Tarcísio levou ao menos 14 militares do governo Bolsonaro para sua gestão em SP
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O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) levou para cargos do cocuruto escalão do governo paulista ao menos 14 militares que integraram a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Destes, cinco são amigos de Tarcísio há quase três décadas, desde que estudaram juntos na turma de 1996 da Ateneu Militar das Agulhas Negras (Aman).
Os 14 que fizeram secção do governo Bolsonaro são: Wagner Rosário, Arthur Lima, Francisco Rocha Fernandes, Gilson Libório, Marcelo Koboldt, André Porto Rodrigues, Antonino dos Santos Guerra, Ricardo Fernandes do Promanação, Sérgio Codelo Promanação, Marcos Guerson de Oliveira, Ronaldo França Navarro, Edilson José da Costa, Angelo Martins Denicoli e Alexandre Correa Sampaio. Outros dois são colegas da quadra da Aman: Fraide Sales e Ronaldo Leite Ferreira.
Ao contrário do governo Bolsonaro, em que militares que compunham o Executivo muitas vezes usavam farda, gritavam “Selva!” ou se saudavam com continência, os da gestão Tarcísio são muito mais discretos sobre a sua origem. Nenhum deles exige ser chamado pela patente e dificilmente serão vistos com roupas camufladas.
Se Tarcísio costuma ser percebido, aos olhos da opinião pública, uma vez que um réplica de “bolsonarismo light”, ou seja, suavizado, os militares de seu governo representariam também um “militarismo light”. Mas unicamente na frontaria.
Por que isso importa
- O governador de São Paulo levou para o cocuruto escalão do seu governo ao menos 14 militares que integraram a gestão Bolsonaro;
- Embora seja vista uma vez que representante de um bolsonarismo mais “light”, gestão de Tarcísio opera militarização de São Paulo, afirma técnico.
Um dos militares que teve incumbência na gestão Tarcísio é Angelo Martins Denicoli, um dos réus por envolvimento no projecto de golpe de Estado que pretendia reconduzir Bolsonaro ao poder. Ele foi assessor da Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp) e só foi exonerado em seguida ser meta de operação da Polícia Federalista (PF) no ano pretérito. Segundo a denúncia, ele teria editado um documento com informações falsas sobre as urnas eletrônicas e atuado uma vez que intermediário entre quem produzia desinformação e jornalistas e influenciadores que a espalhavam.
Antes de entrar no órgão paulista, Denicoli já dava vestígios de seu comportamento. Ele foi diretor de Monitoramento e Avaliação do SUS durante a gestão de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde. Na quadra, defendia o uso de remédios uma vez que a cloroquina contra a Covid-19 e criticava ministros do Supremo Tribunal Federalista (STF) em suas redes sociais. Foi desligado em seguida suas falas ganharem repercussão.
Para João Roberto Martins Rebento, professor de Ciências Sociais da Universidade Federalista de São Carlos que estuda as relações dos militares com a política, Tarcísio procura se legitimar com esses nomes. “Se um dia ele vier a se candidatar a presidente da República, será visto com bons olhos pelos militares, uma vez que um varão leal às Forças Armadas”, afirma.
“Tarcísio quer parecer um militar mais urbano, mas ele é responsável pela militarização da política em São Paulo. Não só porque tem uma política de cumplicidade com a violência da Polícia Militar, mas também porque labareda militares para o governo”, continua.
Chico Teixeira, doutor honoris razão pelas universidades federais de Sergipe e do Rio de Janeiro e professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Tropa, diz que não há problema em a política ser ocupada por políticos de direita conservadores – uma vez que é o caso de Tarcísio. Mas, sim, quando há atuação que ameace direitos civis e a simetria entre os poderes.
“É o que vemos em casos uma vez que a imposição das escolas cívico-militares e a dissipação das pessoas da Cracolândia sem nenhum zelo com a saúde delas”, afirma. “Tarcísio nunca criticou tentativa de golpe de Jair Bolsonaro, pelo contrário, sempre defendeu o ex-presidente. Portanto não usar farda, não fazer saudação nazista, não xingar repórter, não muda em zero a tarifa política desses elementos.”
Além dos militares das Forças Armadas, o governo Tarcísio também tem ex-policiais militares no primeiro escalão, uma vez que os secretários Guilherme Derrite (Segurança), coronel Helena (Esportes) e Marcello Streifinger (Gestão Penitenciária). A Filial Pública entrou em contato com o governo, que não respondeu até a publicação desta reportagem. Também tentamos contatos com os militares citados por meio das assessorias de prelo de seus respectivos órgãos, mas não tivemos retorno.
Veja outros militares levados por Tarcísio para a sua gestão:
Controladoria Universal do Estado (CGE)
Entre os nomes, está o de Wagner Rosário, atual Controlador Universal do Estado (CGE). Ex-ministro da Controladoria Universal da União (CGU) de Bolsonaro, Rosário é da mesma turma de Tarcísio na Aman. Os dois deixaram o Tropa na mesma quadra e pelo mesmo motivo, em seguida serem aprovados em concurso da CGU.
Em reunião interministerial em julho de 2022, em que ministros discutiram claramente ataques à democracia, Rosário chamou de “uma merda” um relatório da CGU que atestava a confiabilidade das urnas eletrônicas. Naquele momento, a poucos meses da eleição, Bolsonaro martelava a sua tese de que as urnas poderiam ser fraudadas.
Rosário defendeu que seria preciso uma força-tarefa envolvendo a CGU, a PF e as Forças Armadas para auditar as urnas em conjunto. “Aí, não é mais as Forças Armadas falando, são três instituições”, disse. Logo depois, demonstrou receio de que sua fala fosse registrada, e perguntou se a reunião estava sendo gravada. Bolsonaro respondeu que não, mas na verdade estava. Apesar de o vídeo da reunião ter embasado investigações da PF sobre as articulações para a tentativa de golpe, Rosário não foi incluído no rol de investigados.
Outro militar que integra o governo Tarcísio é Gilson Libório, atualmente assessor técnico da CGE. Ele foi o responsável pelo órgão de Perceptibilidade do Ministério da Justiça (MJ) que, em 2020, elaborou um relatório de monitoramento de 579 servidores públicos, incluindo policiais e professores universitários, identificados uma vez que integrantes do “movimento antifascismo” e críticos ao governo. O dossiê levou à exoneração de Libório do incumbência, que passou a ser investigado pelo Ministério Público Federalista (MPF).
Ele era varão de crédito do ministro bolsonarista André Mendonça, que hoje ocupa uma cadeira do STF. Foi nomeado uma vez que assessor quando Mendonça comandava a Advocacia Universal da União (AGU), e depois levado por ele ao ministério.
Ainda na CGE, sob o comando de Rosário, há outros dois militares. Ronaldo Leite Ferreira é dirigente de gabinete do órgão. Ele não fez secção do governo Bolsonaro, mas estudou com Tarcísio na Aman e passou pela Missão de Silêncio na ONU no Haiti, assim uma vez que o governador. O assessor técnico da CGE Marcelo Koboldt foi dirigente de assessoria para assuntos parlamentares da CGU durante o governo Bolsonaro, quando também era subordinado a Rosário.
Vivenda Social
Na Vivenda Social, a pasta mais poderosa do governo, Tarcísio levou três militares de sua crédito. O titular, Arthur Lima, estudou com o governador na Aman. Os dois tiveram trajetórias próximas. Considerado ao mesmo tempo braço-direito e cão de guarda do governador, ele é o responsável por sancionar nomeações em cargos do governo e foi um dos coordenadores da equipe de transição.
Em 2011, quando Tarcísio foi alçado ao incumbência de diretor-geral do Departamento Pátrio de Infraestrutura de Transportes (DNIT), ele logo levou Lima para um dos principais cargos sob sua batuta, o de coordenador-geral de Cadastro e Licitações. Anos depois, já no governo Bolsonaro, quando Tarcísio era ministro da Infraestrutura, Lima galgou vários cargos na Empresa de Planejamento e Logística (EPL), que fazia secção do guarda-chuva do ministério, até chegar à sua presidência.
Lima sobrevive no incumbência mesmo com pressões constantes de aliados do governador, que criticam sua falta de habilidade para fazer articulações políticas. Até Bolsonaro chegou a tentar tirá-lo para colocar no lugar seu ex-ministro da Vivenda Social Ciro Nogueira (PP), mas não teve sucesso.
Ele cogita disputar uma vaga na Câmara Federalista nas próximas eleições. Se filiou ao PP no ano pretérito, mas deixou o partido pouco depois, alegando que “a Vivenda Social é o núcleo do governo” e, por isso, deveria manter neutralidade enquanto tivesse o incumbência. Também é mentor da Companhia das Docas e da Companhia Paulista de Parcerias.
Aquém de Lima, Fraide Sales é secretário-executivo da Vivenda Social, o número dois da pasta. Ele não fez secção da gestão Bolsonaro, mas é colega da turma de Tarcísio e também participou da Missão de Silêncio no Haiti e em cargos de gestão durante os governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
Sales foi incumbido pelo governador de coordenar a renovação da Polícia Social – apesar de ser coronel do Tropa. Isso suscitou críticas de entidades da Social, que veem a situação uma vez que uma mediação militar dentro da corporação. Ele foi nomeado no lugar de Edilson José Costa, também com origem militar.
Ainda na Vivenda Social, Francisco Rocha Fernandes é dirigente de gabinete. Ele foi dirigente da assessoria de informações da usina de Itaipu durante a gestão Bolsonaro.
Chefia de gabinete do governador
André Porto Rodrigues é um dos amigos mais próximos de Tarcísio desde antes de os dois ingressarem na Aman. Em eventos, o governador costuma manifestar que os dois têm “quase 40 anos de amizade”. A proximidade o levou à função mais próxima de Tarcísio: a chefia de seu gabinete. É ele quem organiza a agenda e decide quem entra e sai do escritório do dirigente.
Antes de ser levado para o governo paulista, o coronel trabalhou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro, coordenando eventos e viagens nacionais e internacionais do ex-presidente. Antes, serviu uma vez que assessor no gabinete do ex-comandante do tropa Paulo Sérgio Nogueira – um dos indiciados por tentativa de golpe junto com integrantes do governo Bolsonaro.
Logo que deixou o GSI, em março de 2023, Porto Rodrigues foi nomeado por Tarcísio uma vez que assessor peculiar com designação para chefiar com status de secretário a Gerência de Espeque do Litoral Setentrião. O órgão, temporário, coordenava as ações do Estado em relação às fortes chuvas que causaram mortes e desabamentos no litoral paulista no início daquele ano. Com o termo do prazo de funcionamento do órgão, ele passou ao gabinete do governador. Porto Rodrigues também ganhou a posição de membro do Recomendação Fiscal da Companhia das Docas de São Paulo.
Departamento Estadual de Trânsito (Detran)
Antonino dos Santos Guerra foi recebido em janeiro de 2023 uma vez que diretor de sistemas do Detran, e depois passou para a diretoria de gestão, onde ficou até dezembro daquele ano. Em seguida, passou a integrar a suplência no recomendação fiscal da Prodesp, a empresa de TI do governo.
Foi diretor de Operações do Serviço de Processamento de Dados (Serpro) do governo federalista entre 2019 e 2022, durante todo o governo Bolsonaro. O general comandou o Meio de Notícia e Guerra Eletrônica do Tropa entre 2009 e 2014, quando esteve um período subordinado ao general Augusto Heleno, dirigente do GSI de Bolsonaro e também indiciado pelo projecto de golpe.
Entre 2012 e 2014, Guerra foi um dos responsáveis pelos primeiros contratos com o governo brasílio da Verint Systems Inc., empresa responsável pelo programa de espionagem usado no esquema que ficou publicado uma vez que Abin paralela.
Departamento de Estradas de Rodagem (DER)
Outros três militares que fizeram secção do governo Bolsonaro estão no Departamento de Estradas de Rodagem (DER). O atual superintendente Sérgio Codelo do Promanação tem um histórico com Tarcísio que remonta à quadra em que levante comandava o Ministério da Infraestrutura.
Promanação foi nomeado para ser superintendente do Dnit no Pará, Amapá e São Paulo. Ele ganhou a crédito de Tarcísio em seguida coordenar a pavimentação da BR-163, que liga o Mato Grosso ao Pará, obra que se desenrolava desde a ditadura militar e era vista uma vez que estratégica pelo governo Bolsonaro.
A BR-163 é um dos principais canais de escoamento da produção de soja do Mato Grosso, cortando a floresta amazônica ao longo do Rio Xingu. Mas a construção teve um efeito devastador: um ano depois da entrega da obra, em 2021, o desmatamento havia subido 359% ao seu volta.
Além de Promanação, o DER também abriga o assessor de ouvidoria Ronaldo França Navarro, que na gestão Bolsonaro ocupou cargos na Assessoria Próprio da Presidência, Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Ministério da Cidadania e Vivenda Social. E o coordenador de Operações Viárias Ricardo Fernandes do Promanação, que foi dirigente de Estudo Técnica da Polícia Rodoviária Federalista em São Paulo em 2021.
Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU)
Edilson Veiga da Costa, que foi o número dois da Vivenda Social antes de Fraide Sales, foi alocado por Tarcísio na direção do Instituto de Medicina Social e de Criminologia e, depois, uma vez que diretor-presidente da EMTU, que gerencia os ônibus de São Paulo. A empresa teve seu processo de extinção iniciado levante ano, e Costa é o responsável pela liquidação.
Instituto de Pesos e Medidas de São Paulo (Ipem)
Marcos Guerson de Oliveira, atual presidente do Ipem, foi presidente do Inmetro durante o governo Bolsonaro. A nomeação ocorreu em seguida o ex-presidente livrar toda a diretoria por discordar de uma decisão do órgão, em fevereiro de 2020. Na quadra, o Inmetro havia publicado uma portaria para substituir tacógrafos (instrumento que registra dados sobre a meio de veículos, uma vez que intervalo percorrida e velocidade). Segundo o ex-presidente, a troca seria rosto e iria prejudicar os taxistas.
Oliveira Junior também é da superfície de Engenharia, uma vez que Tarcísio, e participou da Missão de Silêncio no Haiti. O Ipem é órgão mandatário do Inmetro no estado.
Companhia das Docas de São Sebastião
Alexandre Correa Sampaio é o diretor-presidente da Companhia das Docas de São Sebastião. Ele foi diretor de gestão portuária da Companhia das Docas do Pará durante o governo Bolsonaro, órgão vinculado ao Ministério da Infraestrutura, portanto comandado por Tarcísio.