Um time de futebol contra as bets
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Uma equipe do futebol profissional sergipano fez história. A direção do América Futebol Clube, da cidade ribeirinha de Propriá, 100 km de Aracaju, ingressou com uma ação na Justiça Federalista para proteger o clube e os seus atletas do assédio das casas de apostas, as chamadas bets. O América de Propriá não quer ter seu nome usado e nem dos seus jogadores em nenhuma morada de aposta.
O América, na ação protocolada na Justiça Federalista em Propriá, pediu uma medida liminar com o objetivo de que o América Futebol Clube, juntamente dos seus atletas inscritos no Campeonato Sergipano de Futebol 2025, não tenham seus nomes utilizados em qualquer morada de aposta sob pena de multa. A ação é movida contra o Ministério da Herdade, órgão que regulamenta as bets no Brasil.

“Estão usando o nome do clube e de atletas em casas de apostas sem nenhum documento nosso, sem nenhuma autorização. Isso é ataque de recta de imagem. Hoje, no Brasil, as bets são regularizadas e mesmo assim isso acontece. O América nunca recebeu moeda de casas de apostas. Alguém está ganhando moeda, as bets estão ganhando, o América, não”, informou Joaquim Feitosa, da direção do América, time da primeira partilha do Campeonato Sergipano.
As bets movimentam bilhões de dólares no mundo atuando em apostas esportivas, muitas delas combinadas com a manipulação de resultados de jogos de futebol e ações de jogadores nas partidas. No Brasil, muitas dessas casas de apostas despejam milhões de reais em clubes de futebol e as direções desses times defendem os patrocínios das bets.
“O impacto das casas de apostas sobre os jogadores pode ser devastador. Atletas jovens e inexperientes, frequentemente vindos de contextos econômicos vulneráveis, tornam-se alvos fáceis para manipulações. A pressão para ‘entregar’ jogos ou influenciar resultados não exclusivamente destrói carreiras, mas também compromete suas reputações”, disse o jurisperito do América de Propriá, João Gabriel Teixeira Azevedo, na ação do clube.
Ontem, foi concluída a Percentagem Parlamentar de Sindicância (CPI) no Senado sobre manipulação de jogos e apostas nas bets. “Atletas se tornaram objectivo de investigações por simulação para receberem ‘cartões amarelos’ em favor próprio e de terceiros. Dirigentes de clubes ‘alugaram’ times para servirem a criminosos para a manipulação de resultados. Ex-atletas aliciaram jovens para participar de esquemas criminosos”, disse o senador Romário (PL-RJ). Nascente caso envolve o jogador Lucas Paquetá.
Os escândalos são tantos que o Ministério da Herdade deve lançar um banco de dados vernáculo com cidadãos excluídos pela Justiça ou proibidos pela legislação de apostar em bets. Hoje, pela legislação, técnicos de futebol, jogadores, árbitros, menores de 18 anos e membros de órgãos de regulação são proibidos de apostar. Além dessas informações, o cadastro incluirá quem for proibido por decisão judicial.
Dirigente diz que América pode discutir com as bets
O time do América de Propriá é o terceiro clube mais velho de Sergipe. Em 8 de agosto deste ano, a sociedade completará 112 anos de fundada. Segundo consta em seus documento, é reconhecida uma vez que de utilidade pública sem fins lucrativos e tem o objetivo de promover o esporte na cidade de Propriá. “Na procura pelo desenvolvimento ético desportivo da cidade, visualizou que as casas de apostas não atendem os requisitos éticos e morais que o clube preza”, argumentou o jurisperito do clube.

Joaquim Feitosa disse que até o momento não tem informação de envolvimento de ninguém envolvido em esquemas de apostas envolvendo o América. “Sabemos que muitos clube no país estão com problemas, jogadores. Já tivemos casos cá em Sergipe faz alguns anos. A Polícia Federalista está investigando. Logo, para evitar esses problemas no América e termos um pouco de tranquilidade resolvemos permanecer de fora. Zero contra desportista e contra ninguém”, disse o dirigente do América.
Segundo Joaquim, o América de Propriá espera uma decisão da Justiça Federalista sobre esse caso para o atual campeonato. “Mas se isso não suceder, a ação vai rolar e aí no próximo campeonato isso estará resolvido. A gente tem certeza que o América não vai estar, em hipótese alguma, nessas bets, a não ser, que elas façam um contrato com o clube e nesse contrato sejam discutidas clausulas de valor financeiro. Não tenho nem teoria de valores”, afirmou.
“Quando a morada de aposta utiliza o nome ou a marca de um jogador ou clube sem autorização, ela não exclusivamente infringe direitos, mas também obtém lucro de maneira indevida. Dessa forma, a prática representa uma exploração mercantil que viola tanto as leis de imagem quanto os princípios éticos”, disse o jurisperito do América.