“Foi a prova mais difícil de organizar em 20 anos de experiência que tenho”
6 min read“Foi a prova mais difícil de organizar em 20 anos de experiência que tenho em realizar provas automobilísticas. Se não foi a mais difícil, foi seguramente das mais difíceis”. Foi logo que, ao NC, o presidente do Clube Carro do Minho (CAMI), Nuno Loureiro, resumiu a Rampa da Serra da Estrela disputada no pretérito fim-de-semana, sob condições meteorológicas muito adversas, nomeadamente chuva e nevoeiro, que levaram a algumas críticas, até do próprio responsável do CAMI.
No domingo, em seguida a entrega de troféus, Nuno Loureiro deixou muito evidente que, “com condições destas, e datas destas, não nos convidem”, explicando ao NC que rejeita as críticas feitas pelo público, alguns pilotos ou outras entidades, à organização, quanto à data da realização da prova. Que habitualmente decorria no final de maio, ou início de junho. E que nascente ano, sendo em outubro, acabou por ver São Pedro pregar-lhe uma partida.
“Custa-me, muitas vezes, ouvir certas críticas. Fazemos um esforço enorme para realizar esta prova, e às vezes, as pessoas acabam por ser injustas connosco. Mas somos muitas vezes mais covilhanenses que os covilhanenses” frisa Nuno Loureiro, destacando a vontade do CAMI em manter uma prova que é “mítica”.
O responsável explica o porquê da prova, nascente ano, ter sido em outubro. Segundo ele, no início do ano, os pilotos pediram à Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK) que o calendário do Campeonato Vernáculo de Serra decorresse entre março e outubro. “Sempre disse para ter zelo e atenção em mexer na data da realização, habitualmente finais de maio, início de junho, face às características muito peculiares e especiais da Serra da Estrela. Que não se poderia mexer na data. Mas mostrei logo que estaríamos disponíveis para realizar uma prova que outros não querem fazer. Foi marcada para abril. Avisei que esse era um mês propício à queda de neve, o que acabou por suceder. Daí ter transitado para outubro” explica.
Nuno Loureiro recorda que o calendário é definido pela Federação. “O CAMI é alheio a isso. Avisei que isto poderia suceder. Mas também ninguém estava à espera de tão mau tempo. Eu próprio subi a Serra e consegui colher, num pequeno espaço de tempo, as quatro estações” lembra. O presidente do CAMI elogia que, apesar do mau tempo, tenha havido muito público. “Esta é uma prova única e o público merecia muito mais. Para mim, a profundidade ideal para fazer a Rampa é em junho. Penso que a Federação, depois deste ano, não vai percorrer riscos para o ano” afirma.
Público presente… mesmo à chuva
Nuno Loureiro salienta que nascente ano, face ao mau tempo, “não foi bom para ninguém”, nem para pilotos ou aficionados, acredita que no próximo ano a Federação mude a prova “lá para finais de junho”, mas também deixa evidente que, a manter-se num mês menos favorável, o CAMI repensará muito a sua realização. “Se 15 dias antes estiver mau tempo, ou houver perspetivas disso, não fazemos a prova” avisa.
Apesar do mau tempo, houve público, mas muitas queixas quer de pilotos, público ou outras entidades envolvidas no evento. O nevoeiro concentrado que muitas vezes se fez sentir esteve no cerne da discórdia, tendo mesmo sido suprimida a segunda subida solene marcada para sábado à tarde, que transitou para domingo. Ou seja, em vez de três, houve somente duas subidas oficiais. Mas a mudança de maio para outubro foi o níveo principal. “Deviam pensar nisso quando mudaram o calendário. Sempre foi em maio. Terem conseguido subir foi uma sorte” frisa António, prosélito que sempre acompanha a prova, e mais uma vez foi à Serra ver os pilotos. Tal porquê os resistentes de um grupo que defende ser “rampomaníaco”, de Orjais, que se deslocou à Serra para ver os pilotos, sempre com o petisco e as cervejas na lancheira, mas montando uma tenda para se homiziar da chuva. Mas o mau tempo reduziu o grupo de mais de uma dezena para três elementos. “Costumamos ser 10 a 15. Levante ano, só três. Está mau” diz João Sousa, um dos elementos.
No final, o vereador da Câmara da Covilhã com o pelouro do desporto, José Miguel Oliveira, fazia um balanço “positivo” apesar das condições climatéricas adversas e de alguns “toques” que houve e atrasaram esta edição. Oliveira lembrou que o fim-de-semana de uma das rampas mais antigas do Campeonato Vernáculo de Serra é “sempre de sarau”, mas nascente ano, um pouco “mais cinzenta” face à chuva.
Nuno Loureiro também realça que, mesmo nestas condições, não houve grande incidentes. “Houve somente uma situação um pouco mais complicada para um viatura que ficou inutilizado” afirma. O balanço, pelo final, acaba por ser positivo, mas “não tão bom pelas condições que tivemos”. O responsável elogia que, ainda assim, houvesse público nas encostas da rampa entre o Santos Pinto e o Hotel Serra da Estrela (velho sanatório dos ferroviários), mas lamenta “o risco” que quer o clube, ao organizar, quer os pilotos, ao competirem, correm. Nestas condições. Sobretudo, devido ao nevoeiro. “Acho que não vale a pena. A Rampa merece muito mais. Levante é dos melhores traçados que temos a nível pátrio e espero que em 2025 isto se corrija, para termos cá a verdadeira sarau da serra, que é isso que nós queremos” frisa Nuno Loureiro.
Entre responsáveis de algumas equipas, críticas também à desigualdade competitiva criada pelo mau tempo. Ou seja, alguns pilotos a subirem com nevoeiro concentrado, e outros não. Com uns a serem prejudicados, e outros, não.
Sainhas fecha “bis” no campeonato dos clássicos com vitória
Já no campo desportivo, ou seja, em termos classificativos, Flávio Sainhas, piloto covilhanense, que já tinha assegurado a conquista (pelo segundo ano contínuo) do campeonato em Clássicos de Serra, venceu na sua categoria.
O piloto do Ford Escort MK1 azul recém-nascido deu show pelas curvas do traçado, mas também reconheceu que o nevoeiro foi o mais complicado mesmo para quem corria em morada e sabia o traçado “de cor e salteado”. “À chuva já estamos habituados, agora o nevoeiro torna-se complicado e perigoso. Ficamos praticamente sem ver a estrada, e tentamos andejar sempre o mais rápido verosímil” avisou aquele que é alcunhado de “Diabo da Covilhã”, depois de compreender na Rampa da Serra da Estrela a sétima vitória da temporada.
Na prova principal, na universal absoluta, o vencedor foi José Rodrigues, em Porsche 911 GT3 Cup. Vítor Pascoal, também em Porsche 911 (e já tetracampeão), foi segundo e Hélder Silva, em Ossela PA21, terceiro.
Na Taça de Portugal Monolugares de Serra, Nuno Quinteiro alcançou o primeiro lugar e João Saraiva conquistou o segundo. Os dois pilotos são covilhanenses, mas participaram pela Funspeed, equipa do Fundão, que é autora e obreiro do monolugar. No final da prova, os dois pilotos manifestaram o interesse de estarem a tempo inteiro na quadra de 2025 e tentarem atrair mais pilotos a esta Taça de Portugal.
Destaque ainda para os covilhanenses Gonçalo Antunes, quarto classificado, Alberto Rodrigues, quinto, e Carlos Ramos, sexto, na categoria Campeonato Portugal Legends de Serra, ganha por António Barros, em BMW.
Recordar que a Rampa da Serra da Estrela fechou, esta temporada, o Campeonato Vernáculo de Serra.