizações terroristas. O terrorismo também é praticado por Estados: “É o que se conhece porquê terrorismo de Estado. Os Estados terroristas são os que mais utilizam a categoria de terrorismo porquê um noção ‘coringa’”, afirma.

Para explicar o que seria esse “noção coringa”, o acadêmico o descreve porquê um recipiente vazio que os Estados usam conforme sua conveniência, preenchendo-o com o que precisarem em determinado momento. Serve para indicar bodes expiatórios ou fabricar inimigos — reais ou inventados — porquê os judeus, comunistas, homossexuais, migrantes, estrangeiros, dissidentes ou pobres. Segundo Ávila, esses grupos, junto com outras minorias ou pessoas incômodas ao poder, são rotulados de formas diferentes com o objetivo de unificar a sociedade contra eles e fomentar o nacionalismo quando as circunstâncias exigem.

“Os criminosos, a princípio, não têm objetivos políticos nem buscam subverter um sistema. Cometem delitos previstos na legislação e, nesses casos, devem ser processados conforme a lei”, acrescenta.

Keymer Ávila também labareda atenção para porquê três países constroem suas narrativas sobre o Trem de Aragua. Primeiro, os EUA, tal qual presidente chegou ao poder prometendo expulsar milhares de migrantes. Depois El Salvador, que Ávila descreve porquê um Estado dominador obcecado com o populismo punitivo: “Querem transformar a violação de direitos humanos em um negócio e fazer do país uma espécie de colônia penitenciária”, explica.

Por término, há a Venezuela, um Estado que Ávila classifica porquê reprimidor e dominador, responsável por reprofundar o país na pobreza extrema e puxar seus cidadãos à transmigração contínua. “Esses três governos, de uma forma ou de outra, já foram apontados por adotarem medidas que caminham rumo a autogolpes”, ressalta.

“Estamos diante de uma lei que representa mais de 200 anos de retrocesso, cuja principal categoria é a de ‘inimigo’, que não é uma categoria jurídica, mas bélica; ou seja, não se trata de cidadãos, mas de sujeitos sem direitos, sobre os quais se pode fazer qualquer coisa. É nesse cenário grave que nos encontramos”, afirmou.

Por fim, o Trem de Aragua é realmente uma ameaço

Ávila explica que, embora existam na Venezuela grupos criminosos com níveis significativos de organização, expansão e poder de queima, eles dificilmente alcançam a sofisticação, experiência, extensão, redes, recursos e poder dos cartéis colombianos, brasileiros e mexicanos — estes últimos também incluídos na lista de grupos terroristas e com presença nos EUA.

Ele não descarta que cartéis mexicanos, colombianos ou brasileiros possam estar contratando membros do TdA em relações de subordinação.

“Apresentar uma narrativa em que grupos criminosos venezuelanos disputariam poder com esses cartéis em seu próprio território é uma história que talvez gere muitos cliques. Pode até render audiência por um tempo, mas na veras é difícil de sustentar”, afirmou.

O acadêmico aponta para o recrutamento de migrantes venezuelanos por secção de grupos criminosos, para trabalhos mais infames e com menor dispêndio.

“Qualquer venezuelano que cometa um violação ou esteja em situação de exclusão passa a ser rotulado porquê membro do TdA. Por isso, o mais importante é desenvolver políticas de inclusão, para oferecer a essas pessoas alternativas de vida no mundo lícito, de modo que suas principais opções não sejam a exclusão, a perseguição, a estigmatização, as facções criminosas, os mercados ilegais e a morte.”

Não há evidências sustentáveis sobre grande alcance do TdA nos EUA

A presença do Trem de Aragua nos EUA gerou discussão sobre o real poder do grupo, que levaria Trump a invocar uma lei do século XVIII.

Segundo reportagens do New York Times, a atuação do Trem de Aragua nos EUA tem sido vinculada a crimes porquê tráfico de pessoas, de drogas e armas em estados porquê Novidade York, Texas, Flórida e Colorado.

Em Novidade York, por exemplo, o Departamento de Polícia tem registrado desde 2022 crimes porquê roubos, tiroteios e prostituição forçada, enquanto no Texas foram documentadas prisões em El Paso e um homicídio em Houston, todos atribuído a membros confirmados do grupo. 

No entanto, um relatório de perceptibilidade dos EUA, datado de 26 de fevereiro de 2025 e citado pelo New York Times, conclui que o Trem de Aragua não opera sob controle do governo venezuelano, nem possui a estrutura necessária para ser uma ameaço coordenada em larga graduação no país, porquê afirma a Casa Branca.

Apesar das detenções e da atenção midiática, especialistas e fontes consultadas pelo New York Times sugerem que a magnitude da presença do Trem de Aragua nos EUA pode estar sendo exagerada.

No estado do Colorado, casos porquê o da cidade de Aurora ganharam notoriedade depois que vídeos de supostos membros armados viralizaram, mas a polícia lugar negou que o grupo exerça controle significativo sobre qualquer espaço. Em estados porquê Califórnia e Geórgia também foram registrados incidentes isolados, mas não há evidências de uma rede interconectada ou de ordens diretas vindas da Venezuela, segundo o jornal. 

O NYT aponta ainda que, embora o grupo explore migrantes venezuelanos e cometa crimes violentos, sua reputação parece ter desenvolvido mais rapidamente do que sua capacidade operacional real nos EUA, alimentada, em secção, pelo oração político de Trump, que o comparou a organizações terroristas para justificar políticas migratórias mais duras.

Nesse contexto, Ávila acrescenta que desconhece qualquer estudo acadêmico relevante que trate da real presença do TdA nos EUA, além de iniciativas jornalísticas.

“Eles conseguiram se expandir por rotas migratórias para outros países. Dois casos comprovados judicialmente ocorreram em países com baixos índices de criminalidade violenta, e talvez por isso chamaram tanta atenção: Peru e Chile. (…) Isso também serviu de combustível para discursos xenofóbicos que rendem dividendos políticos a líderes locais. E essa é a fórmula clássica da geração de uma agenda, de porquê se definem políticas públicas de segurança em determinadas conjunturas, mormente a partir de casos que chocam a opinião pública”, explica.

A partir de casos emblemáticos, afirma Ávila, constrói-se uma agenda midiática e política que nem sempre corresponde à veras, nem responde às necessidades públicas ou das pessoas comuns, mas sim aos interesses de quem detém o poder de definir a agenda.

“Nessa agenda de segurança pública, a figura do cabrão expiatório é fundamental. Em momentos de crise, determinados setores sociais — geralmente os párias, os ‘nobodies’, pessoas em situação de rua, jovens pobres, dependentes químicos ou migrantes — são os candidatos ideais para esses espetáculos. Escolhem-se esses grupos porquê inimigo público, sobre os quais se concentram todos os males sociais, desviando assim a atenção de problemas mais estruturais e difíceis de resolver.”

“Estamos diante de ações totalmente discriminatórias e estigmatizantes que atentam contra os direitos fundamentais dos migrantes venezuelanos, cuja maioria está buscando proteção, refúgio e segurança”, diz Ávila.  

A diáspora instrumentalizada para satisfazer promessas eleitorais  

O coordenador da especialização em Ciências Penais e Criminológicas da UCV afirma que, neste caso, a diáspora venezuelana está sendo instrumentalizada para desviar a atenção de problemas internos ou simplesmente para satisfazer promessas de campanha.

“Não podemos perder de vista que, quando se aceitam exceções para determinadas pessoas, também se abrem exceções para todos. Os direitos são para todos ou não serão para ninguém. Não há qualquer processo lítico ou judicial que comprove que essas pessoas pertencem a grupos criminosos — e mesmo que isso fosse provado, o que caberia seria um julgamento, não a deportação nem o proscrição. Trata-se claramente de um retrocesso de mais de duzentos anos em termos de direitos humanos e liberdades”, afirma Ávila.

Ele também compara essas práticas às que foram realizadas na Venezuela com os massacres em tamanho durante as operações da Operação de Libertação do Povo (OLP) [criada por Nicolás Maduro para combater a violência no país, mas acusada de violações de direitos humanos].

“O que Trump faz agora com essas deportações em tamanho é uma versão internacional — imperial, se quisermos invocar assim — desse tipo de agravo.”

Ele acrescenta que os principais beneficiários desse tipo de oração são, em primeiro lugar, os políticos que o promovem, pois transmitem a sensação de que têm uma solução mágica e simples para um problema multíplice. Em segundo lugar, os grupos criminosos locais, que conseguem evadir do foco da opinião pública e transferir suas responsabilidades para outros, enquanto continuam suas atividades ilegais de maneira mais discreta.

“As consequências para as pessoas comuns são desastrosas, porque elas ficam sem nenhum tipo de proteção frente a um poder estatal que atua sem limites — seja nos EUA, em El Salvador ou na Venezuela”, conclui.

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