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Chacinas e violência policial marcam Londrina, no Paraná - Mundo News
25 de Julho, 2025

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Chacinas e violência policial marcam Londrina, no Paraná

9 min read
Na segunda cidade mais populosa do estado, mortes causadas por policiais têm crescido, e também protestos...

No dia 7 de fevereiro de 2024, a Polícia Militar do Paraná foi acionada para atuar contra um suposto “tribunal do transgressão” do PCC em Londrina, município de muro de 570 milénio habitantes no setentrião do estado. A ação no bairro Jardim Felicidade, na zona setentrião da cidade, terminou em uma chacina: seis mortos. Os agentes alegam que foram recebidos a tiros e por isso tiveram de atirar primeiro. Familiares das vítimas contestam essa versão e pedem justiça.

Ao invés de ser um caso solitário, a chacina no Jardim Felicidade reflete a violência policial na cidade. Em 2024, Londrina registrou 49 mortes por policiais. Isso significa que uma a cada dez mortes cometidas por agentes no estado naquele ano aconteceram em Londrina.

As forças policiais do Paraná costumam comparecer nos levantamentos nacionais porquê a quinta que mais mata no país, o que parece originário, já que é também o quinto estado mais populoso.

Todavia, nos últimos anos, as polícias paranaenses têm matado mais que as gaúchas e mineiras – sendo que a população de Minas Gerais (21,3 milhões) é quase o duplo da do Paraná (11,8 milhões).

Aliás, as mortes por policiais no estado têm aumentado. Um levantamento preparatório feito pelo Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do Ministério Público do Paraná (MP-PR), a pedido da Filial Pública, mostra que as forças de segurança do estado mataram 7% a mais no primeiro semestre de 2025 em confrontação ao mesmo período de 2024. Foram 217 mortes em 2025, contra 202 no ano anterior.

Por que isso importa

  • Londrina, segunda cidade mais populosa do Paraná, tem sido palco de diversas ações policiais com mortes, inclusive chacinas.
  • Subprocuradoria de Justiça tem reaberto casos e indigitado falhas graves e contradições em inquéritos policiais.

Os dados seguem uma tendência observada nos últimos anos. Em 2024, por exemplo, o estado registrou 413 mortes, um aumento de 19% em relação a 2023. Os números consolidados são divulgados exclusivamente uma vez por ano pelo Gaesp, que, junto com o Grupo de Combate ao Delito Organizado (Gaeco), é responsável pelo controle extrínseco das polícias.

O oferecido do Gaesp é um pouco dissemelhante do levantado pelo pelo Fórum Brasílico de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta quinta-feira, 24 de julho. Segundo o 19º Anuário Brasílico de Segurança Pública, o Paraná teve 400 mortes por mediação policial em 2024, 17% a mais que no ano anterior. Na proporção com a população, isso coloca o estado detrás exclusivamente do Rio de Janeiro nas regiões Sul e Sudeste.

O anuário traz também outra informação preocupante sobre a atuação das polícias paranaenses. Das 10 cidades brasileiras do qual número de mortes por ação policial ultrapassa metade do totalidade de mortes violentas, duas estão no Paraná – e justamente na Região Metropolitana de Londrina: Cambé e Arapongas.

A reportagem encaminhou uma série de perguntas à Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) do Paraná sobre as mortes decorrentes de mediação policial. O órgão não respondeu diretamente às questões enviadas. Por meio da assessoria de prelo, afirmou que as forças de segurança seguem “rigorosos protocolos de treinamento para o uso escalonado e diferenciado da força”.

Ainda segundo a nota, “situações de confronto armado são um risco metódico enfrentado pelas polícias em todo o mundo, principalmente no combate ao transgressão organizado e na proteção da população”. De congraçamento com a Sesp, a polícia paranaense só utiliza arma de queimação porquê último recurso, diante de “agressões injustas” aos agentes.

A assessoria também citou uma série de números, destacando que os indicadores de violência no Estado estão no mais grave patamar da série histórica. Leia a resposta na íntegra.

“Disseram que iam estourar a cabeça da gente”, diz mãe de jovem morto em chacina em Londrina

Entre os seis mortos da chacina do Jardim Felicidade de fevereiro do ano pretérito, estavam João Victor Santos, portanto com 28 anos, e Kauan de Oliveira, com 20. Márcia Oliveira, mãe de Kauan, e João Santos, pai de João Victor, integram o movimento Justiça Por Almas – Mães de Luto em Luta. Eles descrevem momentos de desespero ao tentar identificar os filhos e criticam a forma porquê foram tratados pela PM no sítio.

“Disseram que iam estourar a cabeça da gente se tentássemos entrar”, denuncia Márcia. Segundo ela, a dor foi agravada pelo tratamento oferecido pela prelo sítio. Um apresentador acendeu velas pretas em estúdio e chamou os mortos de “capetas”.

João Victor trabalhava havia três anos com carteira assinada numa grande rede atacadista e não tinha passagem pela polícia.“Não durmo recta. Qualquer fragor me faz imaginar que ele está chegando do trabalho. Quando vejo os passarinhos dele, a saudade aperta”, lamenta o pai.

Segundo o jurisperito das famílias, Mauro Martins, João Victor havia saído para comprar uma Coca-Cola para comemorar seu natalício na vivenda. Quando voltou, foi atingido.“Era um jovem trabalhador, sustentava a vivenda, e não tinha antecedentes”, afirma. Segundo ele, um dos seis homens estava dormindo quando foi morto.

A investigação do caso ainda está em curso. O jurisperito afirma que testemunhas negam confronto e que uma reprodução simulada dos fatos foi solicitada.

O caso não foi a primeira chacina em Londrina. No dia 30 de janeiro de 2016, depois da morte de um PM, a polícia matou 12 pessoas pela cidade numa mesma noite. O caso ficou sabido porquê Noite Sangrenta.

Morte de jovens no início do ano levou a protestos por toda a cidade

Em 15 de fevereiro deste ano, a morte de dois jovens balançou Londrina. Wender da Costa, de 20 anos, e Kelvin dos Santos, de 16, moradores da comunidade Nossa Senhora da Sossego, conhecida porquê Favela da Bratac, na zona oeste da cidade, haviam trabalhado o dia inteiro no lava-jato de Wender, na própria Bratac. À noite, saíram com o sege de um cliente para buscar cerveja em uma conveniência no bairro vizinho. Depois deixarem o estabelecimento, foram abordados pela polícia. Segundo os agentes, eles teriam descido do sege armados, motivo pelo qual efetuaram os disparos.

A reação às mortes de Kelvin e Wender fugiu ao padrão. A revolta das mães, Cirlene Vieira dos Santos e Vanessa Pereira da Costa, junto ao base de amigos e movimentos sociais, ganhou força, principalmente porque os dois jovens não tinham antecedentes criminais. Para as mães, a polícia sabe que errou ao matar inocentes — e tenta retaliar a comunidade pelas denúncias.

Cirlene nasceu e cresceu na Bratac. Ela lembra de um pretérito marcado por disputas entre facções. “Era guerra de favela contra favela. Meu cunhado morreu com um tiro perdido, aos 14 anos.” Hoje, diz que o bairro é outro.“Agora quem nos amedronta é a polícia. Pai de família não pode mais tomar uma cerveja na lajedo. Se a viatura aparece, já xingam, mandam extinguir a luz e entrar. Parece que não querem que a gente viva cá.”, afirma.

Vanessa, mãe de Wender, reclama que o rebento foi tratado porquê marginal por vereadores da cidade. “E mesmo que fosse — o que não era —, ninguém merece ser executado. O Brasil não tem pena de morte.”

Dois dias depois da operação policial, a cidade foi tomada por protestos em pelo menos quatro pontos diferentes. “Não foi confronto, foi realização”, gritavam os manifestantes. Um ônibus do transporte coletivo chegou a ser incendiado, e a prefeitura pediu reforço ao governo do Estado para sustar a crise.

Desde portanto, moradores da Bratac denunciam intimidação por secção da polícia. Viaturas passariam sempre pelo bairro e há relatos de doesto. Em 14 de março, um vídeo mostrou um policial dando um tapa na cabeça de um jovem. No dia 29 do mesmo mês, outro vídeo registra uma viatura sendo jogada contra moradores.

No final de semana de 19 de julho, policiais voltaram à comunidade e ordenaram o término de uma sarau de natalício. A versão da PM é de que um traficante teria chutado a viatura, e por isso os agentes precisaram entrar no sítio para prendê-lo. A ação terminou em confronto, com uso de balas de borracha e spray de pimenta. Uma moçoila de 13 anos foi atingida no rosto e precisou ser levada ao hospital.

Subprocuradoria de Justiça reabre casos e policiais passam a réus

O progressão da mortalidade policial no Paraná levou à geração do Movimento Justiça Por Almas – Mães de Luto em Luta, do qual participam os pais de João Santos e Kauan de Oliveira mortos na chacina em Londrina no bairro Jardim Felicidade. Fundado em 2022 por familiares de jovens mortos em ações policiais, o grupo denuncia o que considera execuções sumárias justificadas porquê “confrontos” reunindo relatos, dados e dossiês.

“Há uma política de higienismo social por trás de secção dessas mortes”, afirma Haydee Melo, coordenadora do movimento. Ela perdeu o sobrinho Willian Jones, de 18 anos, morto com o colega Anderbal Júnior, de 21, por PMs que dispararam 50 tiros contra o sege onde estavam os jovens. O caso deles é um dos reabertos recentemente pela Subprocuradoria-Universal de Justiça para Assuntos Jurídicos (SubJur), órgão de segunda instância do MP do Paraná.

Ao todo, foi determinada a reabertura de oito inquéritos sobre mortes provocadas por policiais desde maio de 2024. Em um dos casos, policiais antes inocentados passaram a responder porquê réus posteriormente a revisão que encontrou falhas graves e contradições nos inquéritos.

Por lei, toda morte por mediação policial deve ser investigada. O processo começa com o Boletim de Ocorrência, geralmente preenchido pelos próprios policiais, que alegam reação armada das vítimas e justificam os disparos porquê legítima resguardo. Em muitos casos, relatam ter retraído as armas por entenderem que as vítimas ainda representavam risco, mesmo feridas. Essa prática compromete a cena do transgressão. 

Por exemplo, as armas entregues pelos policiais posteriormente as mortes de Kelvin e Wender não tinham marcas de sangue, mesmo com vítimas baleadas mais de dez vezes. Houve também casos com indícios de tiro à queima-roupa ignorados nos pedidos de arquivamento. A SubJur apontou até dez falhas num único sindicância.

O promotor Ricardo Casseb Lois, do Gaesp/MP-PR, diz que esse tipo de revisão, embora originário, ganhou mais visibilidade com a novidade legislação — a chamada Lei Anticrime — que exige que familiares das vítimas sejam informados antes do arquivamento de um caso. O STF determinou que o pedido de arquivamento também seja submetido à estudo do Judiciário, com possibilidade de queixa por familiares.

Todavia, o promotor destaca que um dos principais entraves para o progressão das investigações, segundo o promotor, é a dificuldade em localizar e ouvir familiares das vítimas. “Muitas famílias não sabem que podem se manifestar, e há também o susto de represálias”, afirma. Para tentar superar esse travanca, o MPPR está testando uma plataforma do dedo para facilitar o envio de denúncias e documentos, garantindo sigilo e orientação.

Para o deputado federalista Tadeu Veneri (PT-PR), integrante da Percentagem de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e ex-deputado estadual, há uma série de fatores que explicam a subida mortalidade policial no Paraná: a escassez de câmeras corporais, a impunidade promovida por corregedorias e pelo Ministério Público, a falta de comitiva psicológico e as precárias condições de trabalho dos policiais.

“Há também uma promiscuidade, ainda que não generalizada, entre setores da polícia e o transgressão organizado. “O governo do estado incentiva a violência. Os números cresceram de forma exponencial nos últimos anos”, denuncia o parlamentar.

O deputado estadual Renato Freitas (PT) também atribui à gestão estadual de Ratinho Júnior (PSD) a postura agressiva dos agentes de segurança. Ele relata ser frequentemente indiciado por colegas de proteger criminosos.“Para eles, os ‘bandidos’ são sempre os pobres e os pretos moradores da periferia”, afirma.

Pré-candidato à presidência, Ratinho anunciou em junho o que chamou de maior contratação de policiais civis do Estado, com 620 novos agentes.

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