O caçador
2 min readAs paredes de algumas típicas tabernas portuguesas estão cobertas de azulejos reproduzindo expressões da linguagem popular. Uma das mais engraçadas – “não é permitida a ingresso a caçadores, pescadores e outros mentirosos” – reflecte muito uma certa forma de ser português, tendência para o excesso e para impressionar os outros com os (quase) feitos próprios. Sim, porque na maioria das vezes em que “te atiras aos animais vens de mãos a agitar”. No mar porquê no mato. Tipo encantadores de sarguetas e de perdizes. Há muito que deveríamos mudar o texto, dar uma “segunda demão” ao escrito e alargar o espectro da mensagem. Exagerar, tentar impressionar com feitos que nunca foram feitos é a operosidade preferida de muitos políticos em Portugal. Não todos naturalmente, sobretudo os profissionais que vão trilhando o seu caminho através dos labirintos partidários. Dir-se-á que esta é uma propriedade transversal ao resto do mundo. Pode ser. Por cá, a figura do “chico-esperto” está muito mais vincada, e isso naturalmente prende-se com a “pobreza” da ensino e formação que vão passando de geração em geração, e ao contrário do que muitas vezes se sugere, de que somos um povo que não se deixa governar, é justamente o contrário. “Papamos” tudo o que nos põem avante. Neste caso, entenda-se por político, aquele que sai para a caça, e regressa a lar com dois coelhos sem pele, pendurados à cintura, e momentos antes comprados no talho. Enganar descaradamente, sem um pingo de vergonha, porquê se mentir fosse a coisa mais proveniente na existência do ser humano, é o que nas últimas semanas mais têm feito, a propósito do orçamento de Estado, da imigração, e de outros derivados, alguns líderes políticos.
Da esquerda à direita, do governo à oposição, os partidos, com a concordância do Presidente da República e o gozo da notícia mediática que se vai divertindo em prol das audiências com informação barata, têm feito dos principais interessados na segurança e no desenvolvimento parcimonioso e social – os portugueses – bonecos de um teatro de fantoches. Uma vez que se houvesse dois países. O dos partidos políticos, e o outro, o nosso. Eles lá vão defendendo os seus interesses, alimentando os seus “lobbies”, servindo as suas plateias, e nós pacientemente à espera que chegue o dia em que eles, distribuam o pão de forma equitativa. É bom que de uma vez por todas saiamos da toca, fujamos do caçador e olhemos para nós, para a cidade onde moramos, para o país que queremos. Olhemos de lado para a política partidária, mudemos o aviso e façamos deste, um pais mais verdadeiro. Com menos enganos.
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